panta rei (tudo flui)
“panta
rei os potamós” (tudo flui como um rio)
Heráclito
I
Tudo se move, tudo flui,
águas passadas não mais,
ondas se batem, se vão;
novos acenos, urgências:
pressa dia a dia, lotação;
povos migram, cidades ocas,
bombardeios & epidemias:
golpes contínuos do devir!
Famílias se abortam,
caravanas se perdem,
as trevas se repetem:
ascensão de dinastias,
impérios decaídos somem:
novos bárbaros devastam,
conquistam, plantam, mudam:
sobre crânios os tronos!
Novo ciclo, novo aeon:
outras tribos de novo reino
oligarquias roídas por
plebeus:
leis caem caducas, prisões
rompidas, as falidas
fundações doentias,
decretos, vozes vazias,
federações já desunidas!
Sobre os destroços os brotos
de novos sonhos & pilares,
em argamassa de sangue,
em ferragem de carne,
em pintura de cultura,
ostentação de edifícios,
santuários de nova moral,
beleza cheia de fissuras!
II
Tudo se muda, se desfaz,
tetos trincam, pontes caem,
viadutos desabam, ruínas;
geleiras deslizam, fundem;
grupos se agregam, desviam;
línguas falam & se calam,
dialetos se mesclam, somem,
deixam lacunas na história!
Climas mudam, hecatombes,
vulcões mumificam cidades,
ondas varrem povoados,
terra engolindo metrópoles;
machados ceifam florestas,
chamas lambem palácios,
fissuras invadem pilares,
heras abraçam muralhas!
Materiais trocam, abruptos,
rudes colapsos ressoam,
armas, bigornas, ferro
ardentes peças surgem
para arado & guerra,
para cultivo & matança,
para edificar & derrubar,
para cultura & barbárie!
Banquetes, orgias, festins,
salões, palácios, torres,
as saudações aos deuses,
ou rituais aos demônios,
libações & sacrifícios,
em vão buscam conservar,
parar o dia, o momento,
estancar o curso do rio!
15abr15
Leonardo de Magalhaens
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