sexta-feira, 5 de julho de 2013

empunhar vozes nas ruas - LdeM





empunhar vozes nas ruas


primeiro vieram os estudantes
querem passe livre
protestam contra as passagens de coletivos
tantos gritam sob cartazes
alguma cifra nos jornais
e mais e mais
policiais adentram a cena
e sobra gás & lágrimas
e aumenta a revolta
e mais e mais
estudantes empunham gritos
mais exigências mais urgências
saúde transporte público transparência
uma pauta recitada com punhos
contra políticos corruptos contra fascistas midiáticos
depois contra o governo contra as farsas televisivas
depois mais e mais
punhos e pedras e máscaras e slogans
atingem barreiras e cassetetes e sprays
depois aparecem os políticos
que não entendem as vozes da rua
que não querem entender
depois aparecem os jornalistas
para explicitar os dramas de quebras
quebras de bens e patrimônio
por vândalos arruaceiros anarquistas
jovens raivosos dos black blocs
com máscaras com anonimato
sem líderes em rede em onda em coletivo
que jogam as bombas de volta
depois aparecem os acadêmicos
os intelectuais os especialistas
os que explicam exemplificam
os que tematizam catalogam
os que departamentalizam equacionam
para legitimar ou deturpar
segundo interesses impublicáveis
o que acontece pelo que se divulga
enquanto isso a bola rola
na copa do pão & circo
onde torcedores vendem o almoço
para garantirem ingressos
super-ultra-faturados
para a arena de uniformes & cornetas
de chutes & passes & Vs de vitória
de taças & milhões na conta
para os jogadores nas telas & câmeras
nas peças publicitárias nos capítulos da nova novela
para os sorrisos de outdoors
para os flashes de celebridades
para tudo continuar o mesmo com a bola no pé
o mesmo com os discursos parlamentares
o mesmo para os políticos ditos reformistas
para os salvadores da pobre pátria
rica de petróleo matérias-primas
de commodities de bens de consumo
de orçamentos superfaturados de obras em andamento
de hospitais assassinos de médicos ausentes
de juízes comprados & vendidos de policiais fascistas
pobre pátria rica de carências & ausências
terra de gente acomodada até que o circo pega fogo
gigante adormecido que boceja
ao horário eleitoral gratuito
terra de nova classe média, B, C, que seja,
mas de alienados D e E, diante da tela,
a espera de uma bolsa governamental qualquer
de um assistencialismo que gera dependentes
nunca cidadãos autônomos e críticos
depois a onda da copa encobre tudo na maré
da vitória do poster da seleção do verde-e-amarelo
que faz esquecer a fome a carestia o abandono
a morte precoce
até o dia seguinte quando alguém empunha um grito
sob um cartaz e começa outra vez
outra tentativa outro brado
outra manifestação


03jul13

Leonardo de Magalhaens


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