quarta-feira, 26 de setembro de 2012

2 poemas de Leo Lobos (Chile)

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Leo Lobos


(Chile)



Jazz no Parque


lemos o jornal no Jazz no Parque (o hotel de onde nos mudamos), me sinto
aprisionado.
Nos convidaram ao concerto de Peter Salett, e é sem dúvida uma boa ideia
para sair daqui e sair ao passo do estado no qual nos encontramos. Um táxi
móvel nos leva ao Clube que está praticamente tomado, entramos sem
dificuldade com a ajuda dos anjos custódios em meio às luzes cegantes,
tomamos bebidas brancas, escutamos com atenção enquanto mulheres ruivas
são agitadas pela música.

...

Vida noturna na cidade
Urban Night Life


Saímos daí disparados a seguir rodando
pelo lado escuro da cidade
um grupo de rastas fumam pelas beiras
de um lugar noturno onde esta noite toca um demônio,
quero ir embora, ainda que o cheiro de tranquilidade que aqui se respira
me retenha, comemos verduras que vendem baixo do pórtico de um arranha-céu
onde nos refugiamos da chuva. Um deles recorta fotografias de revistas e pinta
os marcos onde as expõe sobre um pedestalcaixa, outro desenha em um enorme
bloco com grandes traços
inumeráveis imagens difusas.
Queimamos as antigas imagens que tínhamos deles e em pouco
as nossas se fazem cinzas
que o vento
leva.


trad. LdeM



JAZZ ON THE PARK

leemos el diario en Jazz on the Park (el hotel donde nos hemos mudado ), me siento encerrado.
Nos han invitado al concierto de Peter Salett, y es sin duda una buena idea para salir de aquí y salir al paso del estado en el que nos encontramos. Un taxi móvil nos lleva al Club que está prácticamente copado, entramos sin dificultad con la ayuda de los ángeles custodios en medio de luces cegadoras, tomamos bebidas blancas, escuchamos con atención mientras hermosas mujeres rubias son
mecidas por la música.



URBAN NIGHT LIFE

Salimos de ahí disparados a seguir girando
por el lado oscuro de la ciudad
un grupo de rastas fuma en las afueras
de un local nocturno donde esta noche toca un demonio,
quiero irme, aunque el aroma de tranquilidad que aquí se respira me retiene, comemos verduras que ellos venden bajo el pórtico de un rascacielos donde nos refugiamos de la lluvia. Uno de ellos recorta fotografías de revistas y pinta los marcos donde las expone sobre un pedestal - maleta, otro, dibuja en un enorme block a grandes trazos innumerables imágenes difusas.
Quemamos la antigua imagen que teníamos de ellos y de paso
las nuestras se hacen cenizas
que el viento
lleva.








sobre a poesia de Leo Lobos : http://www.jornaldepoesia.jor.br/bh25lobos.htm



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

¡Azotadme! Açoitai-me! - Oliverio Girondo



Oliverio Girondo (ARG)

Açoitai-me!

Aqui estou,
Açoitai-me!
Mereço que me açoitem.
Não lambi os escolhos,
a sombra das vacas,
as espinhas,
a chuva;
com fervor,
durante anos;
descalço,
estremecido,
absorto,
iluminado.
Não me prostrei no barro,
diante do mistério intacto
do pólen,
da cama,
do verme,
do pasto;
por timidez,
por medo,
por pudor,
por cansaço.
Não adorei os presépios,
as janelas feridas,
os olhos dos burros,
as macieiras,
a aurora;
sem restrição,
de joelhos,
entregue,
desnudo,
com os poros eretos,
com os braços ao vento,
delirante,
sombrio;
em comunhão de espanto,
de humildade,
de ignorância,
como se houvesse desejado...
como se houvesse desejado!


Trad. LdeM


Oliverio Girondo


¡Azotadme!

Aquí estoy,
¡Azotadme!
Merezco que me azoten.
No lamí la rompiente,
la sombra de las vacas,
las espinas,
la lluvia;
con fervor,
durante años;
descalzo,
estremecido,
absorto,
iluminado.
No me postré ante el barro,
ante el misterio intacto
del polen,
de la cama,
del gusano,
del pasto;
por timidez,
por miedo,
por pudor,
por cansancio.
No adoré los pesebres,
las ventanas heridas,
los ojos de los burros,
los manzanos,
el alba;
sin restricción,
de hinojos,
entregado,
desnudo,
con los poros erectos,
con los brazos al viento,
delirante,
sombrío;
en comunión de espanto,
de humildad,
de ignorancia,
como hubiera deseado...
¡como hubiera deseado!


(en el libro "Persuasión de los días")







mais links para poemas:



terça-feira, 11 de setembro de 2012

trechos de Jack Kerouac - Vagabundos Iluminados



The Dharma Bums
                     Os Vagabundos Iluminados


Lembrei-me do verso no Sutra do Diamante que diz:
Pratique a caridade
sem ter em mente nenhuma concepção a respeito da
caridade, porque caridade, apesar de tudo, não passa de
uma palavra. Eu era muito devoto naquele tempo e praticava
minha devoção religiosa quase à perfeição. Mas, com o
tempo, acabei ficando um pouco hipócrita em relação à minha
pregação, além de me sentir um pouco cansado e cético.
Porque agora estou tão velho e tão neutro... Mas naquele
tempo eu realmente acreditava na caridade e na gentileza e
na humildade e no zelo e na tranquilidade neutra e na sabe-
doria e no êxtase, e acreditava ser um antigo bhikku com
roupas modernas vagando pelo mundo (geralmente percor-
rendo o imenso arco triangular de Nova York até a Cidade
do México e até São Francisco) para fazer girar a roda do
Verdadeiro Significado, ou Darma, e conquistar méritos
próprios para me transformar em um futuro Buda (Desper-
tado) e em futuro Herói no Paraíso. Ainda não tinha conhe-
cido Japhy Ryder, isso aconteceria na semana seguinte, nem
tinha ouvido falar de nada parecido comVagabundos do
Darmaapesar de naquele tempo eu ser um perfeito Vaga-
bundo do Darma e me considerar um andarilho religioso.
O sujeitinho no vagão de carga deu forma a todas as minhas
crenças ao se aquecer com o vinho e conversar e no final
sacar uma tirinha de papel que continha uma prece de Santa
Tereza anunciando que, depois de sua morte, ela retornaria
à Terra por meio de uma chuva de rosas vinda do céu, para
sempre, para todas as criaturas vivas.


trad. Ana Ban – L&PM Pocket / 2004

...


mais um gole desse garrafão. Uau! Ho! Hu!Japhy pulando:Tenho lido Whitman, sabe o que ele diz, Cheer up slaves, and horrify foreign despots [Alegrem-se escravos e horrorizem os déspotas estrangeiros](*), ele quer dizer que a atitude para o Bardo , o bardo zen-lunático dos antigos caminhos do deserto, a coisa toda como um mundo cheio de andarilhos de mochilas nas costas, Vagabundos do Darma que se recusam a concordar com a afirmação generalizada de que consomem a produção e portanto precisam trabalhar pelo privilégio de consumir, por toda aquela porcaria que não queriam, como refrigeradores, aparelhos de TV, carros, pelo menos os carros novos e chiques, certos óleos de cabelo e desodorante e bobagens em geral que a gente acaba vendo no lixo depois de uma semana, todos eles aprisionados em um sistema de trabalho, produção, consumo, trabalho, produção, consumo, tenho a visão de uma grande revolução de mochilas, milhares ou até mesmo milhões de jovens americanos vagando por com mochilas nas costas, subindo montanhas para rezar, fazendo as crianças rirem e deixando os velhos contentes, deixando meninas alegres e moças ainda mais alegres, todos esses zen-lunáticos que ficam escrevendo poemas que aparecem na cabeça deles sem razão nenhuma e também por serem gentis e também por atos estranhos inesperados vivem proporcionando visões de liberdade para todo mundo e todas as criaturas vivas, (...)


trad. Ana BanL&PM Pocket / 2004


(*) do poema As I Sat Alone by Blue Ontario's Shores. Leaves of Grass.



quotation :::::::::::::


i've been reading whitman, you know what he says, cheer up slaves, and horrify foreign despots, he means that's the attitude for the bard, the zen lunacy bard of old desert paths, see the whole thing is a world full of rucksack wanderers, dharma bums refusing to subscribe to the general demand that they consume production and there have to work for the privilege of consuming, all that crap they didn't really want anyway such as refrigerators, tv sets, cars, at least new fancy cars, certain hair oils and deodorants and general junk you finally always see a week later in the garbage anyway, all of them imprisoned in a system of work, produce, consume, work, produce, consume, i see a vision of a great rucksack revolution thousands or even millions of young americans wandering around with rucksacks, going up into the mountains to pray, making children laugh and old men glad, making young girls happy and old girls happier, all of 'em zen lunatics who go about writing poems that happen to appear in their heads for no reason and also by being kind and also by strange unexpected acts keep giving visions of eternal freedom to everybody and to all living creatures




Jack Kerouac