segunda-feira, 26 de maio de 2014

poemas (deveras?) autobiográfico






poema (deveras ?) autobiográfico


pois era uma casa
muito engraçada
comprava tudo e tinha nada

não tinha macarrão
comprava o leite

não tinha feijão
comprava o óleo

não tinha arroz
comprava a fralda

comprava o pão
faltava a manteiga

comprava o macarrão
faltava o pomarola

não tinha ovo
comprava o queijo

fizeram a garagem
faltava o carro

comprava o carro
esquecia o pneu

não tinha mucilon
comprava o toddy

acabava o bombril
comprava a gillette

sobrava o cabelo
faltava o xampu

fizeram a lasanha
esqueceram o tempero

comprava o arroz
faltava o feijão

comprava o feijão
acabava a carne

comprava a carne
faltava a salada

comprava a batata
faltava a maionese

comprou o hamburguer
esqueceu o catchup

comprou o jeans
faltou a meia

chegou o bebê
faltou o berço

comprou o sapato
faltou o cinto

tinha a toalha
faltou a calcinha

tinha a sandália
esqueceu a saia

tinha salsicha
mas queria frango

tinha gelatina
mas queria bombom

tinha pão de queijo
queria broa

chegou o pão
acabou o queijo

chegou o toddy
acabou o leite

abriu a geladeira
acabou o gelo

bebeu o café
sem açúcar

comeu o pão
sem margarina


25mai14


LdeM







terça-feira, 13 de maio de 2014

2 contos de Guto Amaral





Guto Amaral

#104


Dos bancos

É tudo muito confuso, eu me lembro dos tempos incertos das pilhagens, ou melhor, eu me tempo dos tempos em que um homem tinha algumas certezas na vida. Nós sabíamos que morreríamos cedo e provavelmente de alguma forma violenta, mas nós sempre sabíamos que eram os mocinhos e quem eram os bandidos da história.

Não da maneira que os livros de história contam, mas nós sabíamos que soldados eram ruins, apesar de uns menos ruins do que outros, e que gente honesta sofreria pois assim era o mundo. Mas acima de tudo nós sabíamos dos sanguessugas que engordavam os celeiros e então nós apenas os ajudávamos a esvaziá-los para que eles pudessem tornar a encher.

Por algum ofício das artes negras, ou mesmo por um castigo divino eu acordei quase trezentos anos depois, e o estado de decadência na qual eu encontro os seres humanos é absurdo. Nem o mais pessimista dos videntes de minha época imaginaria que nós desceríamos tanto. Eu não sei bem explicar como tudo aconteceu, mas em algum ponto nós perdemos nossa referências, talvez pela nossa própria ignorância, talvez pela inteligência dos sanguessugas abastados.

É estarrecedor ver como no lugar legado pelos poderosos Vikings, os selvagens Hunos, os organizados Centuriões, foi ocupado sem cerimonia e nem honra por ladrões descarados, porém muito inteligentes. Custou-me muito compreender porque eles deixaram de pilhar os gordos castelos entulhados de riquezas suntuosas e passaram a pilhar os pobres que muito pouco ou nada tinham, mas uma vez que compreendi o tamanho e a ousadia dos planos.

Em vez de roubar os poucos abastados que mantém a maior parte da fortuna mundial, eles uniram a eles e criaram um sistema que possibilitava roubar o pouco que os mais pobres possuíam, mas roubar de todos ao mesmo tempo o que possibilitou grandes lucros. Enquanto isso a classe abastada garantiria toda a segurança e legalidade do processo, por uma pequena taxa é claro.

Com isso cada pessoa era pilhada não mais nas colheitas como fazíamos e recolhíamos o excedente dos abastados, mas mensalmente e continuamente, criando uma espécie de torpor que mantém a todos semiconscientes do que acontece. Sua técnica é tão eficiente que eles até fazem vídeos em coisas chamadas televisões mostrando as vantagens de se deixar roubar por este ou aquele grupo.

O acordo que eles oferecem é simples, você entrega seu dinheiro a eles, e eles vão dilapidá-lo aos pouquinhos para que você não tenha a sensação de estra sendo roubado. Para aqueles inocentes que tentam escapar da armadilha, a burocracia, falhas de sistema e contratos com governo e empregadores, tornam impossível qualquer forma de fuga.

Esses ladrões tão eficientes quanto descarados chamam sua guilda de Sistema Financeiro Internacional. Mais que os Cruzados, os Reis absolutistas ou os loucos czares russos, os bancos, estes sim, me fizeram ter vergonha de ser ladrão.



Guto Amaral – 14/04/14




#105

Dos bancos II – A origem

A reunião fora chamada às pressas e de surpresa. A guerra tinha chegado a um nível crítico e novas diretrizes eram necessárias para a vitória final. Os comandados de Lúcifer não estavam acostumados a serem convocados a não ser por meio da chibata. Seu chefe não saberia ser gentil nem se ele quisesse, e ele nunca queria. Ainda sim desta vez emissário foram utilizados e a chibata descansou. O chefe estava de muito bom humor.
 
Desta vez havia até uma sala de reuniões, com cadeiras e tudo o mais. A princípio todos estranharam aquilo e ninguém quis se sentar, mas a uma ordem do chefe todos se sentaram. A reunião começou com os balanços de guerra com ótimos números. Quantas almas arrebatadas, quantos genocídios realizados, o ódio se espalhando pelo mundo, a fome e a miséria disseminadas, mas ainda assim, interveio o chefe: - Os caras lá em cima estão muito calmos, nós estamos dando uma lavada neles e eles com toda a banca de durões. Tem alguma coisa que nós não estamos conseguindo ver.

Um analista demoníaco júnior apresentou sua análise em um relatório muito extenso e cheio de gráficos: - São as igrejas, por mais que nós os curvemos, eles sempre se voltam para o alto. Eles frequentam as igrejas semanalmente sem nem saber por que, mas lá a conexão com o alto é refeita e nosso trabalho perdido.

- É isso, inflamou o chefe, precisamos criar o nosso próprio templo. Um lugar que inspire às pessoas medo, ódio, raiva, impotência, frustração, que os faça perder a fé em tudo e em todos.

Neste momento o mesmo analista demoníaco júnior iniciou uma apresentação de powerpoint com sua proposta. Basicamente ela consistia em uma instituição que tomaria do homem aquilo que ele mais amasse no mundo. Depois o prendesse em um labirinto burocrático que o fizesse compreender que jamais teriam de volta seu amado tesouro, mas sem nunca fazê-los perder totalmente a esperança.

- A princípio nós pensamos em um campo de concentração para as famílias, mas isso causaria muita comoção e até aumentaria a fé deles. Depois chegamos à conclusão que p que os homens realmente gostam é de dinheiro e inventamos algo chamado Banco. Nós os reduziremos a pó e sua fé deixara de existir.

Neste momento, milhas acima, um anjo observa tudo e pergunta a Deus:

- O que nós vamos fazer senhor? Temos que detê-los a qualquer custo.

- Calma, meus filhos não são tão burros de se deixar prender por uma ideia boba como essa. Porque você daria todo o dinheiro que você ganhou arduamente para uma instituição que só quer lhe prejudicar. Guarde minhas palavras, esse tal de banco nunca dará certo.

Guto Amaral – 15/04/2014


fonte : facebook / guto amaral / um texto por dia






Guto Amaral é jornalista, poeta, contista, professor de english, organizador de saraus, autor de Tudo de Eu que há em Mim (poesia). Reside em Betim/MG.