CARLOS
NEJAR
(RS,
1939-)
GIORDANO
BRUNO FALA AOS SEUS JULGADORES
Não
é a mim
que
condenais.
Nada
podeis
roubar-me.
A
verdade sofreu
e
eu sofri
no
grão dos ossos.
A
vida não me veio
para
mim.
E
servirei de vau
a
seu moinho.
Não
cedo
o
que aprendi
com
os elementos.
Prefiro
o fogo
à
vossa complacência.
E
o fogo não remói
o
que está vendo.
Abre
flancos
no
avental
das
cinzas esbraseadas.
O
fogo
de
flamejante língua
e
sem coleira:
morde.
E
testemunha
sem
favor dos anjos.
Não
é a mim
que
condenais.
A
Inquisição
vos
fragmentou
e
ao vosso juízo.
A
ciência toda
à
aparência de outra
que
nada em nós
como
se fora água
do
coração.
Eu
me fiei
ao
universo
e
sou janela de harmonia
indelével.
Não
vos julgo.
O
que se move
é
a história
no
caule da fogueira.
Sou
de uma raça
que
procede do fogo.
Não
poderei calar-me.
…
BALADA
AOS HERÓIS DAS BATALHAS
Os
mortos já repousam
plácidos
junto ao relvado
de
um dia pleno, saciado.
A
história que foi vivida
alma
adentro: seus temores
vencidos,
amores findos,
com
eles jaz. A batalha
e
seu fragor, sua mortalha
o
ar resguarda, suas vozes
no
descampado ainda vagam.
O
canto da terra neles
e
a dor ficou sob o céu,
com
lençóis alvos, bordados
de
pedra e ervas. O véu
da
morte num sorvo apagam,
coesos,
que a morte tomba,
assim
que na onda os prende.
Ou
morre a morte na lava
da
primavera que come
folhas,
sombras. E mais nada
que
o nada encobre. Por eles
nenhuma
paixão ou sede
em
chão desarmado chora.
E
às vezes, revoam, aves
enquanto
as flores se abrem
pelos
seus ossos de aurora.
in:
Os Viventes / 1999
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do poeta
...
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