empunhar
vozes nas ruas
primeiro
vieram os estudantes
querem
passe livre
protestam
contra as passagens de coletivos
tantos
gritam sob cartazes
alguma
cifra nos jornais
e
mais e mais
policiais
adentram a cena
e
sobra gás & lágrimas
e
aumenta a revolta
e
mais e mais
estudantes
empunham gritos
mais
exigências mais urgências
saúde
transporte público transparência
uma
pauta recitada com punhos
contra
políticos corruptos contra fascistas midiáticos
depois
contra o governo contra as farsas televisivas
depois
mais e mais
punhos
e pedras e máscaras e slogans
atingem
barreiras e cassetetes e sprays
depois
aparecem os políticos
que
não entendem as vozes da rua
que
não querem entender
depois
aparecem os jornalistas
para
explicitar os dramas de quebras
quebras
de bens e patrimônio
por
vândalos arruaceiros anarquistas
jovens
raivosos dos black blocs
com
máscaras com anonimato
sem
líderes em rede em onda em coletivo
que
jogam as bombas de volta
depois
aparecem os acadêmicos
os
intelectuais os especialistas
os
que explicam exemplificam
os
que tematizam catalogam
os
que departamentalizam equacionam
para
legitimar ou deturpar
segundo
interesses impublicáveis
o
que acontece pelo que se divulga
enquanto
isso a bola rola
na
copa do pão & circo
onde
torcedores vendem o almoço
para
garantirem ingressos
super-ultra-faturados
para
a arena de uniformes & cornetas
de
chutes & passes & Vs de vitória
de
taças & milhões na conta
para
os jogadores nas telas & câmeras
nas
peças publicitárias nos capítulos da nova novela
para
os sorrisos de outdoors
para
os flashes de celebridades
para
tudo continuar o mesmo com a bola no pé
o
mesmo com os discursos parlamentares
o
mesmo para os políticos ditos reformistas
para
os salvadores da pobre pátria
rica
de petróleo matérias-primas
de
commodities de bens de consumo
de
orçamentos superfaturados de obras em andamento
de
hospitais assassinos de médicos ausentes
de
juízes comprados & vendidos de policiais fascistas
pobre
pátria rica de carências & ausências
terra
de gente acomodada até que o circo pega fogo
gigante
adormecido que boceja
ao
horário eleitoral gratuito
terra
de nova classe média, B, C, que seja,
mas
de alienados D e E, diante da tela,
a
espera de uma bolsa governamental qualquer
de
um assistencialismo que gera dependentes
nunca
cidadãos autônomos e críticos
depois
a onda da copa encobre tudo na maré
da
vitória do poster da seleção do verde-e-amarelo
que
faz esquecer a fome a carestia o abandono
a
morte precoce
até
o dia seguinte quando alguém empunha um grito
sob
um cartaz e começa outra vez
outra
tentativa outro brado
outra
manifestação
03jul13
Leonardo
de Magalhaens
Nenhum comentário:
Postar um comentário