ODE SENSACIONAL
(trechos)
Prólogo
Não queremos o lirismo dos luares e dos pastos verdejantes
Não queremos o lirismo dos luares e dos pastos verdejantes
Não queremos a melodia das aves no borbulhar das cachoeiras
Não queremos o sinfônico farfalhar das folhas outonais
Não queremos cantar sobre ninfas e faunos em peripécias eróticas
Não queremos discutir sublimidades metafísicas em soturna companhia!
Queremos a poesia das máquinas registradoras e das chamadas telefônicas
Queremos a poesia e o bailar dos megabytes na rede mundial de computadores
Queremos a dinâmica superaquecida das pistas de dança
Queremos a invasão cegante das legiões de faróis
Queremos a imundícia das ruas e a brisa fétida das latrinas públicas
Queremos a arrogância das cercas elétricas e a afronta dos portões eletrônicos
Queremos o ambiente asséptico dos shoppings e a paz marcial dos condomínios
Queremos o cansaço diário dos operários nas engrenagens das máquinas
Queremos a estupidez galopante dos escravos voluntários
Queremos o desnível das riquezas e a desigualdade dos atores sociais
Queremos a exploração do suor alheio e a falta de oportunidades
Queremos os cartazes de propaganda com a Musa televisiva de biquíni
Queremos os desequilíbrios econômicos e as variações das taxas de juros
Queremos o insone carisma dos líderes pastoreando as multidões histéricas
Queremos o estrondo dos morteiros e o metralhar dos subúrbios em guerra
Queremos a perversidade inerente às falsas flores de plástico !
Ode Urbana
fluxos torrenciais de faróis encobrem o anoitecer de fuligens
nas avenidas de contornos serpentinos e labirintos de alamedas
onde trinta e sete por cento da população economicamente ativa vive na informalidade do subemprego
ou vultos se abrigam sob as tendas de concreto armado –
elevados cruzam hipervias em alta velocidade Setenta por cento dos veículos com IPVAs em dia
em velocidade superior a sessenta quilômetros por hora
quando os quatro vagões do metro ( e suas quarenta janelas) iluminam os pilares dos viadutos
e dois vultos em trapos contemplam o desfile cinematográfico de faces e olhares se derramam na sucessão de trilhos e luzes noturnas
os pirilampos frutos de monstruosas turbinas de grotescos megawatts
fritando as pupilas e impulsionando os motores e roldanas
nos níveis e subníveis de plataformas e estações
e os subterrâneos e os quilômetros de canais e quilômetros de fios sepultados
e as galerias e sondas e trituradoras e carrinhos de tração
extraindo riqueza do subsolo para a ganância dos escritórios
nos arranha-céus de argamassa e vidro a flutuarem meio aos anúncios de néon
quando não ofuscados pela fuligem das chaminés pós-industriais
nas torres pós-modernas de alumínio e isopor e laminados e recicláveis
onde funcionários sorridentes ocultam o estresse diário sob roupas de fios artificiais
de conhecida marca
em cortes de alta costura e detalhes os mais inusitados
manuseando teclas e mensagens nos telefones celulares
sob a carícia dos condicionadores de ar nos mundos lacrados
no paraíso das máquinas em apoteose nos domínios virtuais na eficiência topográfica
das infovias no mainfream dos servidores
na performance tecnoestética dos supercondutores
até os limites do deserto do real palmitando o cyberespaço das neo-mitologias digitais
quando a tecla pressionada responde ao toque com promessas de orgasmos
no cruzamento de magias e tecnologias de última (e pós-última) geração
engavetando juventudes nos vãos dos edifícios suburbanos
nas velocidade tremulantes dos coletivos intermunicipais
além de conflitos de ocupação dos espaços públicos (e dos serviços públicos)
quando as autoridades buscam o Bem-Estar Social e o bem comum
através do poder público (segundo consta nos parágrafos e incisos
da Lei Orgânica do município )
na paisagem lunar dos estacionamentos no abandono das autopistas noite adentro
sob a névoa rubra de mercúrio na brisa arrepiando o asfalto
no agito das lojas de conveniência e artigos para consumo
no trânsito vertiginoso de veículos de duas rodas nos acidentes com fratura múltipla
sob os lampiões voltaicos e a lua cheia fatiada por fios de alta tensão.
by Leonardo de Magalhaens
http://leoleituraescrita.blogspot.com
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