segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Poesia densa, direta, bruta, ponto final. TRILOGIA DO POEMA BRUTO. Lecy Sousa

 

 


 

 

 

Trilogia do Poema Bruto


Lecy Sousa


2023

 

Prefácio



        Poesia densa, direta, bruta, ponto final.



        Conhecemos o poeta Lecy Pereira Sousa como um artífice da palavra, um poeta performático que ainda não atingiu as graças da mídia. Lecy Sousa é um poeta que pensa e constrói seus poemas, seus textos, suas crônicas, como performance, ou melhor, são pensados como uma união de sons e gestos, palavras e espetáculo, assim é em suas obras anteriores, PRIMEIRAPESSOAPLURAL (2008) e Rascunhos (2015) e Poesia Fora da Curva (2017), e em Bora lá, Baudelaire, da coleção Flores do Caos, do Selo Starling, em 2022.


        Em Trilogia do Poema Bruto, Lecy Sousa, nos entrega aqui uma poesia densa, direta, sem prolegômenos, sem lero-lero, em suma, bruta. O poeta mesmo confessa que leva um ‘poema bruto’ para ‘a meiga vovozinha’ (p. 55), que o lance é mesmo ‘quebrar tabus’,

"A cidadela aguarda versos crus

Poesia de guerrilha quebra tabus." (p. 10, Parte I)



        Poesia não é só jogo de palavras, ou trocadilhos, ou rimas preciosas. Poesia começa com o jogo, o trocadilho, as rimas e vai para – onde? Pois é. Poesia não só passatempo de um homo ludens [1] , mas uma seta atirada que não sabemos onde ou quem vai atingir. Isso o poeta oferece, Poesia "onde habitam versos sem rumos" (p. 44, Parte II), que vai para onde quer, como se tivesse vontade própria, sem encaixes, rindo de si mesma,


"Esses versos que nunca se encaixam" (p. 29, Parte II)



"Poesia é rio rindo de si" (p.4, Parte I)



"Enquanto o verso se constrói

Em papel rascunho branco" (p. 7, Parte I)






            E de leitura em leitura, o poeta revela e desvela seus toques de ‘intertextos’, Intertexto quando nasce invade o chão” (p. 9, parte I), em várias referências a outros poetas, cultura pop, música, outras artes, numa teia emaranhada de intertextos, com invocações explícitas de Mário Quintana, Raul Bopp, Cruz e Sousa, "Quisera um poema sinuoso tal Cobra Norato" (p. 13) [2], numa busca de versos livres a la Whitman,


"Sonho em poema no deserto

Contanto versos aos cactos florescentes." (p. 11, Parte I)


            É um poeta preocupado com vanguardas? Com pós-modernos? Ou em busca de 'versos simétricos'?, "Será possível tal poesia?" (p. 57), ao contrário, antes um poeta irônico consigo mesmo, autor de 'poesia desclassificada', pois "que poeta é esse que se diz criativo?" (p. 30), numa total problematização do fazer-poesia, do condensar, do canalizar, num escolha constante. Não é qualquer palavra que servirá.


            É Poesia que exige imersão, concentração, dedicação, a ponto de ter que se afundar no oceano de letras, sílabas, palavras,


"Tanta imersão / Fundo tão deep /

Não há como rimar / só mar mais mar." (p.41, Parte II)






mai/22


Leonardo de Magalhaens


poeta, contista, crítico literário

Bacharel em Letras / FALE / UFMG








Notas



[1] Homo Ludens é livro do holandês Johan Huizinga, publicado em 1938.


[2] Cobra Norato, 1931, obra do poeta Raul Bopp, com tendência ao verso livre. 

 

 

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