terça-feira, 12 de novembro de 2024

mais 4 sonetos [do fundo do baú] by LdeM

 




+ 4 sonetos by LdeM 


Sonetos 


Soneto da Potência cósmica 


Cosmos, eis a Dádiva da Potência 

Em volteios mil -- de engrenagem --

De Estrelas em fulgurante moagem 

Diante do assombro das Ciências.


Forjar infindo: Fluxos se sucedem, 

Brotando em Nébulas os novos Astros 

De pó etéreo deixando rastros -- 

As Esferas em órbitas se medem; 


Em rochosos Globos Vida semeiam:

No ar agitam-se viçosos enxames, 

Nos bicos pólen colhem de estames 


Sobre águas procelosas volteiam -- 

De lagos, os mares plenos de Vida 

A uma constante Busca convida.



Mar 03 


LdeM 








... 



Soneto para a Conquista de Si mesmo 


Ocupe o teu íntimo território!

Em conquistas viver na adversidade

Acima dos prazeres ilusórios 

Construindo teu ser e realidade.


Que seja tua morada tua coragem 

Para o sobreviver já compulsório, 

Merecendo, em vida, a homenagem 

Que sobreviva ao fenecer inglório.


Dos porcos as pérolas afastadas, 

Para os Eleitos as canções entoadas, 

Em paz com a tormenta interior, 


Onde o Audaz já transpassa os pesadelos 

E olhares frios não podem vencê-lo 

Quando a si mesmo é superior.



Nov 04 



LdeM 



...









Soneto para o Expresso noturno 


Arrastando os vagões dentro da noite 

Vem a locomotiva dentre a bruma, 

A névoa liquefeita tal espuma, 

Onde um clamor golpeia tal açoite.


Neblina, manto espesso após a chuva 

Distorcendo os faróis tão apressados, 

Nas ruas os semblantes estressados, 

Enquanto até o comboio se turva.


A sirene, o apitar tão clamoroso 

Rasga aflito um denso néon brumoso 

Na palidez dos arbustos cobertos; 


Assustando tais trêmulos passantes 

(Que aqui calados se perderam antes) 

Quando alguém se joga de braços abertos.


Abr 05 


LdeM 



...



Soneto do Ato final 



Para onde seguem os pobres atores 

Depois que a encenação aqui findou?

Para onde silenciam os oradores 

Depois que a conferência terminou?


Para onde vão os cruéis promotores 

Depois que este tribunal já fechou?

Para onde agora vão os remadores 

Depois que o navio da vida afundou?


Para onde vai afinal todo o drama 

Quando já se esvazia sem ensaios?

Para onde a açucarada e velha trama 

Quando é finda a cena do desmaio? 


Para onde vão os sonhos ao despertar 

Depois que à vida a morte apagar?



Dez 04


LdeM







.




segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Mais 6 sonetos [de outrora...] by LdeM

 



                                           imagem: R. Magritte [fonte: internet]



                                          6 Sonetos de outrora... 



Soneto para o Desassossego n'Alma 


E quem ousou ao proclamar Verdades 

Num teatro de lamentos encenados 

Num palco de sorrisos maquilados 

Sob o golpear da Necessidade?


E quem ousou a criação doentia 

Num leito de impurezas resguardado 

Num abismo de horrores ansiado 

Sob esta luz mortiça que angustia?


Ao atravessar os risos orquestrados 

Na multidão de olhares tão perdidos 

Quem tem a Paz realmente encontrado?


A flutuar no mar das Ilusões 

Numa rede de gestos sem sentido 

Quem encontra repouso sem aflições? 



Out 24 


(Versão original: Ago 05)


LdeM 



...



Soneto do Artista do Ideal 



Ferido em Asperezas cotidianas 

A rastejar por entre os pedregulhos, 

Insone após Melodias insanas 

Somente pude guardar meu Orgulho.


Entristecido ante a hostilidade 

A xingar ofensas ensandecidas, 

Meio aos Pesadelos da cidade 

Pois sofri cicatrizes e feridas. 


