Cenas
de Belô
(drama
II)
um
entardecer de sexta-feira em Belô
de
repente pode oferecer surpresas
ou
desvelar absurdos ...
I
irrompem
na tarde os motociclistas fardados
os
capacetes com óculos escuros & viaturas
blindadas
numa pressa & precisão
de
gestos militares certeiros
de
batedores escoltando carga preciosa
dois
caminhões-baús-do-tesouro avançam
com
money or guns – quem sabe? -
em
plena tumultuosa Cristiano Machado.
Numa
portaria de shopping os passantes
prensados
embasbacados entre gestos
e
motoristas boquiabertos aos apitos
de
'siga agora' ou 'fique parado'
e
o professor o dentista o frentista
esperam
ao lado da médica da doméstica
na
faixa de pedestres conquistada
pelo
estresse dos automóveis indomáveis
enquanto
na tarde o comboio avança.
II
caos
nas avenidas expressas
na
pressa da metrópole suada
a
negar ares & tradições
ao
mesmo tempo em que
se
pretende cartão-postal.
em
vão deseja domesticar
o
fluxo non stop do trânsito
selvagem
com viadutos
túneis
trincheiras pontes
táxis
ônibus articulado metrô
&
linhas troncais & linhas
alimentadoras
& suplementares
entre
pistas exclusivas
desviando
faróis & buzinas
na
pressa rush do anoitecer
de
sexta pré-happenings
&
happy hours & jazz sessions
boates
& bailões & baladas
entre
elevados estações
hipervias
terminais passarelas
mas
tudo mergulha sem dúvida
sempre
ainda mais no caos.
III
estações
lotadas de faces cansadas
sempre
à espera do próximo ônibus
verdadeiras
lotações de desalentados
olhos
que miram os outdoors de néon
os
relógios digitais as placas & preços
os
itinerários & horários em vão
com
olhares vazios de explorados
que
levam dias & dias ao capricho
do
Mercado ou ordem do patrão
contraindo
dívidas jamais pagas
em
débito com o banco & cartão
na
luta para comer & fornicar
para
pagar cada dia & noite
na
lida para consumir & postergar.
BH, 08/09.08.14
Leonardo
de Magalhaens
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