quinta-feira, 26 de maio de 2011

Viagem Noturna pela ponte do Reno em Colônia (Stadler)





Viagem noturna pela ponte do Reno em Colônia


O trem expresso avança e perfura a escuridão.
Nenhuma estrela adiante. O mundo todo é apenas uma estreita galeria de mina
envolta pela noite,
Às vezes estruturas de luz azul dilaceram abruptos horizontes: círculo de fogo
De lampiões, telhados, chaminés, vaporizando, escorrendo... apenas por
uns segundos...
E tudo novamente escurece. Como se seguíssemos dentro das entranhas
da noite até os estratos
Ainda as luzes bruxuleiam... confusas, sem-consolo, isoladas... mais..
e... se juntam... e se adensam.
Esqueletos de fachadas cinzentas se deixavam a empalidecer na penumbra,
mortas – algo virá... ó sinto-o com pesar
Na mente. Uma agonia canta no sangue.  Então o chão ressoou
de súbito tal um mar:
Voamos, lá no alto, iguais aos reis através do ar noturno, alto acima
da corrente-fluvial.  Ó arco de milhões de luzes, vígila calada,
Diante de cuja parada brilhante as águas escorrem pesadas.
À noite infinda fila de árvores a fazer saudação!
Iguais aos fachos tempestuosos! Alegria! Saudação de navios sobre o
mar azul ! Festa estrelada!
Fervilhando, com olhos claros adiantados! Até onde a cidade com
as últimas casas deixa seus hóspedes.
E então as longas solidões. Margens desnudas. Calma. Noite.
Reflexão. Introspecção. Comunhão. E ardor e impulso
Até os últimos, abençoantes. Para a festa da fertilidade.
Para a volúpia. Para a devoção. Para o mar. Para o declínio.



trad. livre: Leonardo de Magalhaens





Fahrt durch die Kölner Rheinbrücke bei Nacht


Der Schnellzug tastet sich und stößt die Dunkelheit entlang.
Kein Stern will vor. Die ganze Welt ist nur ein enger,
nachtumschienter Minengang,
Darein zuweilen Förderstellen blauen Lichtes jähe Horizonte reißen:
Feuerkreis
Von Kugellampen, Dächern, Schloten, dampfend, strömend . . .
nur sekundenweis . . .
Und wieder alles schwarz. Als führen wir ins Eingeweid der Nacht
zur Schicht.
Nun taumeln Lichter her . . . verirrt, trostlos vereinsamt . . .
mehr . . . und sammeln sich . . . und werden dicht.
Gerippe grauer Häuserfronten liegen bloß, im Zwielicht bleichend,
tot — etwas muß kommen . . .o, ich fühl es schwer
Im Hirn. Eine Beklemmung singt im Blut. Dann dröhnt der Boden
plötzlich wie ein Meer:
Wir fliegen, aufgehoben, königlich durch nachtentrissne Luft,
hoch überm Strom. O Biegung der Millionen Lichter, stumme Wacht,
Vor deren blitzender Parade schwer die Wasser abwärts rollen.
Endloses Spalier, zum Gruß gestellt bei Nacht!
Wie Fackeln stürmend! Freudiges! Salut von Schiffen über blauer See!
Bestirntes Fest!
Wimmelnd, mit hellen Augen hingedrängt! Bis wo die Stadt mit letzten
Häusern ihren Gast entläßt.
Und dann die langen Einsamkeiten. Nackte Ufer. Stille. Nacht.
Besinnung. Einkehr. Kommunion. Und Glut und Drang
Zum Letzten, Segnenden. Zum Zeugungsfest. Zur Wollust.
Zum Gebet. Zum Meer. Zum Untergang.