A tropeçar nos desertos do Real 

E perdido em busca das outras Musas, 

Sempre fascinado ante um Ideal, 


Afundado nas doutrinas difusas, 

O ansioso escavador do Infinito, 

Sou este outro Poeta entre os malditos.



Out 24 


(Versão original: Out 05)



LdeM 


...





Soneto da Realidade Ilusória 


Formidável inchaço da Memória 

A soterrar o espaço metafísico 

No acúmulo de toda esta escória 

De um atormentado espírito tisico!

.

Tal lamentável e medonha história 

A transpassar o Pesadelo químico, 

Até o túmulo tão contraditória, 

A narrativa ácida de um cínico! 

.

A propor perspectivas execráveis, 

Em torvelinos mentais infindáveis, 

Enreda a Realidade ilusória, 

.

A deixar os olhares impassíveis 

No trafegar contínuo de insensíveis 

Nesta existência inerte e compulsória!



Out 24 


(Primeira versão: nov 05)


LdeM 



...




                                             imagem: R. Magritte [fonte: internet]



Soneto gótico na Noite de chuva 


Miríades de gotas nas vidraças 

rastejando silentes sem urgência 

quando a chuva agasalha toda a praça 

 com gentil arrogância e sem ciência.


Gárgulas gorgorejam ameaças 

vertendo de sangue a rubra aparência 

quando os olhos divisam as desgraças 

na doença crônica da Consciência.


Clamores já gotejam noutras calhas, 

a prenderem lembranças em suas malhas 

 os ruídos úmidos das gotículas, 


deslizam nos porões da mente falha, 

adentram a frieza da mortalha, 

enquanto a alma insiste em dores ridículas.



Out 24 


(Primeira versão: dez 05)


LdeM 



...





                                 imagem: Os Amantes [R. Magritte] [fonte: internet]



Soneto 


Soneto da Dúvida Cruel 


Tecendo teias em nossos corações 

Na Angústia constante, sem repousar, 

Em Inquietares de um Ansiar 

Cruel em sólidas Solidões.


Insatisfeita de nosso Amar, 

Na busca por real compreensão, 

Vive, Noites em claro sem cessar, 

O Desconforto e a profunda Aflição.


Entregue às cartas com Devaneios, 

Sofre as Desilusões do mundo real, 

Pedindo ajuda por todos os meios 

Num Delírio que é quase fatal.


Suas perdas coleciona em seus versos, 

A Dúvida cruel em triste universo.



Out 24 


(Primeira versão: abr 06)


LdeM 


...



Soneto da Existência Malograda 



Jogado na insustentabilidade 

Da finita Existência malograda 

Queimando fosfato com malfadadas 

Questões da quimérica Eternidade.


Geme sob o fardo das Fatalidades 

Da condição áspera e ingrata 

Em indignidades a Náusea farta 

Na prepotência da frágil Vontade.


Sofrendo impasses da vã Metafísica 

Nas ponderações da tortura física, 

Eleva hinos em formal Devoção;


Insiste em preces e grotesca Mímica:

Pobre refém das Leis da bioquímica 

Que apodrece esperando a Redenção.



Out 24 


(Primeira versão: abr 06)



LdeM 


Leonardo de Magalhaens 

    poeta, contista, crítico literário

    Bacharel em Letras FALE / UFMG 

    Canal Youtube Literatura Agora!


.:

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Conto. Fim de expediente. No bar. by LdeM

 .


Conto


Fim de expediente. No bar.



    Ontem conheci o Silvano. No bar mesmo. Não lembro de ter visto o cara por lá antes. Mas parece que o Silvano já me conhecia. Um cara bem tranquilo, bem zen, fala pouco, assim sempre calmo. 


    Eu estava no bar desde o fim do expediente na gráfica. Vi o Jailson na praça e seguimos pro boteco. Lá tem uma mesa no segundo pavimento que a gente sempre 'aluga' até o bar fechar. 


    Eu continuava com umas dores no peito e que não passavam. Eu até me acostumava. Devia era procurar um consultório ou posto de saúde. A gráfica não pagava plano de saúde para funcionários. O pessoal do escritório é que tinha grana pra pagar por conta própria.


