Poética
do simples e do lúdico com mensagem
Sobre
a poesia de Diovani Mendonça
por
Leonardo de Magalhaens
Uma
introdução
Muitos
se ufanam da poesia do complexo, da poesia da erudição, da poética
acadêmica peso-pesado de referências intertextuais, mas se esquecem
que o mais poético pode germinar e brotar no mais simples, com uma
poética do sentir mais do que aquela do pensar, do refletir, do
especular. Alguns mesmo se destacam na nossa literatura. Assim já
sabia Manuel Bandeira, quando reagiu aos beletristas do Parnaso e aos
hermético do Simbólico. Assim sabia Mário Quintana ao ressaltar a
simplicidade do dia-a-dia extraindo pérolas do banal cotidiano.
Assim brincava José Paulo Paes com poemas lúdicos e divertidos (não
apenas para as crianças...). Assim sempre soube Manoel de Barros
quando explora o que há de simples e menosprezado no reino dos seres
& coisas.
Poetas
que muito prezam o que os outros desprezam, que procuram pedras
preciosas no lodo, ou drenam os atoladouros para encontrarem pepitas,
onde outros tampam olhos e narinas, os exploradores do mínimo acham
materiais para a construção de castelos líricos (ou antilíricos,
no relativismo atual …) que destinam para aqueles que passam pela
vida altaneiros e distraídos, narizes empinados e almejando
palacetes no ar.
Assim
é que encontramos na poética de Diovani Mendonça, mineiro
demasiadamente mineiro, que vive no bucolismo da vida campestre, que
desliza profissionalmente no mundo virtual, que inventou & fez
vicejar o Pão e Poesia
(pois não só de pão viverá o homem...), um reflexo deste olhar
sobre o mínimo, do flertar com o que outros fingem, nem ver, numa
poesia que é feita de poeminhas-imagens, ou poeminhas-epigramas, ou
longos poemas-desabafos que nada devem aos poetas acima citados
(reconhecidamente fortes influências e leituras de cabeceira...),
sempre a divulgar lirismo para todos. Sem demagogias.
Sim,
poesia para todos. Pois todos merecem. Daí a popularização
da poesia não ser 'plebeização' da poética, mas antes meio de
acesso até à criação literária, onde todos podem encontrar em si
mesmo o modo de expressão (escrito, falado, gestual, teatral, etc)
no momento em que toma contato com a Poesia
que nutre juntamente com o Pão.
Por isso, o poeta e divulgador Diovani Mendonça está por aí, em
várias escolas de várias cidades, a recitar, a declamar, a falar de
fazer-poesia. Poetas, alunos e professores, crianças e adultos,
todos deixam seus versos para novas embalagens que logo estão na
padaria mais próxima.
Na
sua poética, Diovani Mendonça não faz diferente, sempre focado na
simplicidade e sem esteticismos pedantes que incomodem a veiculação
da mensagem, ou dos seus insights,
suas epifanias, por isso nada de falar-difícil, mas deixando a
poesia fluir, pipocar, saltitar no mundo-do-leitor. Pois de nada
adianta falar uma coisa que somente ele entende ou entenderia. Quem
não se comunica, fala... sozinho. Quem fala difícil só fala para
os mestrandos e doutorandos. E quem precisa de poesia fica
subnutrido, enquanto os acadêmicos só falam para … outros
acadêmicos.
Então,
a poesia para o povo não precisa de plebeísmos, nem citar
subgêneros musicais, nem falar de loiras geladas ou marcas de
material esportivo, nem celebrar o pão-e-circo das torcidas que
dentro e fora dos estádios se perdem em depredações. A Poesia pode
se popularizar sem ficar mais burra, sem se diminuir em estatura. O
poeta só precisa fazer de tudo
para que a poética se realize – em si mesmo e nos leitores. E
quanto mais leitores, melhor. Importa tanto a quantidade quanto a
qualidade, uma não se sacrifica à outra.
Afinal,
poesia não é apenas texto num papel, mas vida, ou seja, é esforço.
A vida é uma luta. E quanto mais preparados estivermos, melhor. E
daí a verdadeira utilidade
da Poesia: ajudar a viver.
Não serve para ganhar dinheiro nem Prêmio
Nobel, mas aguça a
sensibilidade e irriga a sabedoria. Daí a importância do poeta:
falar o que não podemos falar, o que nos passa distraído ou que nos
sufoca.
