Ontologia
sumaríssima
Umas quatro ou cinco coisas,
no máximo, são reais.
A primeira é só um gás
que provoca a sensação
de que existe no mundo
uma profusão de coisas.
A segunda é comprida,
aguda, dura e sem cor.
Sua única serventia
é instaurar a dor.
A terceira é redondinha,
macia, lisa, translúcida,
e mais frágil do que espuma.
Não serve para coisa alguma.
A quarta é escura e viscosa,
como uma tinta. Ela ocupa
todo e qualquer espaço
onde não se encontre a quinta
(se é que existe mesmo a quinta),
a qual é uma vaga suspeita
de que as quatro acima arroladas
sejam tudo o que resta
de alguma coisa malfeita
torta e mal-ajambrada
que há muito já apodreceu.
Fora essas quatro ou cinco
não há nada,
nem tu, leitor,
nem eu.
Umas quatro ou cinco coisas,
no máximo, são reais.
A primeira é só um gás
que provoca a sensação
de que existe no mundo
uma profusão de coisas.
A segunda é comprida,
aguda, dura e sem cor.
Sua única serventia
é instaurar a dor.
A terceira é redondinha,
macia, lisa, translúcida,
e mais frágil do que espuma.
Não serve para coisa alguma.
A quarta é escura e viscosa,
como uma tinta. Ela ocupa
todo e qualquer espaço
onde não se encontre a quinta
(se é que existe mesmo a quinta),
a qual é uma vaga suspeita
de que as quatro acima arroladas
sejam tudo o que resta
de alguma coisa malfeita
torta e mal-ajambrada
que há muito já apodreceu.
Fora essas quatro ou cinco
não há nada,
nem tu, leitor,
nem eu.
Paulo
Henriques Britto
Ecce
Homo
Não
ser quem não se é é coisa trabalhosa.
Exige
a disciplina austera e rigorosa
de
quem, achando pouco simplesmente ser,
requer
o luxo adicional de parecer.
As
essências enganam, e o eu é tão escasso
que
há que ocupar com alguma coisa tanto espaço,
e
nada como a negação da negação
pra
efetuar tão delicada operação.
E
pronto: está completo. O homem mais o andróide,
imune
a suave
mari magno e
Schadenfreude,
ser
e não ser na mais perfeita sintonia.
Use
e abuse. A coisa vem com garantia.
Paulo
Henriques Britto
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