The
Dharma
Bums
Os
Vagabundos
Iluminados
Lembrei-me
do
verso
no
Sutra
do
Diamante
que
diz:
“Pratique
a
caridade
sem
ter
em
mente
nenhuma
concepção
a
respeito
da
caridade,
porque
caridade,
apesar
de
tudo,
não
passa
de
uma
palavra”.
Eu
era
muito
devoto
naquele
tempo
e
praticava
minha
devoção
religiosa
quase
à
perfeição.
Mas,
com
o
tempo,
acabei
ficando
um
pouco
hipócrita
em
relação
à
minha
pregação,
além
de
me
sentir
um
pouco
cansado
e
cético.
Porque
agora
estou
tão
velho
e
tão
neutro...
Mas
naquele
tempo
eu
realmente
acreditava
na
caridade
e
na
gentileza
e
na
humildade
e
no
zelo
e
na
tranquilidade
neutra
e
na
sabe-
doria
e
no
êxtase,
e
acreditava
ser
um
antigo
bhikku
com
roupas
modernas
vagando
pelo
mundo
(geralmente
percor-
rendo
o
imenso
arco
triangular
de
Nova
York
até
a
Cidade
do
México
e
até
São
Francisco)
para
fazer
girar
a
roda
do
Verdadeiro
Significado,
ou
Darma,
e
conquistar
méritos
próprios
para
me
transformar
em
um
futuro
Buda
(Desper-
tado)
e
em
futuro
Herói
no
Paraíso.
Ainda
não
tinha
conhe-
cido
Japhy
Ryder,
isso
aconteceria
na
semana
seguinte,
nem
tinha
ouvido
falar
de
nada
parecido
com
“Vagabundos
do
Darma”
apesar
de
naquele
tempo
eu
ser
um
perfeito
Vaga-
bundo
do
Darma
e
me
considerar
um
andarilho
religioso.
O
sujeitinho
no
vagão
de
carga
deu
forma
a
todas
as
minhas
crenças
ao
se
aquecer
com
o
vinho
e
conversar
e
no
final
sacar
uma
tirinha
de
papel
que
continha
uma
prece
de
Santa
Tereza
anunciando
que,
depois
de
sua
morte,
ela
retornaria
à
Terra
por
meio
de
uma
chuva
de
rosas
vinda
do
céu,
para
sempre,
para
todas
as
criaturas
vivas.
trad. Ana Ban – L&PM
Pocket / 2004
...
“Dá
mais
um
gole
desse
garrafão.
Uau!
Ho!
Hu!”
Japhy
pulando:
“Tenho
lido
Whitman,
sabe
o
que
ele
diz,
Cheer
up
slaves,
and
horrify
foreign
despots
[Alegrem-se
escravos
e
horrorizem
os
déspotas
estrangeiros](*),
ele
quer
dizer
que
a
atitude
para
o
Bardo
,
o
bardo
zen-lunático
dos
antigos
caminhos
do
deserto,
vê
a
coisa
toda
como
um
mundo
cheio
de
andarilhos
de
mochilas
nas
costas,
Vagabundos
do
Darma
que
se
recusam
a
concordar
com
a
afirmação
generalizada
de
que
consomem
a
produção
e
portanto
precisam
trabalhar
pelo
privilégio
de
consumir,
por
toda
aquela
porcaria
que
não
queriam,
como
refrigeradores,
aparelhos
de
TV,
carros,
pelo
menos
os
carros
novos
e
chiques,
certos
óleos
de
cabelo
e
desodorante
e
bobagens
em
geral
que
a
gente
acaba
vendo
no
lixo
depois
de
uma
semana,
todos
eles
aprisionados
em
um
sistema
de
trabalho,
produção,
consumo,
trabalho,
produção,
consumo,
tenho
a
visão
de
uma
grande
revolução
de
mochilas,
milhares
ou
até
mesmo
milhões
de
jovens
americanos
vagando
por
aí
com
mochilas
nas
costas,
subindo
montanhas
para
rezar,
fazendo
as
crianças
rirem
e
deixando
os
velhos
contentes,
deixando
meninas
alegres
e
moças
ainda
mais
alegres,
todos
esses
zen-lunáticos
que
ficam
aí
escrevendo
poemas
que
aparecem
na
cabeça
deles
sem
razão
nenhuma
e
também
por
serem
gentis
e
também
por
atos
estranhos
inesperados
vivem
proporcionando
visões
de
liberdade
para
todo
mundo
e
todas
as
criaturas
vivas,
(...)”
trad.
Ana
Ban
– L&PM
Pocket
/ 2004
(*) do
poema
“As
I
Sat
Alone
by
Blue
Ontario's
Shores”.
Leaves
of
Grass.
quotation :::::::::::::
“i've
been
reading
whitman,
you
know
what
he
says,
cheer
up
slaves,
and
horrify
foreign
despots,
he
means
that's
the
attitude
for
the
bard,
the
zen
lunacy
bard
of
old
desert
paths,
see
the
whole
thing
is
a
world
full
of
rucksack
wanderers,
dharma
bums
refusing
to
subscribe
to
the
general
demand
that
they
consume
production
and
there
have
to
work
for
the
privilege
of
consuming,
all
that
crap
they
didn't
really
want
anyway
such
as
refrigerators,
tv
sets,
cars,
at
least
new
fancy
cars,
certain
hair
oils
and
deodorants
and
general
junk
you
finally
always
see
a
week
later
in
the
garbage
anyway,
all
of
them
imprisoned
in
a
system
of
work,
produce,
consume,
work,
produce,
consume,
i
see
a
vision
of
a
great
rucksack
revolution
thousands
or
even
millions
of
young
americans
wandering
around
with
rucksacks,
going
up
into
the
mountains
to
pray,
making
children
laugh
and
old
men
glad,
making
young
girls
happy
and
old
girls
happier,
all
of
'em
zen
lunatics
who
go
about
writing
poems
that
happen
to
appear
in
their
heads
for
no
reason
and
also
by
being
kind
and
also
by
strange
unexpected
acts
keep
giving
visions
of
eternal
freedom
to
everybody
and
to
all
living
creatures”
Jack
Kerouac
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