Sobre 30 Anos de Poesia e Arte
da autora Hyeda de Miranda Campos
[Rio Vermelho, MG, 1974-]
Poesia se faz com expressão e experiência
Introdução
“Não force o poema a desprender-se do limbo”, ou seja, sair do nada, escreveu o poeta mineiro e brasileiro e universal Carlos Drummond de Andrade em seu belo poema “Procura da Poesia”. Para escrever poemas não basta ter belas palavras “tiradas de um estado de dicionário”. Não basta dominar um léxico ou articular bem as palavras. É preciso extrair da experiência a substância da Escrita, como fez um Marcel Proust ou um Pedro Nava.
Poesia se faz com experiência, observação, labuta, competição, esforço e superação. Poesia não prova nada e nem quer ser prova de algo. A poeta, o poeta, visionários, fazem da vida a matéria da Escrita e deixam a Obra como testemunho. É preciso viver o dia-a-dia, labutar seriamente, desbravar o “grande sertão” (que é perigoso!… segundo Guimarães Rosa) O que faz a Poeta? O ofício e a labuta da criação poética…
O poema é a pintura que a Poeta, o Poeta, arautos, deixam para os olhos e ouvidos e mentes, como uma aquarela que se baseia em tonalidades de sentimentos, tecidos de emoções que precisam ser expressadas. A Escrita então surge como um quadro pintado num equilíbrio de sentir e pensar, usando sons e palavras e não misturas de tintas e cores.
A Obra
Em sua obra de maturidade, 30 Anos de Poesia e Arte, a autora Hyeda de Miranda Campos, natural de Rio Vermelho, MG, vem apresentar sua Escrita tecida com experiência, ao abordar os diferentes aspectos da vida, a vivida e a idealizada. A autora não se preocupa com julgamentos alheios, com críticas e críticos, mas entende que a Poesia vem como arte e missão. É preciso sentir e escrever, dominar a arte, sem julgar, sem rotular, sem classificar em gavetas da razão e da teoria.
O que é poesia? Quem pode dizer? "Quem há de julgar a poesia? / Classificá-la, rotulá-la... / Dizer se é quente ou fria?" [“Poesia aos Quatro Cantos”, p. 44] Em tons de sentimento e razão, a Poeta Hyeda de Miranda vem pintar sua poética, assim apresentada tal qual uma aquarela diante dos olhos (e ouvidos) dos leitores e leitoras, com a missão da Poeta de "colorir o mundo",
Lá vai o poeta / Gênio maltrapilho
E sua poesia de fome / Suicídio e exílio.
[...]
Espalhando poesia / E colorindo o mundo
O ofício do poeta / É ser mesmo um vagabundo.
Poeta de rua / Como o cordel mais popular
Que rima luz e trevas / Sem nunca se cansar.
Vai gritar poesia na feira / Pintar uma tela com todas as cores
Dançar a dança da vida / Malabarista de grande dores.
[“Aquarela”, p. 22]
A Poesia então vem agir no mundo, não apenas situar numa página de livro ou cartaz / mural numa parede, mas como função de expressar uma visão individual de mundo, de um ser de emoção e razão, daí seu valor. É uma resposta ao "poesia pra quê?" e ao "poesia tem valor?" como um declarar de princípios: poesia não tem "valor de mercado", mas de expressão.
"Poetas não têm relógios / Por isso são tolos
Tolos e livres / Dos limites e consequências do tempo.
Poetas não têm patrimônio
Senão sentimentos
Sentimentos sem sentido
Sem nenhum valor no mercado."
[“Poe$ia”, p. 43]
"O poeta quer mudar o mundo / É lunático
Patético / Exótico!"
"O poeta quer pegar a estrada / Armar o circo
Pintar a cara / Abrir as cortinas"
[“Outra Vez”, p. 36]
Expressão de sentimentos e de experiências, é assim a Poesia como um olhar sobre a pluralidade do mundo, e a Poeta é uma figura observadora, registradora de sensações, de várias vozes que disputam a atenção, povoando as ruas e telas e redes sociais, pediam nossas reações de amor ou ódio. Todas e todos querem atenção e a Poeta está aí para ver e ouvir e relatar.
"Meu mundo é feito de vozes" [“Vozes”, p. 46]
"Nossos olhares renasceram mais profundos
Capazes de ver além das aparências separatistas.
Agora a natureza sopra vida!"
[“Releitura”, p. 45]
Como surge a Poesia depois da emoção e da observação? A Poesia se manifesta como uma "explosão", um súbito existir como um jogo de pensar e sentir e articular palavras. Numa revelação metalinguística de um complexo tecido de algo-lá-fora e algo-aqui-dentro, onde a consciência tenta estruturar e equilibrar exterior e interior, e, no meio disso, criar um objeto de expressão -- seja pintura, seja teatro, seja música, seja poema.
Cada obra é uma explosão / Como no princípio
Mergulha-se no caos / Para a criação
[...]
E a poesia é luz / Fogo de um milhão de sóis
Alienígena, alienada ... / Alucinógena!
Cometa sem rota / Que na poeira do cosmos
Entre idas e voltas / Quer ser Terra, quer ser Lua,
Ser de Saturno o anel / Espalhar-se por toda Via Láctea...
Universo de papel !
[“Big Bang”, p. 25]
Assim nesta viagem poética com Hyeda de Miranda Campos, em sua obra 30 Anos de Poesia e Arte, podemos alcançar outros planos de leitura, nutrindo mais e mais o desejo de experimentar a Poesia, de conhecer vida e obra, de subir no palco e participar do mundo plural da Escrita, que fala da vida e da própria Escrita, ao expressar a condição feminina e a humana, aprendendo e testemunhando, vivendo dia a dia, verso a verso.
Out / Nov 2023
Leonardo de Magalhaens
poeta, contista, crítico literário
Bacharel em Letras FALE / UFMG
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