segunda-feira, 28 de setembro de 2015

2 poemas de Salomão Sousa










Salomão Sousa


in Vagem de Vidro / 2013


Algum bêbado apocalíptico
invade o ônibus, a cidade
algo desfruta dentro de nós
somos os sinais em outros
Não vamos saber quando somos
a embriaguez em alguma lembrança
Sabemos do algoz dentro de nós

Não saberemos do pó dentro do vaticínio
do acúmulo de sementes após o fruto
Algo soa vaticina dentro de nós
Cascas secas cascos do cio. Sílex
A crina em algum dorso
Algum musgo de antigo gozo

Ainda que sequemos a voz
esqueçamos a semente que pede a cova. Ressoa
O que anda pela cidade nos apelos
bordoadas atordoam
bordões de crimes, pistões de fogo
Os sábios da manhã. Os sábios nos anúncios

Ressoa algum bruto em nós
Asas em retirada, casas ocas
Algo vem andando pela cidade. Um fruto










Com os homens da fina civilidade,
que plainam onde há a discórdia,
onde há a suspeita,
e a madeira é fértil. Trabalharemos
com a facilidade da ternura.
Estes homens são os que pousam
uma mão e outra mão
e os olhos e as línguas.
Estes homens somos nós,
que temos uma casa,
uma cidade, um País.
Estaremos com os homens
limpos limpos diante das câmeras,
dos lápis da História.
Estes homens somos nós,
os homens em tecnicolor.
Estaremos com os homens
que são de fogo,
da pura lenha aceita pelo sol.
Não iremos nos esconder
fora das fronteiras.
Estaremos nas praças,
nos baldrames, a esbanjar
companhia.
Não teremos tumbas
De vergonhas para tampar,
não teremos de disfarçar crimes,
de gerar artifícios para passar impunes.
Seremos os homens
que vão ao pré-sal,
ao fundo do coração.
Estaremos com os homens de mãos limpas
As mãos limpas vão tocar as obras.
As mãos limpas vão se tocar com fascínio.
Estes homens somos nós.
Seremos os homens da civilidade.




in Vagem de Vidro / 2013

 














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