    Acontece que a gente só ficava bebendo, ouvindo um Lulu Santos ou Adriana Calcanhotto, e contemplando a paisagem: as belas que saíam do serviço ou seguiam para a happy hour


    O tempo passava e já era de noite. O primo do Jailson, o Ribamar, chegou e ficou tagarelando sobre olimpíada em Paris. Eu lembrei da Mulher Maravilha correndo numa maratona....


    A dor no peito ora ia ora voltava. Realmente eu estava precisando fazer uns exames. Melissa bem que dizia. É nessas horas que eu me arrependia de ter deixado a Melissa. É que a gente brigava muito... Ela vivia me chamando de bebum e outros deboches. Teve uma vez que eu desci a mão. Foi a briga final. Eu fui embora. 


    O Jailson queria ver as Hildas na descida da rua da Bahia.... O Ribamar parece que esperava alguma conhecida aparecer ali. Eu fiquei sentado bebendo e ouvindo o Milton Nascimento. Amores perdidos etc. Pelo menos eu tinha meus amigos.



    De repente, eu estava no chão. Acho que tinha caído da cadeira. Será que cochilei? Ou eu estava levantando para ir ao banheiro?


    Lembro de ouvir as vozes do Jailson e do Ribamar me chamando. Então eu vi uma mão e alguém ao meu lado. O Silvano. Pessoa simpática que me ajudou a levantar. 


    Onde os meus amigos? Devem ter se preocupado e descido pra chamar alguém, tipo o dono do bar... Só o Silvano ali tentava me acalmar . Que eu me sentasse... Se tinha melhorado a dor no peito... Como ele sabia?


    Acho que ele deve ter percebido quando eu caí... Devia estar apertando o peito. Sim, uma punhalada no coração! Saudades de Melissa? Eu não era de ficar sentimental assim...


    Silvano sentou-se na cadeira ao lado na mesa, onde antes estava o Jailson. Ele falou pouco e muito calmo. Se a dor tinha passado que eu me levantasse, pois andar me faria bem. 


    Assim descemos a escada e saímos na rua. Quem passava nem me olhava na cara. Também não me lembrava do pessoal. Vi o dono do bar, o Jonathan, fiz um gesto, mas ele não me viu. Também tanto freguês nesta hora...


    Saindo na rua andei meio desorientado. O Silvano explicou que meus amigos logo voltariam. Eu queria esperar? Disse que sabia ir pra casa. Não adiantava esperar carona. Todo mundo bêbado só voltava de táxi ou Uber. 


    Estranho que não vi qualquer conhecido. As pessoas passavam e os ônibus passavam. Não estava tão bêbado mas me sentia andando em estopa, com os passos incertos. 


    Atravessei a praça e desci a avenida. Eu morava perto do shopping no apartamento da minha mãe e da minha irmã. Precisava avisar que chegava mais cedo. Onde estavam as minhas chaves? 


    Por um momento, agora me lembro, antes de atravessar pra praça, vi os vultos dos meus amigos... Mas eles não me viram. Aliás, quem me conhecia por ali, naquelas esquinas? 


    Não sei quanto tempo andei. Estranhei o Silvano me acompanhar. Ele disse que também foi morador da região. Até conhecia a minha mãe e minha irmã. É mesmo? Não conseguia me lembrar do Silvano... 


    Era noite e todos aqueles faróis me deixavam entorpecidos. Devia mesmo estar muito bêbado... Parecia que eu flutuava... A dor tinha sumido... Nem sentia minha respiração... 


    Quando chegava ao prédio, vi minha mãe e minha irmã que saíam apressadas. Entraram num táxi e nem me viram. Por que isso? Pareciam preocupadas... O Silvano viu tudo e nada disse. 


    Ele parou diante do prédio e ficou contemplando um apartamento com uma janela acesa. Será que era lá que ele tinha morado? Se não me engano, a dona lá tinha ficado viúva na época da pandemia.... O marido morreu quando a pandemia já estava acabando...


