quinta-feira, 30 de junho de 2022

Spleen de BH Ásperas Flores by LdeM e Selo Starling

 

 


 

 

 

                                                 SPLEEN DE BH


                                            ÁSPERAS FLORES



                                            Coleção Flores do Caos


                                                     Selo Starling


                                                             2022



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As Ruas – trechos de Spleen de BH


https://www.youtube.com/watch?v=-OCRDhz5iEY





Os Sonhos – trechos de Spleen de BH


https://www.youtube.com/watch?v=1-QOZA9nJZY&t=42s





Os Poetas – trechos de Spleen de BH


https://www.youtube.com/watch?v=R6TzCuq_C8c&t=51s




Epílogo para o Spleen de BH


https://www.youtube.com/watch?v=X0b0YDOhnAs





by LdeM






sexta-feira, 24 de junho de 2022

No Reino do Sonho - conto by LdeM



 

fonte : Sandman by Neil Gaiman


    No Reino do Sonho


    Antes, mais jovem, eu dormia tarde e acordava tarde. Depois que comecei a trabalhar, passei a acordar cedo, então precisava dormir cedo. E assim é. Acostumei-me a acordar cedo. Mas se os horários ficaram mais fixos, a qualidade do sono não necessariamente melhorou.


    É raro que eu consiga dormir direto umas seis horas. Acordo sem ar ou num Pesadelo em plena madrugada. E tenho sessões de Insônia. Vou ler um livro ou ver vídeos, tipo câmeras ao redor do mundo, ou caminhadas turísticas em capitais, metrópoles, cidades históricas. Até voltar ao sono.


    Então, o sono. Quando mergulho no Sono eu adentro o Reino do Sonho, aquele aconchego nos Braços de Morpheus, the Sleepless One, o Insone. É como um ensaio para a Morte, sua irmã mais sábia, que nos concede o Descanso. Tudo isso já faz parte da Existência, a Morte vem com a Vida, e Vida brota da Morte, num ciclo eterno regido pelo Destino.


    Nos Reinos do Sonho. Você pode dar vazão aos seus mais íntimos Desejos em assombrosos e arrepiantes Delírios que a Realidade te nega continuamente. Aqui junto ao Sonho você vê suas ideias germinarem, sua Inspiração desabrochar em Escritos na parede, com línguas de Fogo e gotas de Sangue.


    Seus Desejos inalcançados geram Alucinações e Desesperos como um faminto e sedento entre uma árvore frutífera e uma fonte d’água, como um atleta obstinado que carrega sua pedra até o alto da colina apenas para vê-la rolar de volta ao sopé do monte, onde ele recomeça a carregar, sem descanso, infinitamente.


    Crimes e punições se entrelaçam, beijos e punhais se alternam, promessas e juras são mais voláteis que as Riquezas. Seus Sonhos são inconsequentes, brincam com seus Desejos, todos os homens, todas as mulheres, seres cobiçados e inalcançados, todos os tesouros além do seu toque, todas as montanhas escaladas.


    Lembranças se mesclam às Projeções, Fantasmas de planos abortados, competições nunca vencidas, derrotas sofridas e adiadas. Afetos acariciados e rejeitados. Crenças arraigadas e descartadas. Tudo no caldeirão da bruxa, do mago e dos duendes.


    Sonho te oferece tudo e muito mais. Penumbras de Vidas não vividas, crianças que não cresceram. As realidades alternadas, os caminhos não-trilhados, as possibilidades não realizadas, os muitos outros-eus espalhados pela Linha do Tempo, em Universos Paralelos, Superdimensões oníricas.


    Planetas em guerra, irmãos gêmeos, amantes e amores, sociedades distópicas, tecnologias nefastas, carreiras fracassadas de rockstars, esportistas sem fairplay. Poetas que se materializam e que se desmancham no ar.


    Filmes nunca lançados, acervo dos livros não-escritos, romances que ficaram pela metade, vídeos não editados. Uma porta se abre e você está numa viagem psicodélica qualquer, um evento apocalíptico qualquer.


    Sonho te oferece tudo, é verdade. Mas com a condição de que você rejeite a Realidade, assim como Destruição rejeitou sua Missão, e deixou tarefas para o Destino e a Morte. Em troca da Realidade de realizações e frustrações, de sucessos e fracassos, Sonho te concederá a areia mágica da surreal vida imaginária.



Jun/21



Leonardo de Magalhaens

poeta e escritor,

tradutor e crítico literário

Bacharel em Letras / FALE / UFMG







segunda-feira, 6 de junho de 2022

E aí, falou ?

 





E aí, falou?



Foi numa festa

que ela me segredou.

Tomou uns drinks

então não enrolou;

pegou-me pela mão,

discreta, não rodeou,

foi direta ao ponto,

cuidadosa assuntou,

lindosa como sempre,

não mais encabulou,

gargalhosa enfim,

(o que me deliciou)

a prosa era boa,

o causo me enlaçou,

aventurosa, disse

tudo o que lembrou,

detalhes ela sabia,

tanto que arrepiou,

e tintim por tintim,

e nem pestanejou,

digamos com certeza,

pintou e emoldurou.


E fiel aos fatos,

e não embelezou,

e sabia de tudo,

não destrambelhou,

disse o que sabia,

enfim a destravou

com a mão no peito

por pouco não sufocou,

e tudo de uma vez,

generosa, derramou,

palavras galopeiam,

já a mim espantou;

o porte de atriz,

mas não nervosou,

sem dramas ou choro,

não se impacientou,

mostrou o que pensava,

não volteou, não bufou,

tinha clareza total –

aqui não alucinou

tinha beleza fatal –

mas não danceteou.


Deliciosa, riu-se,

enfim desvelou

o fio da meada,

o que me encucou,

diante dela, atento,

nunca me chateou,

em tanta narrativa

que assim desandou,

em peripécias mil

logo me anuviou

em sorriso gentil

logo me encantou.

Em tudo pouco atentei,

no causo risadeou,

depois na encenação,

belamente, danceteou,

deitou em falação,

sutilmente, piruetou,

sem fôlego fiquei,

enquanto demorou,

e lenta, ou tristonha,

assim sem-graçou,

então pediu desculpas,

quase se ajoelhou!


Eu é que impedi,

belicosa, me tapeou!

Em tanta mudança

assim me desnorteou;

o causo não avança,

e ela se encucou,

e passou ao delírio,

ali ela embarcou,

deu risos, martírio,

muito se coceirou,

e não mais sabia,

pois embasbacou!

Até que dei o toque,

e ela se norteou,

logo tomou as rédeas,

e se banqueteou,

dadivosa, sem pressa,

todo o conto desatou

então gomo a gomo

o crime desenrolou:

no final, o gordomo

culposo, confessou!



Leonardo de Magalhaens


2022