Salomão
Sousa
in
Vagem de Vidro / 2013
Algum bêbado
apocalíptico
invade o ônibus, a
cidade
algo desfruta dentro de
nós
somos os sinais em outros
Não vamos saber quando
somos
a embriaguez em alguma
lembrança
Sabemos do algoz dentro
de nós
Não saberemos do pó
dentro do vaticínio
do acúmulo de sementes
após o fruto
Algo soa vaticina dentro
de nós
Cascas secas cascos do
cio. Sílex
A crina em algum dorso
Algum musgo de antigo
gozo
Ainda que sequemos a voz
esqueçamos a semente que
pede a cova. Ressoa
O que anda pela cidade
nos apelos
bordoadas atordoam
bordões de crimes,
pistões de fogo
Os sábios da manhã. Os
sábios nos anúncios
Ressoa algum bruto em nós
Asas em retirada, casas
ocas
Algo vem andando pela
cidade. Um fruto
…
Com
os homens da fina civilidade,
que
plainam onde há a discórdia,
onde
há a suspeita,
e
a madeira é fértil. Trabalharemos
com
a facilidade da ternura.
Estes
homens são os que pousam
uma
mão e outra mão
e
os olhos e as línguas.
Estes
homens somos nós,
que
temos uma casa,
uma
cidade, um País.
Estaremos
com os homens
limpos
limpos diante das câmeras,
dos
lápis da História.
Estes
homens somos nós,
os
homens em tecnicolor.
Estaremos
com os homens
que
são de fogo,
da
pura lenha aceita pelo sol.
Não
iremos nos esconder
fora
das fronteiras.
Estaremos
nas praças,
nos
baldrames, a esbanjar
companhia.
Não
teremos tumbas
De
vergonhas para tampar,
não
teremos de disfarçar crimes,
de
gerar artifícios para passar impunes.
Seremos
os homens
que
vão ao pré-sal,
ao
fundo do coração.
Estaremos
com os homens de mãos limpas
As
mãos limpas vão tocar as obras.
As
mãos limpas vão se tocar com fascínio.
Estes
homens somos nós.
Seremos
os homens da civilidade.
in
Vagem de Vidro / 2013
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