AFONSO
HENRIQUES NETO
Desconhecido
Tudo
o que está preso há de um dia se livrar.
O poema é sempre mais livre que o próprio ar.
Vejam as vozes de madeira encarceradas
em manequins sombrios nos fundos de um depósito
ou mesmo nas feéricas vitrinas onde a treva manietada
cospe iodo.
Vejam como essas vozes de madeira se esforçam
para se safar
para caminhar nos passos de qualquer passante
que lá se vai adiante sem nada
nada notar.
Vejam a enfermeira arrancando da cama lençóis de lodo
depois que levaram o corpo para o último banho
e o quarto se trancou em escamas obsessivas.
Vejam o esforço da aurora para romper esses muros mofados
os olhos trancafiados na sombra até o fim dos abismos.
Vejam que a própria manhã e seus inflamados
leopardos
arrasta uma corrente de repetida exaustão
por essas chamas e esses ruídos de língua nova ou de latim
de asfixiada saudade
fúria de ouro a sangrar sem idade.
Tudo o que está preso há de um dia se livrar.
O poema é sonho mais livre que o próprio sonhar.
O poema é sempre mais livre que o próprio ar.
Vejam as vozes de madeira encarceradas
em manequins sombrios nos fundos de um depósito
ou mesmo nas feéricas vitrinas onde a treva manietada
cospe iodo.
Vejam como essas vozes de madeira se esforçam
para se safar
para caminhar nos passos de qualquer passante
que lá se vai adiante sem nada
nada notar.
Vejam a enfermeira arrancando da cama lençóis de lodo
depois que levaram o corpo para o último banho
e o quarto se trancou em escamas obsessivas.
Vejam o esforço da aurora para romper esses muros mofados
os olhos trancafiados na sombra até o fim dos abismos.
Vejam que a própria manhã e seus inflamados
leopardos
arrasta uma corrente de repetida exaustão
por essas chamas e esses ruídos de língua nova ou de latim
de asfixiada saudade
fúria de ouro a sangrar sem idade.
Tudo o que está preso há de um dia se livrar.
O poema é sonho mais livre que o próprio sonhar.
…
Basta
de Poesia
nuvens
de cimento não pertencem à paisagem
ventos de granito em discursos descabelados
porque arte não é coisa de amadores
é matéria pra profissional mesmo
assim é melhor botar a juventude pra fora da sala
e do tempo
os jovens costumam delirar demais
pela arte
que no fim das contas é coleção de febres & abismos de transe
vulcões empedrados & fumo gelado pra velhos vagabundos
salvos do incêndio na galeria desesperançada
pois aqui só leva o prêmio quem não apostar porra nenhuma
ou quem mijar de tanto rir da cara
desses senhores que flutuam por entre acervos de museus
e colam maus poetas e artistas amigos em edições de luxo
mais literatura marqueteira nas grandes editoras & feiras
falando da arte como se fosse um empíreo
de fabulações fabulosas a mastigar
solenes voragens de ouro
& brinquedinhos semânticos com palavras estripadas
pelos profissionais das vanguardas
todos criticamente estupidamente bem penteados
em teorias ideologias midiáticas pulsantes
e vai se ver é tudo isso junto mesmo
ventos de granito em discursos descabelados
porque arte não é coisa de amadores
é matéria pra profissional mesmo
assim é melhor botar a juventude pra fora da sala
e do tempo
os jovens costumam delirar demais
pela arte
que no fim das contas é coleção de febres & abismos de transe
vulcões empedrados & fumo gelado pra velhos vagabundos
salvos do incêndio na galeria desesperançada
pois aqui só leva o prêmio quem não apostar porra nenhuma
ou quem mijar de tanto rir da cara
desses senhores que flutuam por entre acervos de museus
e colam maus poetas e artistas amigos em edições de luxo
mais literatura marqueteira nas grandes editoras & feiras
falando da arte como se fosse um empíreo
de fabulações fabulosas a mastigar
solenes voragens de ouro
& brinquedinhos semânticos com palavras estripadas
pelos profissionais das vanguardas
todos criticamente estupidamente bem penteados
em teorias ideologias midiáticas pulsantes
e vai se ver é tudo isso junto mesmo
no fundo a poesia está pouco se lixando
para o lixo que as cidades costumam empilhar
poesia que sempre é chamada para lavar
lençóis nebulosos de epidemias criminosas
mesmo se ninguém saiba que merda de poesia é essa
um áspero lautréamont no semear neblinas negras
(venha venha oh sublime silêncio constelado
para expulsar os demônios e limpar os escarros
desses delírios que vícios escamaram)
ENTÃO
vocês
que fuzilaram garcía lorca
&
cozinham crianças nas nuvens dos sacrifícios
vocês
que destroçaram caminhos
&
continuam a fabricar extermínios
nas
tempestades de armas nas arquiteturas de amônia
nos
verbos dos genocídios
vocês
que chacinaram noites & dias
com
terremotos de mil vírus explosivos
&
se persignam ao moerem ossos vivos
vocês
que rapinam o ouro nos úteros do orvalho
vocês
que trancados nos salões sombrios
dispõem
das tripas da vida & dos demônios da morte
impermeáveis
aos gritos por todos os tímpanos moídos
vocês
que trucidaram os ventos serão cobertos pela praga
dos
bichos torrados nas florestas de cálcio
convulsões
de oceanos purulentos
&
rios empedrados nas fontes que urinam
vaginas
sem suco & sêmens se esvaecendo
púrpuros
berros de suicidas ardendo
abismos
& mandíbulas trituradas nas invernias
vocês
que serão os últimos consumidos
nas
malhas em febre das cidades que agonizam
vocês
que assistirão em transe o desfile das terríveis profecias
por
sobre um carnaval de navalhas & máscaras vazias
vocês
que uivarão vomitando
catedrais
de miasmas das radioativas neblinas
vocês
apodrecidos sem lamento
vocês
que rasgaram as primaveras
vocês
que assassinaram os ventos
in
UMA
CERVEJA NO DILÚVIO
/ 2011