terça-feira, 29 de dezembro de 2015

É o fim - poema by LdeM





É o fim

luzes espuma fumaça
corpos sobre corpos
as bocas se beijam
as mãos atraem gozo
na entrega de paixões
na música enlatada
os flashes de sustenidos
as batidas digitais
de ritmos desritmados
ébrios até a insanidade
em excesso de excessos
sob luzes tremores
em redemoinhos visuais
os vórtices de sensações
os turbilhões de desejos
(todos insaciáveis!)
um embriagar sem-fundo
para fugir do medo!

§

as máfias promoendo
o tráfico de mercadorias
o tráfico de pessoas
adulteração falsificação
acúmulo de contâiners
excesso de produção
os servidores servos escravos
nas linhas de montagem
os menores acorrentados
às máquinas impiedosas
esgotam-se até o cerne
na orgia de fuligem
do mundo industrial
produzir para consumir
envenenar poluir
falsificar contrabandear
traficar para consumir!

§

da produção insana
- o que será do lixo? -
com reciclagem zero
o acúmulo de restos
colinas de lixo tóxico
aterros de tumores
de fumaça empestiada
refugos contaminados
sepultura de venenos
depósito de detritos
escoamento de resíduos
poluindo águas fundas
hecatombe bioquímica
fertiliza mutações
ulcerando gerações!






§

o tráfico de armas
para o movimento de tropas
de ditadores contra rebeldes
nas cidades bombardeadas
onde crianças uivam nas ruínas
mãos pés pernas jazem
nas urbes em escombros
as máscaras contragases
no ar envenenado
onde corpos em trapos
sofrem política assassina
farrapos de dignidade
expulsos sob bombas
fugitivos para os enxames
de migrantes à deriva !

§

falas em celulares
nas torres das cidades
eletroondas se cruzam
se confundem se anulam
(words words words)
desabafos neuróticos
conchavos & confissões
discursos vazios de sentido
duelos de Suas Excelências
(os nossos 'representantes'?)
CPI-show: circo político!


§

na mídia festiva
as ideologias banalizadas
carnavalização dos poderes
muita lei por nada
muito rito por nada
MUITA RIMA POR NADA
excesso de adjectivações
para alavancar as vendas
gerundismos de telemarketing
propagandas para indecisos
comerciais alimentam gastanças
em melodias de elevador
ignorância vende best-sellers
deseducação elege canalhas!

§

enquanto celas entulhadas
de vida sem futuro
crimes & castigos engaiolados
fechaduras sem chaves
solitárias sem luz
penitências sem redenção!
enquanto tudo muda
(em vertigens em gráficos
em portfólios em projeções)
para sempre continuar
o mesmo




20/21/26dez15


Leonardo de Magalhaens







segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O Rio Doce ficou amargo - poem by LdeM





O Rio Doce ficou amargo

[Became bitter the Sweet River]


água doente de lama
hecatombe de escamas
olhos vítreos flutuam mortos
mãos se quedam em fome
afogados em restos tóxicos
de rejeitos de garimpo
tumores brotam de pescados
vidas afundam na lama
toxinas beijam as margens
do rio Doce agonizando
falecido desde dentro
profundamente ulcerado
amargo de ferrugem & morte
da corrupção & da miséria
da ignorância & da indiferença
arruinando caules & asas
contaminando pulmões & guelras
hecatombe de escamas !
cardumes nadam em sufoco
ondas asfixiantes encobrem
vilas & cidades & praias
ninhos & criadouros
rio de amargura tóxica
de ferro mercúrio alumínio
metais pesados corrosivos
de morte dissolvida
em água & lama
rubra de sangue poluído
manganês chumbo cromo
enxofre níquel arsênio
enquanto sinos dobram
pelos mortos & desaparecidos
sepultados em ruínas
sob cascatas de lama
sob escombros & restos
sob retratos rachados
& automóveis suspensos
sob telhas tetos toras
os órfãos da dignidade
os fantoches do lucro doentio
ruínas sob lama sólida
uma pompeia mineira
a ser escavada futuramente
como testemunho de
nossa ganância & incompetência
nossa arrogância amargando
o rio outrora doce
em desafio ao clima
que vem decretar
o nosso amargo fim.



05dez15



by Leonardo de Magalhaens







Became bitter the Sweet River


the muddy sick water
hecatomb of scales
vitreous eyes float dead
hands fallen in hunger
drowned in toxic remains
of tailings from mining
tumors bloom from fish
lives sinking in the mud
toxins kiss the banks
of the Doce river dying
dead from within
deeply ulcerated
bitter by rust & death
by corruption & misery
by ignorance & indifference
ruining stems & wings
contaminating lungs & gills
hecatomb of scales!
shoals swim in suffocation
asphyxiating waves cover up
villages & cities & beaches
nests & procreation places
river of toxic bitterness
iron mercury aluminum
heavy metals corrosive
of dissolved death
in water & mud
reddish by polluted blood
manganese chrome sulphur
lead nickel arsenic
while the bell tolls
for the dead & missing ones
buried under the ruins
under cascades of mud
under rubble & debris
under broken portraits
& suspended cars
under ceilings tiles trunks
the orphans of dignity
the puppets of the sick profit
ruins under the solid mud
a Pompeii from Minas
to be excavated in the future
as poor witness to 
our greed & incompetence
our arrogance embittering
the once sweet river
in challenge to the climate
coming to decree
our bitter end.



06dez15


by LdeM