Literatura
é Arte
Para
mim, leitor atento, a Literatura é sobretudo Arte, até deveria ser
uma disciplina da Belas-Artes, sem qualquer pretensão a ser Ciência
(como pretendem os alemães com sua Literaturwissenschaft),
categoria a qual a Linguística até pode aspirar, e continuar na
Letras, longe da Belas-Artes), sem pretender exatidões de
classificações em cânones e escolas de época, como um catálogo
de obras cuidadosamente compartimentado – prosa, poética, drama,
épico, etc
A
Literatura é acima de tudo liberdade de criação, de expressão, de
denúncia, de testemunho, de imaginação. O autor não é meramente
uma máquina de textos, nem o texto uma fotocópia do autor, nem o
narrador à serviço do acadêmico de plantão. É preciso cessar a
rotulação, catalogação, classificação de tipos e escritas, em
gêneros e escolas, pois, assumamos, tudo se mistura, poéticas
épicas, poemas em prosa, prosa poética, drama em verso, etc, tudo
numa miscelânea indiferente às vontades do crítico.
Não
quero dizer que a Crítica literária seja um esforço inútil, posto
que necessária, sim, para oxigenar as mesmices ao acusar 'as pérolas
lançadas aos porcos' e o 'joio no meio do trigo'. Crítica que visa
'separar alhos de bugalhos', fazer uma leitura atenta ao depurar
aqueles que pecam por falta de uma real estética, estilo, 'efeito
literário'. Pois muitos escrevem, mas poucos são literatos. Excesso
de títulos na estante não significa qualidade, estando esta bem
restrita e seleta. Somente para 'os eleitos'
jun/13
Leonardo
de Magalhaens
.
-- para
o texto (de outrora)
“Precisamos
defender a literatura”
Precisamos
defender a Literatura
dos
interesses da Direita, da Esquerda, do Centro
e
principalmente dos Acadêmicos
O
que seja Literatura, e como a definimos nós que escrevemos, é uma
questão sobre a qual nos debruçamos ao longo de quase uma década,
quando a Escrita assume a importância de uma diálogo nem sempre
viável na vida real . Então Escrever surge como a melhor forma de
'dialogar', de se expressar. Ainda mais visto a infinitude de
palavras que jogamos fora, inutilmente, em conversações diárias.
A
Escrita enquanto 'fixação' da Fala e expressão do Autor, não
importando as 'fronteiras' entre um e outro (mero formalismo
acadêmico) , permite a sobrevivência de Enunciações até alcançar
as novas gerações, onde os textos estão sujeitos a novas
interpretações, adaptações, deturpações e instrumentalizações.
Sendo uma permanente fonte de consulta (e de comentários) a
Literatura vê-se atingida por todos os lados por apropriações a
servirem aos interesses de grupos políticos e econômicos, que visam
a utilização do conteúdo humano e emocional da Escrita.
Seria
uma utilização 'extra-artística' no sentido de além-da-Arte, fora
da Arte, estando esta subordinada a um interesse não-literário,
servindo como transmissor de ideias e não exatamente estética.
Enquanto a proclamação de “Arte pela Arte” defende o
discurso estético em si-mesmo, sem referenciais, sem ligações
políticas e ideológicas. Mas o ?Arte pela Arte? já é (e não
sejamos ingênuos!) uma posição política e ideológica diante da
Escrita.
Assim,
temos duas polaridades. O pólo do texto pelo texto, e o pólo do
texto a favor de algo fora do texto. A Literatura dizendo sobre
si-mesma ou pretendendo se manifestar (e agir) fora do âmbito
literário. E cada grupo social, econômico, ideológico vem se
esforçando por direcionar (ou dizer que a Literatura assim se
direciona...) para um dos pólos. Obscurecendo (ou querendo ignorar)
o fato de que a Escrita é diálogo (do Autor consigo mesmo, do Autor
para o Leitor, dos Leitores uns com os outros...) intermediando os
dois (ou vários...) pólos.
Precisamos,
portanto, defender a Literatura dos interesses da Direita, que
pretende limitar, moralizar, censurar os âmbitos literários, no
propósito de reproduzir o status quo, a conservar a
desigualdade, a garantir os privilégios para as Elites. Defender dos
interesses da Esquerda, que visa instrumentalizar, tornar a Escrita
um veículo panfletário de luta, muitas vezes destruindo a estética.
Defender dos interesses do Centro, que deseja anestesiar as obras
literárias, congelar qualquer debate, postergar qualquer crítica.
E
principalmente defender a Literatura dos interesses dos Acadêmicos,
que se esforçam em normatizar, rotular, compartimentar, ensimesmar a
Escrita, ao fazer a Literatura voltar-se sobre si-mesma, ser
'metalinguagem', conjunto de paradigmas e estruturas, ou então mera
ficção sem referenciais. Onde Enredo são ficções
auto-referenciais, onde as personagens são 'funções textuais'
(assim como para a Sociologia somos 'atores sociais').
