quarta-feira, 1 de maio de 2024

Sobre Cartas teixeirenses, ba do autor Erivan Santana

 


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Sobre Cartas teixeirenses, ba

2023

Do autor Erivan Santana

Bahia, Brasil



     Poesia enquanto um diálogo entre textos


       A arte da escrita está intimamente ligada a arte da leitura. Boas leitoras e bons leitores são donas e donos de bons textos. Somos feitos de uma colcha de retalhos de percepções e emoções, somos produto das visões e audições e leituras. Diga- me o que você lê e te direi quem és.....


      A Poesia feita por bons leitores espelha a qualidade das leituras de ontem e hoje. Poetas que gostam de ler - seja poesia ou prosa - mostram em seus textos uma extensa teia de referências e intertextos. Elas ou eles precisam digerir as tantas leituras e derramam tudo no papel ou na tela.


      Assim é a poética do baiano Erivan A. Santana (1965-), autor de Balada da misericórdia na primavera (Lura, 2022), agora nos presentando com suas Cartas teixeirenses, ba (2023) na mesma vibe de poesia referencial e intertextual. São peças poéticas que reverenciam outros poemas e canções e artistas das palavras e das imagens. Também personalidades e políticos e pensadores aparecem nesta imensa teia textual.


    Tudo ao mesmo tempo agora. Encontro de pintores e filósofos, músicos e revolucionários, com suas vidas e seus dramas, suas aventuras e suas desventuras, no mundo da arte e da música e da poesia,


Arendt viu tempos sombrios 

Nas fronteiras do velho mundo 


O poeta olhou para o céu 

: Não era o céu de Van Gogh 


Stravinsky queria o violino vermelho 

Mas era tarde, o mundo 

Já estava em guerra 


(O violino vermelho, p. 82) 


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Van Gogh não conseguiu vender 

Nenhum quadro em vida. Hoje, 

Seus girassóis iluminam este 

Mundo decadente e sombrio 


(O papel de Gutenberg, p. 87)


     Além das referências e intertextos, na sua poética estão explícitos seus medos e sombras da memória, que assombram todos os poetas, aprofundados nesta viagem para dentro, no túnel da introvisão,


Tenho dificuldades em conviver com 

os dias que correm. [...] Resta uma sensação 

de desespero e a soma de todos os medos. 


(A soma de todos os medos, p. 72) 

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À sombra da memória o 

tempo é infinito e onipotente. 

Lembra, mãe, daquela manhã 

em que caminhávamos entre 

fatos e fotos, alegria, alegria e a banda?


(À sombra da memória, p. 73)


     Lembranças e cultura, tudo mesclado na memória afetiva. Canções da nossa MPB são lembradas e registradas com tintas da nostalgia em novos significados dentro do poema; assim o mineiro Clube da Esquina de Milton Nascimento e amigos; sejam os Novos Baianos de Moraes Moreira e Baby do Brasil e Pepeu Gomes.


A esquina é um encontro 

do tempo com as melodias,

a via láctea, o trem azul 

o sol sobre nossas cabeças 

...

(Clube da Esquina, p. 58)


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Esses poetas são íntimos do néctar

das abelhas, do silêncio e da cor do som


Mesmo diante da tempestade dizem que 

Uma bela lua brilha por trás das nuvens

...

E ainda clamam -- não se assuste pessoa 

Se eu lhe disser que a vida é boa -- 

Nos convidando para dar um rolê!


(Não se assuste, pessoa, p. 59)


      Em sua jornada épica para dentro, na percepção da própria Obra, Erivan Santana também fala da própria condição de poeta e da criação poética, este malabarismo de palavras e signos e metáforas e rimas e métricas.


Poetas se iludem no lado escuro da lua com o

Banquete dos signos, esperando a boa nova


(Anatomia da modernidade, p. 32)

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Os poetas são feitos da mesma 

Matéria que os sonhos:

Foi assim que encontrei 

Shakespeare em Brazzaville! 


(Encontrando Shakespeare, p. 25) 

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O verso natural, concreto, pulsante 

Do jeito que somos e falamos

Carne em relevo, sensualidade mor

Retorcendo em delírios e gemidos

No meu e no seu mundo, nada mais 


(Pedra talhada, p. 63)


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 Escute este poema, sinta-o

nas retinas coloridas dos seus 

olhos, toque as letras no papel 

-- Este permanecerá para sempre 

com a liturgia da memória e a 

história de um tempo e lugar 


(Luminares de Atenas, p.23)


      A viagem do poeta Erivan Santana, em Cartas teixeirenses, ba, é um convite para a nossa própria viagem de introversão e autoconhecimento, para as nossas reservas internas de memórias afetivas com miríades de leituras e quadros e canções. Versos que apresentam um mosaico de sons e imagens que reativam nossos próprios arquivos de sons e imagens.  


abr24


Leonardo de Magalhaens

Poeta, contista, crítico literário

Bacharel em Letras FALE UFMG


https://www.facebook.com/leonardo.demagalhaens

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email do autor Erivan Santana 

erivansantana036@gmail.com 

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link para Facebook do autor 

https://www.facebook.com/erivan.augustosantana 


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