imagem: ilustração de Escher [fonte: Internet]
5 sonetos
by LdeM
Soneto do poeta freudiano
Além de Freud, o poeta freudiano
analisa seus ásperos amores
e disseca os complexos e dores,
de sentir-se demasiado humano.
Com sua identidade à deriva,
despeja em versos íntimos temores,
numa biografia de estertores,
a manter cada mágoa sempre viva.
E conversa com os amores mortos,
no divã expondo os destinos tortos,
nas entrelinhas de cada poesia.
Olhares e momentos de prazer,
tais afetos poderá esquecer?
Ou vai direto para a terapia?
LdeM
...
Soneto do poeta sofredor
Sou o poeta em busca de auditório,
Publicando a solidão nos jornais,
Solicitando a atenção dos iguais,
Ainda que seja contraditório.
Em confissões geme impunemente,
Revelando nuances de sua vida
(Sem pudor ou censura devida)
Compartilha sua dor publicamente.
“Por isso me exponho nas livrarias”,
Escreveu Drummond em sua confissão,
Sendo autor e obra sem separação,
E os poemas, toda a biografia.
Falar de si não é osso do ofício,
Apenas simplesmente um outro vício.
BH
LdeM
…
Soneto para os sonetistas
Confecciona em castelos de palavras
loucas arquiteturas de emoções,
nestas elaboradas construções
equilibrando sílabas e travas.
Transmite cenários e sensações,
tecendo nos quartetos e tercetos
em longos monólogos e duetos,
ao deixar a magia das seduções:
em métricas, cadências pitagóricas,
em sinfonias de quatorze versos,
ousar resumir todo um universo,
elevando em catedrais alegóricas,
em simetria para causar efeito,
todos os decassílabos perfeitos.
BH
LdeM
…
Quero hoje escrever um soneto rude
Quero hoje escrever um soneto rude
Também áspero e sem qualquer sabor
E que não diga nada de valor
Uma vez que ninguém mais se ilude.
Outro soneto, um daqueles duros
E que não ouse proclamar verdades
(Pois já estamos fartos de verdade!)
E que pode até parecer imaturo!
Um soneto realmente … ilegível.
Ríspido igual àquele do Drummond,
Assim totalmente fora do tom!
Uma pérola cínica, sofrível –
E sem nexo, nem retrocesso – nada!
Que só expressa uma raiva danada!
Betim
LdeM
…
Soneto da ilusão do eu
Eu vivo em todas as encenações
Mirando das infindas perspectivas
As tramas neste palco sempre ativas
Mudando no cenário as posições.
Eu vivo estas mil interpretações
Atuando sob falas agressivas
(Esta lábia das máscaras passivas)
Simulando confraternizações.
Eu tenho vivido mil profissões,
Sem nada entender das ocupações,
Crendo servir ao meu próprio umbigo.
Eu sou estes e aqueles nesta cena
(A cena que nada tem de pequena)
E talvez um dia eu me encontre comigo.
BH
LdeM
2023
...
Gostei dos poemas!
ResponderExcluirRealidade cara a cara... Muito bom Leo!
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