    Por que aquele desconhecido me acompanhava? Seguia mesmo para o mesmo quarteirão e mesmo prédio? Silvano se aproximou da portaria e lá dentro estava o porteiro falando ao telefone. Ninguém entrava e ninguém saía. 


    Tanto eu quanto o Silvano a gente hesitava em entrar. Não sei o porquê. Aliás agora eu sei. Demorou mas a ficha caiu. Quanto tempo ficamos ali, olhando um pra cara do outro? 


    Quando eu vi a minha mãe e a minha irmã estavam saindo de novo! Como assim? Elas tinham voltado e eu não tinha visto? E agora corriam apressadas assim? Parecia um filme se repetindo.... 


    Cismei que precisava seguir as duas desta vez. E fiz um movimento rumo ao táxi mas o carro logo acelerou. Aí Silvano falou que eu me acalmasse. Elas seguiam para a Santa Casa. Uai, mas por que? 


    Quando eu pensei em Santa Casa, logo percebi que estava justamente na Santa Casa. Claro que conhecia o lugar. Minha avó morreu aqui. Minha tia morreu aqui. 


    Então vi a minha mãe e minha irmã seguindo para um corredor. Vi que estavam chorando. Será que alguém da família morreu? Não lembro de alguém internado ali.... 


    Elas entraram numa sala. Funcionários vestidos de branco entravam e saíam. De repente eu percebi que o Silvano estava ao meu lado e ele se vestia de branco! Não havia percebido antes?!


    Então entre corpos deitados sob lençóis brancos, elas se inclinaram para um e aí levantaram o lençol e então é que choraram mais ainda! Ora, na hora eu não entendi....


    Silvano apontou o corpo e, com a cabeça, sinalizou que eu podia me aproximar. Pensando bem, agora, ele agia mesmo como um enfermeiro.


    Então me aproximei. O mais estranho é que nem minha mãe nem minha irmã me notaram ali do outro lado do corpo sob o lençol. E então é que entendi. O homem deitado usava as minhas  roupas. E sua face era a minha. Agora uma face sem vida. 


    Segurei o peito com força. Nada senti. Elas choravam. Abraçadas. Silvano fez um gesto calmo. Vi o homem deitado. Sim. Era isso: meu corpo morto. Ataque cardíaco fulminante. 


    Fiquei ali vendo o corpo. Minha mãe e minha irmã foram embora. Chegou um pessoal da funerária. Seguia ali ao lado do meu corpo. Mas era como ver uma foto de mim mesmo.... Uma lembrança do passado. 


    Silvano era mesmo uma espécie de enfermeiro. Sua calma me contagiava. Em nenhum momento me desesperei. Deixei o corpo seguir. Quando Silvano fez um gesto, eu o acompanhei. 


Jul 24 


LdeM 


poeta, contista, crítico literário

Bacharel em Letras FALE / UFMG

BH MG






.:

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

4 + 3 Sonetos by LdeM. Eros & Ágape. 2006. 2024.

 



                                                R. Magritte. Os Amantes. 1928.

                                                Fonte: Internet 


               4 + 3 Sonetos


                  by LdeM


                                 Eros & Ágape


                    2006 & 2024


Soneto dos Amores memoráveis 


Amores formam camadas na mente,

Cada Amor cobrindo o antecedente, 

Mas tal uma camada de poeira,

Que as lembranças sopram de primeira.


Amores se acumulam na memória,

Fixos tal uma decorada história,

E permanecem latentes no peito 

À espera de seus novos eleitos.


Faces lembram faces superpostas,

Perfumes são paixões já expostas, 

Gestos são restos de gestos lembrados, 

Beijos lembram outros beijos negados; 


Promessas de promessas já quebradas,

Dores de Amores que deram em nada.



Mai 06 


LdeM 



.:




Soneto às Mulheres 


"Diante de uma mulher são só 

garotos"

Leoni 


Mulheres trazem no olhar a presença 

Sutil de um desafio amoroso,

A sedução em gesto silencioso:

Olhares: promessa de recompensa.


