E aí, falou?
Foi numa festa
que ela me segredou.
Tomou uns drinks
então não enrolou;
pegou-me pela mão,
discreta, não rodeou,
foi direta ao ponto,
cuidadosa assuntou,
lindosa como sempre,
não mais encabulou,
gargalhosa enfim,
(o que me deliciou)
a prosa era boa,
o causo me enlaçou,
aventurosa, disse
tudo o que lembrou,
detalhes ela sabia,
tanto que arrepiou,
e tintim por tintim,
e nem pestanejou,
digamos com certeza,
pintou e emoldurou.
E fiel aos fatos,
e não embelezou,
e sabia de tudo,
não destrambelhou,
disse o que sabia,
enfim a destravou
com a mão no peito
por pouco não sufocou,
e tudo de uma vez,
generosa, derramou,
palavras galopeiam,
já a mim espantou;
o porte de atriz,
mas não nervosou,
sem dramas ou choro,
não se impacientou,
mostrou o que pensava,
não volteou, não bufou,
tinha clareza total –
aqui não alucinou
tinha beleza fatal –
mas não danceteou.
Deliciosa, riu-se,
enfim desvelou
o fio da meada,
o que me encucou,
diante dela, atento,
nunca me chateou,
em tanta narrativa
que assim desandou,
em peripécias mil
logo me anuviou
em sorriso gentil
logo me encantou.
Em tudo pouco atentei,
no causo risadeou,
depois na encenação,
belamente, danceteou,
deitou em falação,
sutilmente, piruetou,
sem fôlego fiquei,
enquanto demorou,
e lenta, ou tristonha,
assim sem-graçou,
então pediu desculpas,
quase se ajoelhou!
Eu é que impedi,
belicosa, me tapeou!
Em tanta mudança
assim me desnorteou;
o causo não avança,
e ela se encucou,
e passou ao delírio,
ali ela embarcou,
deu risos, martírio,
muito se coceirou,
e não mais sabia,
pois embasbacou!
Até que dei o toque,
e ela se norteou,
logo tomou as rédeas,
e se banqueteou,
dadivosa, sem pressa,
todo o conto desatou
então gomo a gomo
o crime desenrolou:
no final, o gordomo
culposo, confessou!
Leonardo de Magalhaens
2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário