Cláudio
Murilo
ODE
À LOUCURA
O
transatlântico do Capitalismo desce pela 5 th Ave.
Repleto
de esquizofrenia.
Quem
não pode ser branco,
manager
executivo
bancário
ou banqueiro
vendedor,
empregado de Trustees and Co.
Vem
pulando e gritando
nesta
Barca dos Loucos
que
desliza mansamente pelo asfalto,
como
um carro alegórico.
Das
138th à 8th street afluem os passageiros,
felizes
e sujos, com os olhos esgazeados pela droga,
conversando
ou discutindo com seus anjos interiores.
Quem
não tem 75 cents pra pegar o subway ou o bus
ou
não quer gastar dinheiro em táxi
goza
da alternativa da Barca,
cuja
infinita capacidade
é
louvada no Guia Turístico: 7.5000 loucos
são
transportados por horas pelas calçadas de NY,
e
muitos, extenuados com a viagem,
se
esticam no tombadilho das praças.
O
ar de Manhattan penetra no cérebro de seus habitantes
apodrecendo
glóbulos vermelhos e enzimas.
Os
loucos viajam envoltos em suas carapaças,
solitários
e aéreos, por roteiros particulares.
Falam,
cantam, gesticulam,
estão
sós na multidão.
Ninguém
deve ter medo do louco de NY,
ele
não ataca, nem mesmo se dirige ao transeunte,
ele
segue à deriva por ruas e avenidas
e
desemboca, sereno, no rio Hudson.
...
SUBWAY
Durante
3 dias e 3 noites viajei em tuas tripas NY,
reino
onde o sol jamais se levanta,
imundo
inferno ambulante,
museu
sem arte da loucura moderna,
painéis
semoventes da violência,
sprays,
sprays, sprays, sprays,
já
vem o trem, já cai o trem, já
vem
o trem carregado de droga,
carregado
de
sexo
carregado
de
ódio
carregado
de
negros.
Subway,
caminho por baixo da pele,
borborigmo,
diarreia.
Ali
viaja a merda diária,
todos
os dejetos – o moço,
a
porra, o lixo, cocô, o cuspe,
o
mijo, o plasma, o magma,
a
alma,
em
direção aos 4 pontos cardiais.
Durante
muitos séculos
correrás
impunemente sobre teus trilhos,
subway,
até
o dua da Parada Final,
quando
os que pedem por justiça
serão
chamados como testemunhas.
Neste
dia,
aqueles
que foram estuprados em teus vagões
serão
ressuscitados
os
que foram roubados
serão
indenizados
os
drogados
chegarão
escoltados por anjos
os
suicidas
receberão
o perdão
os
desempregados, as putas, os maquinistas,
os
veados, os turistas, os crioulos
entrarão
pela última vez em
teus
carros
subway
submundo.
Pela
última vez receberás
os
teus usuários
que
entrarão dentro de ti
entoando
hinos de vitória,
dando
glória ao Senhor por esta derradeira viagem,
que
terá fim em Time Square
Aleluia
onde
serás finalmente julgado por todos os
crimes
perpetrados em teus vagões
Aleluia
por
todos os vícios
Aleluia
pela
violência
Aleluia
e
por todo o mal que abrigaste em ti
Aleluia
Aleluia.
Serás
julgado e condenado
a
que te esvaziem inteiramente.
E
será desligada a chave elétrica geral
e
tapadas com cimento tuas bocas de hálito pestilento.
Ficarás
sós,
no
escuro dos túneis e das estações,
entregue
às ratazanas e ao remorso,
entregue,
enfim, a ti mesmo,
sucata
eterna.
in:
O poeta versus Maniqueu [1984]
na
antologia: LYRA, Pedro. A Poesia da Geração 60. RJ, 1995.
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do poeta & crítico
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