Adentrando
os poemas-poeminhas
Consciente
de sua arte, o poeta arrisca algumas dicas para ler & escrever
poesia, sem sistemas ou metodologias, exceto da inspiração e da
emoção, em momentos de inesperada epifania,
não
carece um sistema
o
poeta apenas precisa
além
de caneta papel
que a
poesia se mostre
num
estalo dum átimo
na
pauta do tempo-espaço
semibreve
numa fresta
do
breu
(para
parir um poema)
pois
seu 'sistema' não é de cálculo ou previsão, seus poemas não são
previamente agendados, não tem hora marcada para acontecer, eles
explodem em supernovas a cada momento de inspiração, e cabe ao
poeta colher tal fruto-poema e salvaguardá-lo para si mesmo e para
as futuras gerações.
O
poeta não tem pretensão de ser algo além de um porta-voz das
forças poéticas que estalam em seu coração e mente. Há um
momento de íntima explosão que ativa a sensibilidade poética a
conduzir a energia para o mundo arbitrário da linguagem onde se
traduz em palavras,
para o
exato momento da explosão
para
quando salta à minha frente
alguns
poucos e loucos demônios
quanto
às facas
as
amolo no brilho duma fé
(Das
Intenções)
então
é que a condução do sentimento lírico aflora nas palavras que são
entregues a quem deseje ler e adentrar (a compartilhar) o mesmo
sentimento que avassalou o eu-lírico. Ser que saltita junto com a
poeta que lhe escapole das mãos,
a
poesia
tem que ser pop
p
u
l
a
r
na panela de pressão da realidade
elétrica e saltitante
enlouquecer
a métrica
tem que ser pop
p
u
l
a
r
na panela de pressão da realidade
elétrica e saltitante
enlouquecer
a métrica
(pop
poesia)
Como
se fosse um andarilho Don Quijote, do conhecido romance fundador de
romances, o poeta anda em meditações, silente meio ao falatório da
mesmice, a despreza o que agrada aos olhares comuns, que ambiciona
alturas e riquezas, pois o dinheiro nada mais é que um meio, não um
fim em si-mesmo, enquanto ele segue seu caminho,
em
silêncio
caminho
entre
a multidão falante que não v
a poesia
muda
cresSer
diante de pés que calçam
os velhos
sapatos
das urgências
das urgências
silêncio
caminho
entre
a multidão falante que não v
a poesia
muda
cresSer
diante de pés que calçam
os velhos
sapatos
das urgências
das urgências
(quixote
sem dom)
assim,
alheio ao dinheiro que escraviza, e transmuta o dia em algarismos, a
criar servos e escravos, submetidos aos sacrifícios
pelo Deus Dinheiro, enquanto, o
poeta, ao contrário, se refugia em sua sombra e água fresca na
casinha de sapê, consciente das engrenagens do sistema financeiro,
alienante e mercenário,
capiau
da unha larga dentro
duma
casinha de sapê
que
não tem nem fiapo
de
rabo preso às
engrenagens
do $istema bruto
que
não perdoa suas vítimas)
O
poeta se abriga em sua 'torre de marfim' feita de sapê para receber
as energias poéticas, mas em seguida adentra o mundo virtual para
compartilhar, divulgar, profetizar a fala do mundo não-alienado,
não-padronizado. E é toda a liberdade da qual ele precisa.
Não
há precisão de fórmulas , metodologias ou formação acadêmica
que só trazem tipificações e rotulações longe da originalidade
do pensamento livre, entendamos, autodidata, que conduz ao encontro
consigo mesmo, sem intermediações. Daí a preferência do poeta
pelos 'radicais livres',
mais ácidos e corrosivos visto que não 'adestrados' pela técnica
erudita,
entre
os radicais
prefiro os + livres
os que não foram
adestrados por livros
e desenvolveram faculdades
de outras esferas e órbitas
prefiro os + livres
os que não foram
adestrados por livros
e desenvolveram faculdades
de outras esferas e órbitas
(Recado
prum camarada poeta)
Então
o que ele pode almejar além de uma mensagem com simplicidade e uma
riso lúdico de malabarismo com as palavras? Sua flexibilidade será
em não se guiar por prognósticos ou tendências ou 'escolas
literárias', mas a deixar fluir sua verve sem condicionamentos, sem
departamentalizações, sem pesquisas de mercado.
É
justamente por sua não-pretensão é que a poesia passa a mensagem,
sem as amarras de métrica ou rima, sendo que estas surgem ao correr
da pena, sem esquematizações ou projetos segundo uma 'estética' já
premeditada. Assim é que poeta-capiau Diovani Mendonça vem marcar
sua presença original na poética mineira, e quiçá nacional, sem
deixar de lado o que os tantos outros desprezam no mundo das
poéticas: senso lúdico e simplicidade.
Jun/14
Leonardo
de Magalhaens
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