MARINA
COLASANTI
Mas
o corpo
A
morte chegou naquela casa
com
um molho de chaves na cintura.
tudo
estava trancado a sete trincos
atrás
de espessas portas.
Mas
o corpo do morto
jazia
aberto.
Atrás
das portas de mogno
atrás
das portas de cedro
sedas
damascos
rendas
de Veneza
cortes
de tafetá
e
antigas tramas
defendidos
estavam
com
suas traças.
Mas
o corpo do morto
jazia
aberto.
Atrás
das portas de chumbo
atrás
das portas de aço
espelho
baços
taças
de escuro estanho
e
as salvas as travessas os talheres
prata
marfim e ferro
do
seu forro de feltro
faziam
fecho.
Mas
o corpo do morto
jazia
aberto.
Atrás
das portas de vidro
atrás
das portas de espelho
estampas
papeis pinturas
e
caixas sobre
caixas
e
caixas
barricavam
pendentes
o
casulo do smoking e
as
hibernadas asas da casaca.
Mas
o corpo do morto.
Quando
um colar de pérolas
se
parte
é a morte
é a morte
anunciando
sua chegada.
selado
entre veludos
que
a dura noite do cofre encerra
partido
está o colar.
E
o corpo do homem
o
corpo que foi corpo
e
agora é nada
jaz
sem
sentido ou tranca
enquanto
em
silêncio
tilintam
as chaves.
Roma
2001
...
MARINA
COLASANTI
E
ainda é primavera
A
Morte está rondando o condomínio.
Um
a um cortou o hálito dos velhos,
a
vizinha da frente
o
irritado senhor da casa branca,
o
alemão mais adiante.
Agora
sobe e desce nas ladeiras
cartucheiras
cruzadas sobre o peito
macacão
camuflado de batalha
a
descarnada mão sobre o gatilho.
Uma
tosse
um
lumbago
são
prenúncios que apõem de sobreaviso.
Mas
estamos teimando em resistir
a
poder de xaropes e Pilates,
e
porta alguma cede ao seu coturno.
Os
cães latem comprido quando passa
há um alerta entre as aves.
há um alerta entre as aves.
E
a Dama vai em patrulha nos jardins
com
uma flor incendiando a touca ninja.
Mury
2007
em
: Passageira em trânsito / 2009
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário