ALEXEI
BUENO
OS
RESTOS
Tudo
retornará, tenho certeza, um dia,
Tudo
ressurgirá na nossa alma inocente -
A
mãe que nos levava, a face fugidia,
Os
pés brilhando a um sol há tantos sóis ausente.
Depois,
em cada noite, um manto astral silente,
A
porta, única e exata, onde nossa ânsia urgia,
Nossa
amiga vergonha, a outra esquiva, a Alegria,
E
a Dor, na íntima rua, e a Náusea, hedionda e doente.
Mais
os velhos de então... Sim, nada acabará,
Dedais,
restos de feira, as bocas desmentidas,
Nossas
cismas banais, nossa sorte tão má...
Cada
som, cada cisco, a mais sonhada hora,
Tudo
outra vez virá, mas mesmo entre essas vidas
A
arder, nós nos voltando havemos de ir embora.
14
- 5 -1992
em
Lucernário / 1993
...
ALEXEI
BUENO
ESPÓLIO
No
fim de tudo, quando os adorados
Membros
forem torrões no pó incristados,
Quando
os móveis tiverem, muito antigos,
Dado
ceia aos cupins, fogo aos mendigos,
Quando
os papeis rolarem já nas poças
E
o chão pisarem nem nascidas moças,
Quando
outras gerações, sem nome nosso,
Olharem
para o céu sempre em esboço,
E
os restos nossos, sem que a vida atine,
Dormirem
num promíscuo de vitrine,
Sem
um vínculo mais, um gesto, um preço,
Sem
mesmo as casas, sem seu endereço
Também
mudado já, sem um resquício
Do
nosso rude amor, nosso suplício,
Então
só sobrarão, no tempo emersos,
Uns
versos, como agora, uns rijos versos.
5-6-1992
em
Lucernário / 1993
Muito Bom!....
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