segunda-feira, 16 de novembro de 2015

poemas em Manual da Loucura de Gabriel L'Abbate Melo










Gabriel L'Abbate Melo


                                         Manual da Loucura
                                                                     Anome, BH, 2014


O Impossível

Ele caminhava, não havia maus muros e tampouco cercas e
paredes. Tudo isso havia caído em desuso. Distraídos, os in-
gênuos por pouco não se sentiam realmente libertos andando
pela vastidão. Porém o olho vigiava por toda parte, mas ele
não havia se instalado dentro. Lá, voa, ainda e sempre, a ave
imaginação. Tal ave nunca será vigiada, explorada e controlada.
Por isso, quando não a temem, simplesmente a ignoram.




Outro dia

Estive na casa do poeta, o poeta estava lá, olhando algum
lugar além. Ele também já não podia dizer. Ele estava atrás
de uma pilha de papéis e livros, cauteloso em suas ações. Já
não podia mais dizer. Estive lá na casa do poeta, ele estava lá,
olhando algum lugar além. Tomamos um café, conversamos.
Ele me mostrou alguns dos poemas fantásticos, olhou para
algum lugar além, e me explicou porque não iria publicá-los.





O edifício

Vejo-o por fora, mas também vejo seus tijolos. Não porque
eu os veja, mas porque eu os sei. Porém eu já não sei o que
eu via antes lá onde hoje vejo o que sei. Quase penso que me
desensinaram a ver. Porque também educaram o pensamento
para reproduzir. Não se cria impunemente no mundo dos
padrões, eles são os patrões do do memedo, os culpados os
culpados por toda culpa.







O Currículo de um não ridículo

Eu sou graduado
Na milenar arte de ficar deitado
Sob o espaço infinito.
Eu sou perito
Em estrelas, luas, sóis, cosmovisões e sou Doutor
Na fabulosa arte do amor.
Tais títulos me abrirão portas,
Se for preciso escrever um artigo
Sobre o perigo de não se fazer nada
Disso que querem que você faça.




Quintal cercado

O cão bravo, por não provar da Liberdade
-Ela sorri, digita por certo besteiras-,
Ao ver os cães na praia, esses cães de verdade,
Late bravo invejando as tolas brincadeiras.

Logo os panos das tendas, azuis ou vermelhos,
Quais imagens que jamais se prendem sob espelhos,
Esvoaçam sem mastros para céus distantes!
-Velho barco encalhado em areias picantes...

Cansou-se de esperar um gentil que o empurrasse,
Tal qual empurra a noite o novo sol que nasce.
Pois a Gira se serve pensando em champanhe,
Não lhe importando qual mão a taça acompanhe.”

Então, ciclos medonhos, a casa já não
Possui donos, sem teto as paredes, e o cão,
Seus restos enfadonhos, rosnam sons pequenos
Quando pisa na grama alta um raio de Vênus.












Os 4 loucos

Sabe-se que o primeiro louco foi o profeta,
O primeiro a perceber a ilusão do tempo.
Dizem que o segundo foi o místico,
O primeiro a perceber a ilusão do espaço.
O terceiro louco foi o amante,
O primeiro a amar só por amar.
E o quarto louco foi o poeta. Mas não souberam explicar.








E aqueles que foram vistos dançando foram julgados
insanos por aqueles que não podiam escutar a música.”
                                                                              Friedrich Nietzsche


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