segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

a cidade - poema by LdeM






a cidade 
 

A cidade adoeceu em densos tons de cinza
a cidade enferma na estridência de ruídos

A cidade adoeceu, aí estão os olhares perdidos
braços e pernas a enfrentarem o trânsito

Buzinas ávidas dilacerando o dia-a-dia
novas trombetas ensurdecem o ar fétido

A cidade enferma de gravatas apertadas
de ocultadas tensões em sorrisos de atenção

sufocadas se longe de suas mesas digitais
sem suas cúpulas de ar-condicionado

Cabeças erguidas para vencerem na vida
seguir adiante mesmo se é pouco o fôlego

correr e contorcer e esquecer o dia
como servos fiéis de um ansiado futuro

guiam os passos céleres velhos temores
um susto súbito - o brado áspero

rasga a tarde sufocante esta voz de angústia
rompe o alarido a implorar por piedade







Cegos no êxtase da luz transbordante
olhos vermelhos nos lampejos de mercúrio

faróis alucinados no anoitecer de neón
pupilas irritadas no jogo multicor dos sinais

A cidade enferma de árvores mutiladas
meio aos retorcidos ramos de arame

galhos sintéticos ncimam caules de concreto
sutil leveza envidraçada de mil reflexos







A cidade enferma em sua mortalha de asfalto
onde canteiros exibem raízes pavimentadas

folhas sobrevivem enegrecidos de fuligem
ao lento envenenar dos mil combustores

os monstros de lata com seus relinchos
seguem lotados de corpos amontoados

semblantes fatigados ruminam sonhos adiados
na cidade adoecida de agitação suicida.




abr02




leonardo de magalhaens





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