DANTAS
MOTA
[1913-1974]
QUE
DURO TEMPO
Que
duro tempo, amigos! Nem direi:
-Irmãos,
que rudes fronteiras separam
Entre
o ódio, a fome e o amor.
Tanta
noite sobre nós já passada,
Que
o tempo mal se deixa entrever
No
fundo ruço da neblina triste.
Há
chuva no mundo? Há lama na forja?
Há
dedos tecendo sóis em silêncio,
Mãos
que falam de possíveis eventos.
Mas
na solidão teu corpo se agita.
Vem
das chuvas e dos natais completos
Atrás
da vidraça em dura ausência.
Lá
fora bem que pode haver a tarde,
A
tarde e outras crianças da vila
De
roda e cantos brincando.
As
sombras da noite, de novo, se
Deitariam
sobre a terra de si já viúva
De
tantos dotes, alegrias tantas.
E
a tua infância em face neutra ficara.
Breves
as mãos que roçaram braços
Brancos
e te fizeram sugar beijos
Frustros
que hoje vos não acalantam.
As
rugas, porém, confluídas num só fim,
Dizem
de males apenas caminhando.
Fonte:
Suplemento Literário MG / set / out 2013 Edição 1.350
…
NOTURNO
DE BELO HORIZONTE
O
chope não me traz o desejado esquecimento
Os insetos morrem de encontro à lâmpada
Ou se açoitam no sofrimento destas rosas secas.
Vem do Montanhês este ar de farra oculta,
Bem mineira, e um trombone, atravessando
A pensão "Wankie", próxima à Empresa Funerária,
Acorda os mortos desolados na Rua Varginha.
Uma lua muito calma desce do Rola-Moça
E se deita, magoada, sobre os jardins da Praça,
O telhado do Mercado Novo, o bairro da Lagoinha.
Tísicos bóiam que nem defuntos na solidão
Dos Guaicurus. O próprio noturno de Belo Horizonte
Tem lá suas virtudes: nas pensões mais imorais
Há sempre um Cristo manso falando à Samaritana.
As mulheres do Norte de Minas, uma de Guanhães,
Duas de Grão-Mogol e três da cidade do Serro
Mandam ao ar esta canção intolerável
Que aborrece até mesmo o poeta Evágrio.
Pobre Evágrio, perdido na estação de Austin.
Triste e duro como uma garrafa sobre a mesa.
Entanto nada indica haja tiros, facadas, brigas
De amantes na Rua São Paulo, calma e sem epístolas.
O Arrudas desce tranquilo, grosso e pesado,
Carregando cervejas, fetos guardados, rótulos de
Farmácia, águas tristes refletindo estrelas.
Tudo, ao depois, continuará irremediavelmente
Como no princípio. Somente, ao longe,
Na solidão de um poste, num fim de rua,
O vento agita o capote do guarda.
Os insetos morrem de encontro à lâmpada
Ou se açoitam no sofrimento destas rosas secas.
Vem do Montanhês este ar de farra oculta,
Bem mineira, e um trombone, atravessando
A pensão "Wankie", próxima à Empresa Funerária,
Acorda os mortos desolados na Rua Varginha.
Uma lua muito calma desce do Rola-Moça
E se deita, magoada, sobre os jardins da Praça,
O telhado do Mercado Novo, o bairro da Lagoinha.
Tísicos bóiam que nem defuntos na solidão
Dos Guaicurus. O próprio noturno de Belo Horizonte
Tem lá suas virtudes: nas pensões mais imorais
Há sempre um Cristo manso falando à Samaritana.
As mulheres do Norte de Minas, uma de Guanhães,
Duas de Grão-Mogol e três da cidade do Serro
Mandam ao ar esta canção intolerável
Que aborrece até mesmo o poeta Evágrio.
Pobre Evágrio, perdido na estação de Austin.
Triste e duro como uma garrafa sobre a mesa.
Entanto nada indica haja tiros, facadas, brigas
De amantes na Rua São Paulo, calma e sem epístolas.
O Arrudas desce tranquilo, grosso e pesado,
Carregando cervejas, fetos guardados, rótulos de
Farmácia, águas tristes refletindo estrelas.
Tudo, ao depois, continuará irremediavelmente
Como no princípio. Somente, ao longe,
Na solidão de um poste, num fim de rua,
O vento agita o capote do guarda.
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