terça-feira, 11 de setembro de 2012

trechos de Jack Kerouac - Vagabundos Iluminados



The Dharma Bums
                     Os Vagabundos Iluminados


Lembrei-me do verso no Sutra do Diamante que diz:
Pratique a caridade
sem ter em mente nenhuma concepção a respeito da
caridade, porque caridade, apesar de tudo, não passa de
uma palavra. Eu era muito devoto naquele tempo e praticava
minha devoção religiosa quase à perfeição. Mas, com o
tempo, acabei ficando um pouco hipócrita em relação à minha
pregação, além de me sentir um pouco cansado e cético.
Porque agora estou tão velho e tão neutro... Mas naquele
tempo eu realmente acreditava na caridade e na gentileza e
na humildade e no zelo e na tranquilidade neutra e na sabe-
doria e no êxtase, e acreditava ser um antigo bhikku com
roupas modernas vagando pelo mundo (geralmente percor-
rendo o imenso arco triangular de Nova York até a Cidade
do México e até São Francisco) para fazer girar a roda do
Verdadeiro Significado, ou Darma, e conquistar méritos
próprios para me transformar em um futuro Buda (Desper-
tado) e em futuro Herói no Paraíso. Ainda não tinha conhe-
cido Japhy Ryder, isso aconteceria na semana seguinte, nem
tinha ouvido falar de nada parecido comVagabundos do
Darmaapesar de naquele tempo eu ser um perfeito Vaga-
bundo do Darma e me considerar um andarilho religioso.
O sujeitinho no vagão de carga deu forma a todas as minhas
crenças ao se aquecer com o vinho e conversar e no final
sacar uma tirinha de papel que continha uma prece de Santa
Tereza anunciando que, depois de sua morte, ela retornaria
à Terra por meio de uma chuva de rosas vinda do céu, para
sempre, para todas as criaturas vivas.


trad. Ana Ban – L&PM Pocket / 2004

...


mais um gole desse garrafão. Uau! Ho! Hu!Japhy pulando:Tenho lido Whitman, sabe o que ele diz, Cheer up slaves, and horrify foreign despots [Alegrem-se escravos e horrorizem os déspotas estrangeiros](*), ele quer dizer que a atitude para o Bardo , o bardo zen-lunático dos antigos caminhos do deserto, a coisa toda como um mundo cheio de andarilhos de mochilas nas costas, Vagabundos do Darma que se recusam a concordar com a afirmação generalizada de que consomem a produção e portanto precisam trabalhar pelo privilégio de consumir, por toda aquela porcaria que não queriam, como refrigeradores, aparelhos de TV, carros, pelo menos os carros novos e chiques, certos óleos de cabelo e desodorante e bobagens em geral que a gente acaba vendo no lixo depois de uma semana, todos eles aprisionados em um sistema de trabalho, produção, consumo, trabalho, produção, consumo, tenho a visão de uma grande revolução de mochilas, milhares ou até mesmo milhões de jovens americanos vagando por com mochilas nas costas, subindo montanhas para rezar, fazendo as crianças rirem e deixando os velhos contentes, deixando meninas alegres e moças ainda mais alegres, todos esses zen-lunáticos que ficam escrevendo poemas que aparecem na cabeça deles sem razão nenhuma e também por serem gentis e também por atos estranhos inesperados vivem proporcionando visões de liberdade para todo mundo e todas as criaturas vivas, (...)


trad. Ana BanL&PM Pocket / 2004


(*) do poema As I Sat Alone by Blue Ontario's Shores. Leaves of Grass.



quotation :::::::::::::


i've been reading whitman, you know what he says, cheer up slaves, and horrify foreign despots, he means that's the attitude for the bard, the zen lunacy bard of old desert paths, see the whole thing is a world full of rucksack wanderers, dharma bums refusing to subscribe to the general demand that they consume production and there have to work for the privilege of consuming, all that crap they didn't really want anyway such as refrigerators, tv sets, cars, at least new fancy cars, certain hair oils and deodorants and general junk you finally always see a week later in the garbage anyway, all of them imprisoned in a system of work, produce, consume, work, produce, consume, i see a vision of a great rucksack revolution thousands or even millions of young americans wandering around with rucksacks, going up into the mountains to pray, making children laugh and old men glad, making young girls happy and old girls happier, all of 'em zen lunatics who go about writing poems that happen to appear in their heads for no reason and also by being kind and also by strange unexpected acts keep giving visions of eternal freedom to everybody and to all living creatures




Jack Kerouac



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