quarta-feira, 30 de julho de 2014

Belô! Belzonte! Belorizonte! - poema by LdeM






Belô! Belzonte! Belorizonte!

a cidade dos mil-e-um bares
onde jaz a geografia sentimental de Nava

a cidade do sempre subir-e-descer
onde aponta o dito de Mendes Campos

a cidade entre a Floresta e a Bahia
onde enxameiam os soluços da boemia

a cidade dos luares & bazares
onde o noturno encantou o Mário

a cidade do tabuleiro de xadrez
onde trilham passos dos Drummonds

a cidade das praças para puxar-angústia
onde se perdiam os jovens amigos de Sabino

a cidade dos mil-e-tantos literatos
que logo arrumam suas malas rumo ao Rio

a cidade dos novos poetas
atentos ao calendário dos concursos

a cidade dos dois mil turistas
que buscam descanso antes de Tiradentes e Inhotim

a cidade no alto das alterosas
onde se vê a igreja no mar de morros


a cidade de novenas-quermesses-quadrilhas
onde ainda se ouve os sinos das igrejas

a cidade dos bons políticos mineiros
de mãos dadas com Campos & Juscelino

a cidade entre Bias Fortes e Afonso Pena
cheia de candidatos ao Palácio of Liberté

a cidade-maquete dos prédios-caixotes
e dos prédios-curvas de Niemeyer

a cidade dos bares cantinas sebos
livrarias lan-houses PFs do maletta

a cidade de alguma memória biônica
onde procriam museus arquivos acervos

a cidade verdadeira selva-de-concreto
com as carrancas dos índios no edifício

a cidade-monumento dos pontos turísticos
com as carrancas dos fundadores no parque

a cidade que antes era jardim
agora exibe seu perfil de prédios

a cidade da parisiense Plaza de la Liberdad
onde os casais trocam juras entre rosas

a cidade dos românticos flâneurs
onde os seresteiros foram asilados

a cidade da geração da esquina
onde cada músico tem seu clube

a cidade do Falabella-enciclopédia-do-rock
das bandas de garagem dos shows no porão

a cidade-celeiro de bandas exportáveis
com acordes & urros de sepultura overdose eminence

a cidade do nada-modesto show-business
com o som pop de skank pato fu jota quest

a cidade dos mil-e-tantos torcedores
azuis-celestes e alvinegros colecionando gols

a cidade dos mil e um bordéis
onde o sujo fala do mal lavado

a cidade dos novos cowboys high-tech
em boates inferninhos com som caipira

a cidade-vitrine de mil megaeventos
entregue às exposições feiras shows congressos

a cidade dos tantos jornais
onde os novos autores almejam a imprensa oficial

a cidade dos prestativos funcionários
a trocarem memorandos & fofocas ao café

a cidade das rádios bregas
onde os locutores se acham moderninhos

a cidade da classe média em ascensão
onde os ladrões de carro não param

a cidade-capital que se acha metrópole
cercada de pacatas cidades-dormitório

a cidade desenhada-planejada-setorizada
que se percebe um caos urbano

a cidade das faculs & barzinhos
com a peãozada ébria de axé samba rock

a cidade do brumoso horizonte
onde a fuligem já cobriu a beleza

a cidade-tabuleiro de amplas avenidas
já sufocada entre Praça Sete e Savassi

a cidade em camadas pra-cima & pra-baixo
em viadutos elevados túneis trincheiras

a cidade-curral dos reis & tropeiros
onde a aristocracia tem bom-gosto burguês

a cidade das musas social-estatistas
onde o capitalismo brilha em cada vitrine

a cidade da prometida sorte-grande
onde faturam bingos lotéricas caça-níqueis

a cidade do troca-troca & leva-e-traz
povoada de catadores topa-tudos carreteiros

a cidade mais parece um paliteiro
com suas torres-ninhos de telefonia

a cidade que deseja ser cartão-postal
convivendo com o esgotão da pampulha

a cidade de estádio renovado padrão-fifa
onde a seleção canarinho vence nos penâltis

a cidade de hotéis pousadas albergues
povoados de gringos & hermanos & emigrés

a cidade da exemplar (i)mobilidade
sobrevive sem metrô & engole BRT

a cidade de moderna (i)mobilidade
onde viaduto nem-inaugurado desaba na tarde

a cidade palco do incremente mineirazo
quando canarinho levou goleada de sete.


Jul/14

Leonardo de Magalhaens


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