fonte
da imagem (do poeta) :
http://triojose.blogspot.com.br/p/integrantes.html
PAULO
NUNES
CONFISSÃO
E PRÓLOGO
Vós
habitais um quarto pobre, misturado à vida.
Antonin
Artaud
Na
minha mera e já quase velha opinião
os
poetas sábios, demasiadamente sábios,
desaprenderam
a inocência e o espanto,
e
por isso, de fato, sabem tão pouco:
sequer
suspeitam a impronunciável,
contudo
plena arte de respirar.
Vêm
e nos dão um embrulho
talvez
belo, certamente bem feito,
sem
a laçada e o papel-estampa
(afinal,
é sempre outra a moda);
porém,
abrimo-lo e o sabemos vazio:
guardaram-se,
avaros, do lado de fora,
polícias
disfarçados de poetas
olhando-se
com temeroso respeito,
também
sem grana para o pão
e
comprando na página branca o céu
e
que assim passam – muito bem.
Quanto
a mim, venho seguindo o fio frágil
tecido
de sonho, medo e oxigênio
e
sinceramente confesso nunca saber
para
onde este fio me conduz e me perde;
não
me detive a falar com pedras
no
lugar de ouvir estrelas,
mas
me pus a indagar o corpo, a vida,
o
universo desmedido que em mim coube
ou
antes, a vida, o corpo, puseram-se
a
andar também no que, incerto, escrevo.
Roubo
ao acaso, à zona de sombra,
aos
meus próprios e alheios gestos
a
mínima letra, pobre iluminura
que
não se basta, mas borda o escuro.
E
se a obra é, de antemão, inconclusa,
talvez
nasça disso o vero voo,
talvez
seja necessário – mas isso não
é
lei, não há lei – não ser tão sábio
para
um dia, quem sabe, compreender
que
a poesia, esta sempre outra coisa,
não
é nem a mosca nem o zênite,
porém
os dois juntos, amantes,
ampulheta
em infinita entrega,
plena
de risos, lágrimas e... minutos.
Mais
valioso que um tesouro
ao
cabo de um mapa de palavras
julgo
ser qualquer diário achado,
seja
em linguagem de adolescente
ou
na de um velho cuja caduquice
inclui
saber latim e grego
e
que, ainda tímido, se abeira do fim
falando
a outros, às vezes jovens, mortos.
Assim,
aqui estou – nu, inaugural
e,
sujando com o pulso o silêncio, aqui está,
brilhando
de merda, êxtase e sangue,
bailando
entre o espírito e o espirro,
eternamente
escrita e improvisada,
a
minha, leitor, a tua? a alheia,
a
agora liberta e nenhuma
biografia.
…
DA
PONTUAÇÃO
As
vírgulas tarde aprendemos:
na
fase esquecida por Freud
em
que prendemos e soltamos
o
ar, independente do tórax.
Que
gozo! E além disso são elas
que
nos introduzem na arte
de
mentir e se arrepender.
Mas
muito tempo antes, chorávamos...
Éramos
puros, reticentes
depois
fomos exclamativos
e
enfim começamos a andar
ligando
um nome a outro nome,
fazendo
as coisas se chocarem.
Desde
então abrimos a boca
e
as interrogações nos fisgam.
E,
bichos do chão, receosos
nada
afirmativos seguimos
preenchendo
o branco sempre adiante.
Quando,
numa curva, a pergunta
(não
em vão o mundo é redondo)
desiste
– e encontra a resposta.
Ó
vida inacabada e pronta!
Nascer
é a primeira morte
e
sem uma única lição
usamos
o ponto final.
Nasce
conosco este sinal.
Paulo
Nunes
nasceu em Patos de Minas (MG), em 1965. Formado em filosofia, é
livreiro na Universidade de São Paulo. Poeta e letrista musical, tem
textos publicados em diversas revistas e jornais literários. Editou,
em 2001, a obra "Meu canto é saudade", que reúne a
produção de Juca da Angélica, expoente da poesia oral do interior
de Minas Gerais. Lançou este ano, seu primeiro livro de poemas, "O
corpo no escuro" (companhia das letras), do qual foram
selecionados estes
poemas.
http://www.mallarmargens.com/2014/03/15-poemas-de-paulo-nunes.html
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