Podemos
ouvir, em plena aula de Teoria da Literatura, na FALE-UFMG, a
barbaridade, dita por acadêmicos, nossos professores, que a
Literatura nada diz além de si-mesma, que tem uma função estética
apenas - ou seja, exprime toda aquela visão formalista,
estruturalista, anti-historicista, que é contraponto à visão
marxista (do materialismo-dialético, onde a infra-estrutura
material determina a super-estrutura
cultural-simbólica-discursiva) onde a Literatura é mero produto de
formas sociais, numa dada época histórica, e assim todo texto é
limitado, datado e de teor coletivo (onde ficaria o Autor e o Estilo?
Também o Autor é determinado pelo meio social ...)
Neste
ponto o marxismo está equivocado (principalmente autores como Lukács
e Gramsci), assim como o formalismo (Bakhtin e Todorov) e o
estruturalismo (principalmente Derrida e Kristeva), com poucas
exceções, talvez Foucault e Deleuze, que falam de Texto-Contexto,
Obra-Estilo, Discurso-História. Assim, um absurdo gera em
contraponto um outro absurdo (assim como a humanidade nunca sabe
resolver um problema sem criar outros...) Cada um quer defender um
ponto-de-vista, e esquece que não há uma perspectiva ideal para se
ver o mundo. Tudo são ângulos, parciais e subjetivos, de
observação.
E
é justamente esse pluralismo (nem sempre 'politicamente correto')
que é preciso preservar na Literatura. Caso contrário, cada pólo
vai querer censurar o outro: e para onde vai a 'liberdade de
expressão'? (Com um porém, para os 'liberais', liberdade não
mais é que liberdade para lucrar - e não repensam as consequências
desse 'livre negócio' que gera concentração e pobreza...) A
Literatura não serve a apenas um dos 'polos' mas a todos. A beleza
de obras como Ulisses (de James Joyce) ou Crônica da Casa
Assassinada (de Lúcio Cardoso) está basicamente no uso plural
do discurso, a multiplicidade de visões, a partir do olhar de várias
personagens.
Na
Literatura Brasileira, para sermos específicos (e bons
nacionalistas) temos ótimos autores que falam da Literatura na
Literatura, mas igualmente ótimos escritores nos quais a Literatura
se refere e discute o mundo extra-literário, com ou sem
'engajamento', mas em busca de diálogo, denúncia e testemunho.
(Melhor redação: diálogo plural, denúncia social e testemunho
existencial) A necessidade de 'espelhar' o mundo é sempre 'filtrada'
pela necessidade de expressão. Há um Autor, há um Narrador, há um
Estilo. (Dizemos um Estilo, mas o Estilo pode incluir uma
multiplicidade de características, na mesma obra, e de obra para
obra...)
Temos
um Machado de Assis que preenche suas narrativas (de pouco conteúdo)
com longas digressões, comentários metafísicos, nuances irônicas,
como encontramos em Dom Casmurro e Memórias Póstumas de
Brás Cubas, mas temos igualmente um Graciliano Ramos que fala do
mundo extra-literário, absorvendo-o ao literário (como são
clássicos os exemplos de São Bernardo, Vidas Secas
e Memórias do Cárcere. Temos autores altamente
estéticos, e não podemos deixar de destacar Guimarães Rosa, em
Sagarana e Grande Sertão: Veredas, a mostrarem todo um
interesse sobre o 'mundo extraliterário', onde as personagens não
são meras 'funções textuais', mas representações de gente de
carne e osso, que sofre sob a opressão e geme de angústia.
Temos
autores altamente estéticos e psicológicos (lembramos Clarice
Lispector, Lúcio Cardoso, Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado)
onde o texto tem um propósito, não sendo mera ficção de
'exercício textual', ou 'metalinguagem', mas uma forma de expressar
um desconforto e comunicar este desassossego aos leitores dedicados
(pois a Leitura exige dedicação, não apenas disposição para
lazer e entretenimento), bem diferente de autores (ditos
pós-modernos) que nada dizem além do texto, em um palavrório
auto-referente, vazio de discurso, sem algo de importante a dizer,
nada além de encher páginas e mais páginas de papel, com
caracteres tipográficos inúteis.
A
Literatura enquanto auto-referente é uma porca mastigando o próprio
rabo, rodando em círculos, matando os leitores de tédio (que na
ausência de um real Enredo ficcional, vão preferir os best-sellers
do mês, que entregam mastigadas as fábulas e fantasias da
temporada...) Dizer do dia-a-dia, dizer sobre o que é viver em um
mundo desigual, não é desviar-se da Literatura, mas mostrar que a
Escrita pode testemunhar o mundo ao redor, possibilitando ao Autor
desabafar sobre seus sonhos e pesadelos.
[Set/09]
Leonardo
de Magalhaens
divulgado
no blog
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