segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Cenas de Belô (drama II) by LdeM


 



Cenas de Belô
(drama II)

um entardecer de sexta-feira em Belô
de repente pode oferecer surpresas
ou desvelar absurdos ...

I

irrompem na tarde os motociclistas fardados
os capacetes com óculos escuros & viaturas
blindadas numa pressa & precisão
de gestos militares certeiros
de batedores escoltando carga preciosa
dois caminhões-baús-do-tesouro avançam
com money or guns – quem sabe? -
em plena tumultuosa Cristiano Machado.
Numa portaria de shopping os passantes
prensados embasbacados entre gestos
e motoristas boquiabertos aos apitos
de 'siga agora' ou 'fique parado'
e o professor o dentista o frentista
esperam ao lado da médica da doméstica
na faixa de pedestres conquistada
pelo estresse dos automóveis indomáveis
enquanto na tarde o comboio avança.


II

caos nas avenidas expressas
na pressa da metrópole suada
a negar ares & tradições
ao mesmo tempo em que
se pretende cartão-postal.
em vão deseja domesticar
o fluxo non stop do trânsito
selvagem com viadutos
túneis trincheiras pontes
táxis ônibus articulado metrô
& linhas troncais & linhas
alimentadoras & suplementares
entre pistas exclusivas
desviando faróis & buzinas
na pressa rush do anoitecer
de sexta pré-happenings
& happy hours & jazz sessions
boates & bailões & baladas
entre elevados estações
hipervias terminais passarelas
mas tudo mergulha sem dúvida
sempre ainda mais no caos.



III

estações lotadas de faces cansadas
sempre à espera do próximo ônibus
verdadeiras lotações de desalentados
olhos que miram os outdoors de néon
os relógios digitais as placas & preços
os itinerários & horários em vão
com olhares vazios de explorados
que levam dias & dias ao capricho
do Mercado ou ordem do patrão
contraindo dívidas jamais pagas
em débito com o banco & cartão
na luta para comer & fornicar
para pagar cada dia & noite
na lida para consumir & postergar.



BH, 08/09.08.14

Leonardo de Magalhaens


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