Mulheres não conhecem submissão,

Com as suas vontades imperiosas, 

Exigem, com suas poses langorosas, 

A nunca alcançada satisfação.


Mulheres, nossas musas enigmáticas 

Que até já desistimos de entender, 

Por mais que se mostrem damas simpáticas, 


Delas o olhar sempre nos estrangula,

Pois diante do olhar de uma mulher, 

Até o homem genial é uma mula.



Mai 06 

Ago 24 


LdeM 


.: 



Soneto para os Afetos passados 


"A grande dor das cousas que passaram"

Camões 



Ah, a dor dos afetos que perdemos,

A grande ausência tão onipresente,

Da ternura que jamais esquecemos,

Das juras, em carícias tão frementes!


Dormindo e acordando ao teu lado, 

Em teu sono ressonando contigo,

Invejando o teu sonho, encantado 

E curioso, 'Sonhaste comigo?'


Desejos e prazeres jazem mortos, 

Carregamos na mente os funerais, 

Os erros nos caminhos tortos,


Em dores, as torturas sem iguais:

A indagar se amaremos novamente,

Gemendo sob o passado inclemente.



Mai06 


LdeM 





Soneto do Poeta em Terapia 



Eis! Outro soneto a sobreviver 

(Pois ao escrever eu ainda sobrevivo)

Tenho tantas mágoas para esquecer

Quando cheio de pesares eu vivo.


Escrevo por falta d'outro remédio 

(Pois que escrevo como em terapia)

Aqui insone sob os fardos do Tédio 

Vertendo a amargura em poesia.


Escrevo tal um paciente crônico 

(Prostrado num leito, desenganado)

Na solidão, o espírito agônico;


Rabiscando restos de sentimentos 

(Exumados do coração frustrado)

Na lembrança dos saudosos momentos.



Abr 06 

Ago 24 



LdeM 



...





                                                 R. Magritte. O Filho do Homem. 1964.

                                                 Fonte: Internet


Soneto da Graça Eterna 


Soprou em nós o fôlego de Vida 

A Divindade dos Céus e da Terra 

Ao corpo e alma dentro regenera:

Graça da Vida Eterna prometida.


Mãe piedosa geradora da Vida,

Pai justo estende a todos Salvação:

Pois não tem prazer na condenação,

Logo aceitem a Graça oferecida.


Por Amor Deus Excelso se revela 

Em sintonia o Conhecimento:

Ministra Justiça a cada momento!


Plena Misericórdia desvela:

Não vem Dele o mito cruel do inferno!

É Vida: Um Só é o Deus Eterno.



Ago 24 


LdeM 



...



Soneto do Ego inflado 


Ego se acha o centro do universo inteiro, 

Vê o mundo girar ao seu redor!

Ego não em busca de companheiro 

Mas de outro cúmplice menor, 


Outro súdito diante do seu trono, 

Outra serva prostrada em seu altar, 

Outra criatura da qual ser dono,

Outro escravo no qual vai mandar!


Ego se julga eterno possuidor, 

Com a opinião sempre formada, 

Julga como se fosse o Criador!

Ego beija sua fortuna guardada, 


Apegado à sua própria vaidade, 

Incapaz de um gesto de caridade! 



Ago 24 


LdeM 








Soneto do Amor ao próximo 



De que adianta escrever belos poemas,

Se ignoro o próximo com seus problemas?

De que adianta erguer os belos templos,

Se não dedico ao próximo algum tempo?


De que adianta guardar um tesouro 

Sem deixar ao outro nem brilho de ouro?

De que adianta se encher de poder,

Se ignoro que o outro vive a sofrer?


De que adianta se cobrir de vestidos, 

Se deixo o próximo seguir sem sentido?

Fé, crenças, rituais, sem doação?


De que adianta proclamar verdades,

Se tanto dogma não gera caridade?

Antes o amor ao próximo a missão!



Ago 24 


LdeM 



Leonardo de Magalhaens

poeta, contista, crítico literário

Bacharel em Letras FALE / UFMG