quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Roberto Piva - Imagens Surrealistas em Paranoia / P2





Surrealismo em Paranoia

      Assim é o preâmbulo à obra Paranoia, que traz mais descrições, mais metáforas, mais confissões, tudo carregado de um desejo de transgressão. Mas como ainda é confessional, como ainda há um sujeito poético a derramar sua fúria subjetiva enquanto caminha pelas ruas, entre asfalto e delírios, é possível encontrar possibilidades de identificação. É a tensão que se mantem até o fim, entre transgredir e confessar. Ele vem agredir os conformados, os tradicionais, e amigar-se com os transgressores.

Piva ataca e repele um mundo próximo que ele desesperadamente ama e rejeita, mas sobretudo experimenta até o fundo de suas contradições. Estas constituem a razão da sua desconjuntada realidade; estão no centro de sua experiência lírica e na raiz de seu delírio. (ARRIGUCCI Jr, 2009, p. 52)

     Ainda mais no terreno da sexualidade, numa sociedade repressora, cheia de tabus. O erotismo vem como um manifesto do corpo, ou uma amostra de como se fazer poesia com o corpo. Assim o erotismo ao irromper no cotidiano de padrões e repressões, quando o verter de energia erótica leva à valorização do corpo, pois não somos só intelecto, mas carne, nervos, vísceras, genitais.

     Na leitura dos poemas é possível encontrar um desabafo de andarilho, a descrever e transgredir, a apresentar e deformar, como se diante dele uma névoa de delírio encobrisse uma realidade que não pode ser transcrita. Lirismo e deboche, confissão e transgressão se mesclam, se perturbam, criam um poema meio poema em prosa, mas ainda em versos, estes bem longos, quase de perder o fôlego, num ritmo bem próximo de uma fala entrecortada, de monólogo interior, de fluxo de consciência, quando o prosaico vem romper uma cadência de figuras líricas, propositalmente, como contraponto.

     Verdadeiros cortes prosaicos dentro de impulsos poéticos, assim o 10 % de desconto que invade o desvario lírico em Visão 1961 :

a náusea circulava nas galerias entre borboletas adiposas e
lábios de menina febril colados na vitrina onde almas coloridas
tinham 10% de desconto enquanto costureiros arrancavam os
ovários dos manequins


ou quando o prosaico se mescla ao lirismo derramado com a citação ou referência a acidentes topográficos, nomes de logradouros, paisagens da cidade-sucata, a selva de concreto-e-aço que recebe o nome do apóstolo São Paulo,
já é quinta-feira na avenida Rio Branco onde um enxame de Harpias
vacilava com cabelos presos (Visão 1961)

na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha vida
a cidade com chaminés crescendo, anjos engraxates com sua gíria
(Visão de São Paulo à noite)


a praça leva pontes aplicadas no centro de seu corpo e crianças brincando
na tarde de esterco
Praça da República dos meus sonhos
onde tudo se faz febre e pombas crucificadas
(Praça da República dos meus Sonhos)


 
    Esta presença da cidade no cerne dos poemas apresenta uma referencialidade no estilo alucinado, como bem notou o poeta e crítico Claudio Willer, numa Uma Introdução à leitura de Roberto Piva, ao se referir a uma visão alucinatória da metrópole, cenário de delícias & suplícios,

Designado por Piva em diversas ocasiões como visão alucinatória de São Paulo, Paranoia expressa a gama de relações de afinidade e antagonismo entre o 'eu' e o mundo, o poeta e a metrópole. Eu abro os braços para as cinzentas alamedas de São Paulo. Poesia com os pés no chão, com uma ligação com o aqui e agora, opera na dimensão do concreto. Daí a quantidade de lugares da cidade expressamente nomeados.


