segunda-feira, 31 de julho de 2017

2 poemas de LEONARDO ARAÚJO








LEONARDO ARAÚJO



CANTO DE ENTRADA

Não lavro palavras em vão.
O verbo que cresce no peito
é sol ganhando o corpo,
pássaro arranhando as entranhas.

Não deito este gesto em vão.
O punho que desenha o poema
é lâmina rasgando o silêncio,
ave em estado de canto e dor.

Evoco palavras que cortam
ao feitio de foice
e perfilam os calos da mão.

Palavras sombrias,
mas sempre decifráveis
como frutos e estações.

Palavras de esperança
que em meu peito arquivo
como queira guarda um vendaval.




...






SERMÃO DOS POEMAS FORAGIDOS DO PEITO


Os poemas foragidos do peito
discursam por vossas mãos,
soluçam por vossa alma
confinada no paraíso das avenidas,
suspiram por vossa saudade
nas cartas de amor extraviadas
pela via láctea dos correios.


Os poemas foragidos do peito
se encontram além das paralelas
em que vosso corpo penetra,
desenhando a geometria do encontro,
ou no pulsar dos pequenos objetos
que habitam vosso mundo.


Os poemas foragidos do peito
alvorecem em cada travessia
vossos passos adormecidos
e avançam pelas paredes de vossa morada
qual plantas sobreviventes do caos.




in Aprendiz de Alquimia [1984]






mais em http://www.leonardoaraujo.net/poemas_no_tapa.php








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