quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

2 poemas de Ronaldo Werneck





RONALDO WERNECK


NOVA YORK

só num canto de loja distraído
esquecido numa rua do soho

a lupa no olho o relojoeiro
escuta o bater-rebater do mundo

e nos conduz sós ao topo do tempo
de seu consumo templário templo

fora do céu o skyline aqui está
tombando sol horizonte às avessas

a noite desce e escorre pelo mundo
nenhum barulho nem tampouco medo

do alto do império são formigas
as gentes grandes carros de brinquedo

o tempo nas mãos do relojoeiro
nada tem de sólido ou partido

tem 'pó esse mecanismo do mundo
mas nada de parado nem perdido



                           Nova York
                           maio de 2014








TEMPO EM TRÊS TEMPOS

Seja sábio, beba logo esse seu vinho
e trague a esperança para onde estamos,
mesmo agora, enquanto de nós nos falamos,
o tempo ciumento nos está fugindo.
Horácio By RW


1 .TEMPOEMA

no espaço do quarto
campo-fundo universo
tempo de onde parto

largo tempo largo
espaço de meu canto

um tempo-espaço avesso
de mim exíguo verso



2 .POEMA CINEMAR

o metro o cine copacabana e o mar
o rio pomba o nelo e o edgard

lá as salas de ar chiquê
as cançonetas derradeiras

cá não se ouve nem se vê
cenas de pulgas e poeira

metro mundo de lá
mundo metro de cá



3 .TEMPO ARREDONDADO

menino na janela
saia redonda alçar
a moça na calçada
o seu arredondar

tempo por trás do tempo
arredondadas formas
anos cinquenta e tanto
e lá vem ela e o vento

salta suave o espanto
um sôfrego apontar
saia rotunda saia
o seu arredondar

nesga uma só nesga
um quê de arredondada
saia ponta de perna
um tempo de si mesma

o menino se esconde
nele de si vexado
para dentro de si
de si ensimesmado

da janela o menino
redonda moça vê
ela a passar e o tempo
a passar atrás dela







                    in: o mar de outrora & poemas de agora / 2014








...

Nenhum comentário:

Postar um comentário