 
    Em andanças pela cidade-sucata - a qual é objeto de amor & ódio – o poeta confessa imagens que dançam entre o real e o delírio, uma vez que suas visões têm uma base material, está lá diante dele. Segundo as palavras de Fernando Paixão (1984), ao comentar a visão de Gaston Bachelard (1978) sobre poesia, “o poeta orienta seu itinerário pelo mundo material”, pois sua criação poética sempre parte de um 'mundo real', mesmo que depois siga para um plano 'surreal',

O sonho dos poetas com as palavras, contudo, deve ser um sonho rigoroso, militante, teimoso. Sua caminhada pelas casas das palavras não se dá à toa, mas define-se pelo próprio gesto de habitar, ocupá-las com presença humana, decorá-las com coisas da realidade.

Em outras palavras: mesmo alçando o voo de imagem e da emoção, o poeta orienta seu itinerário pelo mundo material. A inspiração profunda da poesia é a realidade, tanto a social como a da natureza, com a qual mantém uma forte relação simbólica. (1984, pp. 80-81)


 
    Entre o referencial e o imaginário, o sujeito poético se percebe a confessar visões e alucinações, a caminhar na cidade plena de sons & imagens espectrais, como percebemos nos poemas em prosa do poeta surrealista Robert Desnos, em impressões do absurdo e do indizível, O vento soprava sobre a cidade. Os cartazes do Bebê Cadum chamavam os emissários da tempestade e sob sua guarda a cidade inteira tinha convulsões. do poeta que vê a cidade transfigurada, quando Piva aponta

minhas alucinações pendiam fora da alma protegida por caixas de matéria
plástica
(Visão 1961)


reino-vertigem glorificado
espectros vibrando espasmos
beijos ecoando numa abóbada de reflexos
(Visão de São Paulo à noite)

o sujeito poético em andanças adiante, a trafegar junto a multidão, aqueles transeuntes entre pressa e fadiga, mas a continuar solitário em seus delírios, então confessados, como à espera de alguém, um leitor, a ouvi-lo,

eu sou uma solidão nua amarrada a um poste
(Boletim do Mundo Mágico)

Um anjo da Solidão pousa indeciso sobre meus ombros
(No Parque Ibirapuera)


 



    Em andanças na solidão povoada que o poeta encontra seus mestres, com os quais dialoga, daí as tantas intertextualidades, não como um pedantismo de erudito, a enumerar leituras, citações, referências, mas como um abrigo junto aos que tanto o influenciaram, na escrita & vivência,

na solidão de um comboio de maconha Mário de Andrade surge como um
Lótus colando sua boca no meu ouvido […]
(Visão 1961)


Eu era um pouco da tua voz violenta, Maldoror,
quando os cílios do anjo verde enrugavam as
chaminés da rua onde eu caminhava
(Poema Submerso)


 
    As imagens se derramam, surgem com simultaneidade, mesmo sobrepostas, tudo ao mesmo tempo, em sintagmas/versos recortados dentro de longos períodos, quando enumerações são retomadas por anáforas/repetições, assim como se lê em Paranoia em Astrakan,

Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
onde anjos surdos percorrem as madrugadas tingindo seus olhos com
lágrimas invulneráveis
onde crianças católicas oferecem limões para pequenos paquidermes
que saem escondidos das tocas
[…]
onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
branco


ou em Visão de São Paulo à noite, no qual tudo se acumula diante de retinas, em alucinações e êxtases, num reino-vertigem, aquele mundo de contrastes, de sujeira e promiscuidade, no qual o sujeito poético convive com a figura maldita de Maldoror, ou vê nos garotos desejados aqueles anjos invocados nos poemas simbolistas do poeta austríaco Rainer Maria Rilke (1875-1926),

Maldoror em taças de maré alta
na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha vida
[…]
sou ponte de granito sobre rodas de garagens subalternas
teorias simples fervem minha mente enlouquecida
há bancos verdes aplicados no corpo das praças
há um sino que não toca
há anjos de Rilke dando o cú nos mictórios
reino-vertigem glorificado
espectros vibrando espasmos
beijos ecoando numa abóbada de reflexos
torneiras tossindo, locomotivas uivando, adolescentes roucos
enlouquecidos na primeira infância