(1913)



Ernst Stadler





sábado, 21 de maio de 2011

2 poemas de Charles Bukowski






A Tragédia das Folhas


.
acordei numa secura e as samambaias, mortas,
nos potes as plantas amarelas igual milho;
minha mulher foi embora
e as garrafas vazias iguais corpos sangrados
ao meu redor sem utilidade;
o sol ainda era bom, apesar disso,
e o bilhete da senhoria ia bem e
num tom amarelado sem demandas;
o que era preciso agora
era um bom comediante, estilo antigo, um bobo
com piadas sobre a dor absurda; a dor é absurda
porque existe, nada mais;
fiz a barba cuidadosamente com
uma velha lâmina,
o homem que já foi jovem e
que diziam ser genial; mas
essa é a tragédia das folhas,
das samambaias mortas,
das plantas mortas;
e eu entrei num corredor escuro
onde a senhoria de pé esperava,
malcriada e terminal,
me mandando pro inferno,
balançando seus braços gordos e suados
e gritando
gritando para receber o aluguel
por que o mundo havia falhado conosco
ambos




trad. Leonardo de Magalhaens






Charles Bukowski







The Tragedy of the Leaves

.
I awakened to dryness and the ferns were dead,
the potted plants yellow as corn;
my woman was gone
and the empty bottles like bled corpses
surrounded me with their uselessness;
the sun was still good, though,
and my landlady's note cracked in fine and
undemanding yellowness; what was needed now
was a good comedian, ancient style, a jester
with jokes upon absurd pain; pain is absurd
because it exists, nothing more;
I shaved carefully with an old razor
the man who had once been young and
said to have genius; but
that's the tragedy of the leaves,
the dead ferns, the dead plants;
and I walked into a dark hall
where the landlady stood
execrating and final,
sending me to hell,
waving her fat, sweaty arms
and screaming
screaming for rent
because the world has failed us
both



.
.

para ouvir



...




Quando me penso morto




penso em automóveis parados
num estacionamento


quando me penso morto
penso em frigideiras


quando me penso morto
penso em você transando com alguém
quando não estou por perto


quando me penso morto
é até difícil respirar


quando me penso morto
penso em todas as pessoas a desejarem morrer


quando me penso morto
penso que nunca mais beberei água


quando me penso morto
o ar fica enevoado


as baratas na minha cozinha
tremem


e alguém terá que jogar
minhas cuecas limpas e
sujas
fora




trad. Leonardo de Magalhaens






Charles Bukowski








when I think of myself dead


I think of automobiles parked in a
parking lot


when I think of myself dead
I  think of frying pans


when I think of myself dead
I think of somebody making love to you
when I’m not around


when I think of myself dead
I have trouble breathing


when I think of myself dead
I think of all the people wanting to die


when I think of myself dead
I think I won’t be able to drink water anymore


when I think of myself dead
the air goes all white


the roaches in my kitchen
tremble


and somebody will have to throw
my clean and dirty underwear
away


 .

 .


para ouvir

.
LdeM
http://leoleituraescrita.blogspot.com/

.

sábado, 7 de maio de 2011

União Democrática dos Poetas






União Democrática dos Poetas




poeta  acadêmico
que não gosta do
poeta  marginal
que não gosta do
poeta  jornalista
que não gosta do
poeta  operário
que não gosta do
poeta  academia-de-letras
que não gosta do
poeta  ator
que não gosta do
poeta  músico
que não gosta do
poeta  estudante-de-letras
que não gosta do
poeta  funcionário-público
que não gosta do
poeta  crítico literário
que não gosta da
poeta  mística
que não gosta do
poeta  marxista
que não gosta do
poeta  religioso
que não gosta do
poeta  metalinguístico
que não gosta do
poeta  sentimental
que não gosta do
poeta  político
que não gosta da
poeta  autobiográfica
que não gosta do
poeta  classicista
que não gosta da
poeta  romântica
que não gosta do
poeta  gramaticista
que não gosta do
poeta  espontaneísta
que não gosta do
poeta  simbolista
que não gosta do
poeta  popular
que não gosta do
poeta  show-business
que não gosta do
poeta  alternativo
que não gosta do
poeta  mainstream
que não gosta do
poeta  punk
que não gosta do
poeta  concurso-de-poesia
que não gosta da
poeta  gótica
que não gosta do
poeta  acadêmico.



Leonardo de Magalhaens