minha
janela é minha televisão
não
tenho TV
não
vejo paisagens digitais
tenho
uma janela
por
onde vejo acima
do
muro da cerca
uma
paisagem de concreto
não
vejo futebol
além
de um torneio
dos
meninos na rua
atrás
da bola de trapos
não
vejo além do real
que
o virtual me nega
na
imagem do outro
canal
outro vídeo
outro
lado do mundo
entrevista
da chanceler
manifestação
de estudantes
greve
de professores
homenagens
para burocratas
bacanais
para políticos
nada
vejo além
de
pó cacos de vidro
cerca
rompida
faróis
de carro
aqui
da janela
toda
aberta
a
sucessão de sins e nãos
a
tropa de talvezes
uma
turba de quem-me-dera
o
tropel de se-eu-pudesse
um
turbilhão de esperas
e
mais buzinas apitos
carros
de som frenagens
faróis
angustiados
motoristas
apressados
vidas
espremidas
entre
o cartão de entrada
e
a hora de saída
entre
sorrisos e caretas
e
aplausos de opereta
dia
a dia debruçados
sobre
a janela tela
de
suas vidas outras
para
esquecerem o tédio
do
existir aí
mera
engrenagem do ser
nos
giros ébrios
da
máquina ativa
vista
aqui e acolá
em
relampejos na janela
as
miragens de outrora
que
a vidraça apagou
lá
um passado de luzes
aqui
um apagar de eras
sobra
um vulto surreal
imagens
fantasmas
que
a tela absorveu
invisíveis
aos olhos
e
sensíveis ao sentir
ainda
embotado em dor
imagens
que vão e vem
vistas
aqui e acolá
não
preciso de televisão
se
tenho aqui esta janela.
19jun13
Leonardo
de Magalhaens
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