 
    Imagens absurdas como aquelas dos quadros do nederlandês Pieter Bruegel (1525-1569) de fins da Idade Média, com cenas em que tudo se acumula, com vários ângulos, quando o olhar se perde em mil detalhes, em cenários fragmentados em dezenas de cenas, em festas populares, banquetes, colheitas, conflitos, massacres, epidemias. O tudo ao mesmo tempo agora atualizado pela pintura do espanhol Pablo Picasso (1881-1973), na qual vários ângulos simultâneos são dados aos nossos olhos,

Nas boites onde comias pickles e lias Santo Anselmo
nas desertas ferrovias
nas fotografias inacessíveis
nos topos umedecidos dos edifícios
nas bebedeiras de xerez sobre os túmulos
As leguminosas lamentavam-se chocando-se contra o
vento
drogas davam movimentos demais aos olhos
Saltimbancos de Picasso conhecendo-te numa viela
maldita e os ruídos agachavam-se nos meus olhos
[…]
os fios telegráficos simplificam as enchentes e as secas
os telefones anunciam a dissolução de todas as coisas
a paisagem racha-se de encontro com as almas
o vento sul sopra contra a solidão das janelas e as
gaiolas de carne crua
[…]
(Poema de ninar para mim e Bruegel)


 
    É nas visões que o estilo surrealista mais se destaca, pois o que podemos ler é uma alucinação do que já se mostra delirante para o poeta, ébrio de andanças numa cidade que é descrita em mil ângulos cubistas, em movimentos desenfreados que somente podem ser captados por uma escrita febril, tão ébria quanto,

na porta do bar eu estou confuso como sempre mas as galerias do
meu crânio não odeiam mais a batucada dos ossos
colégios e carros fúnebres estão desertos
pelas calçadas crescem longos delírios
punhados de esqueletos são atirados no lixo
eu penso nos escorpiões de outro e estou contente
os luminosos cantam nos telhados
eu posso abrir os olhos para a lua aproveitar o medo das nuvens
mas o céu roxo é uma visão suprema
minha face empalidece com o álcool
(Boletim do Mundo Mágico)

 
    Outros poemas evocam ainda mais o mundo onírico, pois que gerados em sonhos, e na linguagem dos sonhos pretendem ser transcritos, como aqueles quadros de Salvador Dalí, nos quais é possível imergir nos sonhos e pesadelos do pintor a confessar suas obsessões em imagens sobrepostas, em padrões repetidos de cores e formas, em alucinações, quando relógios derretem e corpos se recortam, se interpenetram, se expõem entre penumbras,

Meus pés sonham suspensos no Abismo
minhas cicatrizes se rasgam na pança cristalina
eu não tenho senão dois olhos vidrados e sou um órfão
havia um fluxo de flores doentes nos subúrbios
(Boletim do Mundo Mágico)


Eu sonhei que era um Serafim e as putas de São Paulo avançavam
na densidade exasperante
estátuas com conjuntivite olham-me fraternalmente
defuntos acesos tagarelam mansamente ao pé de um cartão de visitas
bacharéis praticam sexo com liquidificadores como os pederastas cuja
santidade confunde os zombeteiros
terraços ornados com samambaias e suicidas onde também as confissões
mágicas podem causar paixões de tal gênero
relógios podres turbinas invisíveis burocracias de cinza
cérebros blindados alambiques cegos viadutos demoníacos
capitais fora do Tempo e do Espaço e uma sociedade Anônima
regendo a ilusão da perfeita Bondade
(O Volume do Grito)


Eu vejo Lautréamont num sonho nas escadas de Santa Cecília
ele me espera no largo do Arouche no ombro de um santuário
hoje pela manhã as árvores estavam em Coma
meu amor cuspia brasas nas bundas dos loucos
(Stenamina Boat)


 
    Múltiplas imagens surrealistas explodem nos poemas, com exageros de delírios, a partir dos faróis do trânsito selvagem, o brilho nos anúncios de néon, refletidos nas vitrines sedutoras, as centenas de luzes e reflexos que alimentam as alucinações da mente enlouquecida,

