quinta-feira, 20 de junho de 2013

minha janela é minha televisão






minha janela é minha televisão


não tenho TV
não vejo paisagens digitais
tenho uma janela
por onde vejo acima
do muro da cerca
uma paisagem de concreto
não vejo futebol
além de um torneio
dos meninos na rua
atrás da bola de trapos
não vejo além do real
que o virtual me nega
na imagem do outro
canal outro vídeo
outro lado do mundo
entrevista da chanceler
manifestação de estudantes
greve de professores
homenagens para burocratas
bacanais para políticos
nada vejo além
de pó cacos de vidro
cerca rompida
faróis de carro
aqui da janela
toda aberta
a sucessão de sins e nãos
a tropa de talvezes
uma turba de quem-me-dera
o tropel de se-eu-pudesse
um turbilhão de esperas
e mais buzinas apitos
carros de som frenagens
faróis angustiados
motoristas apressados
vidas espremidas
entre o cartão de entrada
e a hora de saída
entre sorrisos e caretas
e aplausos de opereta
dia a dia debruçados
sobre a janela tela
de suas vidas outras
para esquecerem o tédio
do existir aí
mera engrenagem do ser
nos giros ébrios
da máquina ativa
vista aqui e acolá
em relampejos na janela
as miragens de outrora
que a vidraça apagou
lá um passado de luzes
aqui um apagar de eras
sobra um vulto surreal
imagens fantasmas
que a tela absorveu
invisíveis aos olhos
e sensíveis ao sentir
ainda embotado em dor
imagens que vão e vem
vistas aqui e acolá
não preciso de televisão
se tenho aqui esta janela.



19jun13



Leonardo de Magalhaens


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