Praga de Brasiliense
Conto-poemas de
Marcos Fabrício Lopes da Silva
Brasília DF
2024
Finalmente em mãos a nova obra do poeta e professor Marcos Fabrício, posso então declarar que é sensacional, um verdadeiro fenômeno a demolir limites entre poesia e prosa, numa carga pesada contra os cidadãos de bens e os parasitas da pátria.
Desde o conto de abertura, e ao longo dos poemas narrativos, as personagens se alternam entre burocratas, desonestos, corruptos, cidadãos feitos de otários, fanfarra dos gananciosos, trupes de funcionários, entre cínicos e deslumbrados, com mil referências às artes brasileiras, de letra e de samba.
Nos textos estão tramas de tessituras vastas, vozes e ecos de Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Jorge Luís Borges, mitologia grega, dentre outros, com uma ironia cortante a denunciar o plano piloto de Oscar Niemeyer e cia. que se tornou hoje um bunker para as elites encasteladas.
Num cinismo digno de um Brás Cubas, o burocrata sem escrúpulos de Niemeyerlândia expõe visceralmente as impressões e preconceitos das elites dos poderes políticos, a serviço dos plutocratas e ruralistas e neopentecostais das igrejas shopping center:
Sou especialista em dar tombo nos outros.
Baseado na minha carreira, garanto: minha vida é um porre nada homérico.
Como bom camaleônico, prefira Sukita. Cicuta é para os socráticos. Molhe a palavra com o uísque presenteado pelo chefe.
Futuro burocrata. Um dia, você terá um caixão cinco estrelas igual ao meu.
É assim que as classes que nos governam se revelam e se desnudam diante dos nossos olhares de cidadãos e cidadãs que não sabemos votar e damos as chaves da República para os demagogos e canalhas de plantão.
Rindo meio às tragédias talvez a gente consiga aprender alguma coisa, neste plano piloto que errou o plano de voo e caiu no mundo zumbi do funcionalismo kafkiano, que ignora o preço do arroz e do feijão.
O preço do arroz
não tem amor por ninguém
Salgado não chega à mesa
doce para o senhor vintém
a cesta básica de vento
nos alimenta de luz
(Caro branco)
Não se admira então os exaltados contra os três Poderes que, manipulados via zapzap pelas forças reacionárias, não hesitam em depredação e vandalismo contra os bens arquitetônicos de Niemeyer.
Não seja um comédia:
Toque o terror.
Jul 25
LdeM
Leonardo de Magalhaens
Escritor, crítico literário
Bacharel em Letras FALE / UFMG
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