Na esquina da rua São Luís uma procissão de mil pessoas
acende velas no meu crânio
há místicos falando bobagens ao coração das viúvas
e um silêncio de estrela partindo em vagão de luxo
fogo azul de gim e tapete colorindo a noite,
(Visão de São Paulo à noite)


e um milhão de vaga-lumes trazendo estranhas tatuagens no ventre
            se despedaçam contra os ninhos da Eternidade
(Jorge de Lima, panfletário do Caos)


minhas almas estão sendo enforcadas
com intestinos de esqualos
meus livros flutuam horrivelmente
no parapeito meu melhor amigo
brinca de profeta
no meu cérebro oito mil vagalumes
balbuciam e morrem
(Poema lacrado)


os insetos as nuvens costuram o espaço avermelhado de um céu sem dentes
as copeiras se estabelecem nas sacadas para gritar
o sangue fermenta debaixo das tábuas
meninas saem de mãos dadas sem que a Tarde deixe marca nas unhas
[…]
almas inoxidáveis flutuando sobre a estação das angústias suarentas
as palavras cobrem com carícias negras os fios telefônicos
no ar no vento nas poças as bocas apodrecem enquanto a noite
soluça no alto de uma ponte
(Rua das Palmeiras)


 
    O poeta se percebe ao adentrar um imenso pesadelo de pressa e de carências, quando suas palavras se perdem ao vento, na indiferença e na incompreensão dos transeuntes em imensas multidões de apressados e solitários, numa vida de correria para satisfazer necessidades cada vez maiores. Tanto que, tempos depois, em entrevista de abril de 2000 para a Folha de São Paulo, Piva esclarece seu método de delirar, a explicitar sua poética na obra de 1963, a confirmar a influência de Dalí,

Paranoia é um imenso pesadelo. Transformei São Paulo em uma visão de alucinações. Apliquei o método paranoico-crítico criado por Salvador Dalí: o paranoico se detém num detalhe e transforma aquilo numa explosão de cores, de temas, de poesia. Fiz isso, mas apenas seguindo a intuição e a inspiração.

 
    Em sua solidão de poeta-andarilho apenas encontra diálogos possíveis com seus mestres de poesia e expressão, sem pedantismo, apenas identificação pela fortuna literária, que congrega os amigos e os poetas de geração, dispersos pela metrópole-necrópole, mas unidos quando o assunto é vida-de-devoção-literária. Assim ele pode dialogar com o poeta modernista Mário de Andrade (1893-1945), em pleno Parque Ibirapuera, em intertextos com Ginsberg e Fernando Pessoa, lembrando o espanhol García Lorca, sendo que todos eles foram leitores do poeta norte-americano Walt Whitman (1819-1892), uma clara influência para os poetas da Geração Beat, assim, numa teia-tessitura de poetas-leitores-de-poetas, que evidenciam homenagens e continuidade, quando a vanguarda procura reler a tradição.

     Piva sabe muito bem que atualiza o mundo de Pauliceia Desvairada, obra de Mário de Andrade, publicada em 1922, disposta no cenário da São Paulo de início do século 20, cidade dependente do comércio do café, ainda sem industrialização, bem diversa quatro décadas depois, com vida agitada, voos comerciais, desprezo ao lirismo,

É noite nos teus poemas, Mário!
Onde anda agora a tua voz?
Onde exercitas os músculos da tua alma, agora?
Aviões iluminados dividem a noite em dois pedaços
Eu apalpo teu livro onde as estrelas se refletem
como numa lagoa
É impossível que não haja nenhum poema teu
escondido e adormecido no fundo deste parque
[…]
Agora, Mário, enquanto os anjos adormecem devo
seguir contigo de mãos dadas noite adiante
Não só o desespero estrangula nossa impaciência
Também nossos passos embebem as noites de calafrios
Não pares nunca meu querido capitão-loucura
Quero que a Paulicéia voe por cima das árvores
suspensa em teu ritmo.
(No Parque Ibirapuera)



