sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

2 poemas de João Diniz - em ábaco




João Diniz

memórias


lugar de ligar
a paisagem não para
rio um fio móvel
a esmo nunca o mesmo
na cidade que se descobre
azula o turvo leito
numa luz noturna e nobre

o país e seus preconceitos
juízos e ilusões
suas ironias e tradições

memórias e invenções
acordam da urbana insônia
nos sonhos gerais
direções são tantas
revelações às pampas
na solidão amazônica

humanos de bronze
imagem e lembrança
numa saudade da vida
escalada pela criança
numa nova estátua
na inexistente tumba
de um ex fogo fátuo

o lugar de ligar
pode nunca parar
pobre curso sem cor
reinventa a margem
desatando a florestal dor
inverso da alva água
mágoa sem vertigem

esgoto nosso osso presente
fuso úmido de números
votos efêmeros confusos horários

procurando a América interna
flor refletida em felicidade ética
eterno indivíduo ao coletivo eclético
futuro um furo no temporário
passa pela ponte um sentimento a jato
intacto no invisível horizonte






sério

e o que seria?
Se tudo não fosse tão sério
se não houvesse mistério
nesse avesso do sorrir

amor é humor quando começa
cegas cócegas em sócio ego
chamego no ódio seco
carinho por um soco oco

apagando as rugas de um foco
a piada é a melhor espada

na linha da corda bamba
anda o sábio em ciranda
o tédio esse remédio engana
frágil alegria numa mão fria


amor é humor
desarmar o siso se preciso o tiro
acender o riso a rédea da comédia
lavar a inédita mágoa
água benta em ardente solo

na guia pátria de um colo
a pessoa tenta reatar a paz

criança a herança do passado
agir um remanso no cansaço
agora foi embora brincar
chora ou gargalha a voz

cordas para pular a sós
um futuro cheio de nós
quando nenhuma certeza jaz
nesse tempo de tanto faz



in : ábaco / 2011




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