     O mundo está lá fora, ao redor, mas é irrepresentável, apenas sugerido pela descrição-alucinação, a se derramar a subjetividade, meio a deformações & delírios, numa colagem ao estilo surrealista, atualizado por uma percepção Beat, urbana, underground, de leituras de então, no início da década de 1960, como lembra Willer ao se referir ao contexto da escrita de Paranoia, em diálogo com outros autores, outros artistas (como o fotógrafo Wesley Duke Lee, 1931-2010),

Escrito logo a seguir, no primeiro semestre de 1962, publicado um ano depois, Paranoia é um resultado desse encontro da beat, especialmente de [Allen] Ginsberg e também de Gregory Corso com sua escrita fragmentária, com tudo o que ele [Piva] já havia lido. A criação dos poemas foi complementada e completada por andanças em companhia do artista plástico Wesley Duke Lee, que tirou centenas de fotos, das quais foram selecionadas aquelas que ilustram a edição, dialogando com os poemas.

 
     O diálogo com os poetas e artistas, da tradição ou contemporâneos, vem impedir que a obra Paranoia seja um mero relato de um poeta urbano, marginal, alucinado, ensimesmado, egocêntrico e megalomaníaco. Sem este diálogo não haveria a possível identificação do/a leitor/leitora, pois este/esta se sente a integrar uma longa sucessão de leitores, autores-leitores, que compartilham visões e sentimentos do mundo, a testemunharem vivências e confidências que levam aquele/aquela que se dedica à leitura para além de um mero texto, antes para o cerne da consciência, para a autoconsciência, que mescla referencial e alucinação, representação e delírio.





     Conclusão

 
     Ao usar o método de escrita automática e recorrer aos delírios, o poeta Roberto Piva, em sua obra Paranoia, conduz o leitor até a cidade-metrópole de São Paulo, uma localidade real, mas transfigurada pelo imaginário. É possível abrir um mapa rodoviário, ou acessar um mapa digital, para seguir os percursos do poeta pela ruas da metrópole, ou cidade-sucata, espaço amado e odiado que é apresentado como espaço literário de descrições e confissões. Torna-se a metrópole-necrópole num fértil e transloucado reino-vertigem.

     Não apenas descritivismo, enumerações geográficas, não apenas delírios, mas uma mescla de referencial e imaginário, quando tudo interligado na tessitura poética, inseparáveis. Caso contrário, o tecido da poética piviana se desfaria, em mero nonsense ou meras enumerações de locais, figuras e situações. A amarra está devidamente demonstrada pelas imagens surrealistas. Há uma fusão de vivência e escrita, tal como almejada pelos surrealistas e pelos poetas da Geração Beat, que não faziam separação entre escrever e viver, numa integração vida e obra.

     Sem o referencial, a poética piviana se perderia em solipsismos e megalomania, a agredir e blasfemar, sem outro sentido que os arroubos da juventude. Não apenas delírios e alucinações criam a poética, mesmo a surrealista, mas a construção da linguagem, em metáforas e metonímias, o uso de intertextos, a exploração de anáforas e enumerações, a sobreposição de imagens, os diálogos com a tradição literária. O estilo surrealista está presente na obra Paranoia, de Roberto Piva, como um dos tijolos fundamentais de sua construção, além das referencialidades e espaços existentes, passíveis de serem capturadas por fotos (aquelas do artista Wesley Duque Lee), por mais que o imaginário se faça a partir do plano referencial, fora do textual. É no amálgama de referencial e imaginário que se constrói e se pereniza a poética piviana, atemporal mesmo que o cenário, a cidade, seja temporal.



dez/14


Leonardo de Magalhaens

(Leonardo Magalhães Silva)

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REFERÊNCIAS

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Um comentário:

  1. Bela resenha. A Poesia de Piva corta a alma.. Rasga a carne.. Nos coloca em chequeMate diante da vida mais ou menos que vivemos. É 8 ou 80... Sem meio termo.... EVOÉ! ...

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