quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Trilogia Semiótica - III - A Flor
Trilogia Semiótica
III
A flor
A flor
repousa
na ponta do talo.
A flor
oscila
ao vento outonal.
A flor
acena
com um sinal.
A flor
de plástico
não morre.
A flor
alivia a dor
num quarto de doente.
A flor
girassol
brilha num quadro
de Van Gogh.
A flor
não é apenas
um flor.
A flor
banha-se
ao sol
coberta de fuligem.
A flor
é uma cabana
de perfumes
a abrigar besouros e abelhas.
A flor
é um órgão genital
vegetal.
A flor
é escrita Die Blume
em alemão.
A flor
girassol
de Van Gogh
na verdade
é Sonnenblumen.
A flor
no cabelo da jovem hippie
é mais do que uma flor.
A flor
é uma declaração
de amor.
A flor
é um símbolo
da flor.
A flor
insemina
uma outra flor
na pata da abelha.
A flor
organiza a primavera
do sindicato das flores.
A flor
é branca é amarela
é roxa é furta-cor.
A flor
desbota-se
ao sol
e à chuva.
A flor
vive a discutir
com o espinho.
A flor
deita-se
sob as carícias da brisa.
A flor
é um sorriso aberto
em campo aberto.
A flor
deixa marca
na página do livro.
A flor
habita
um vaso de vidro
de sexta a domingo.
A flor
é um produto
de exportação.
A flor
não merece
ser comparada à mulher.
A flor
no quadro no museu
é uma obra de arte.
A flor
da floricultura
é uma mercadoria à venda.
A flor
no caderno da menina
é um passatempo.
A flor
pede licença
para furar o asfalto.
29mar10
leonardo de magalhaens
.
.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Trilogia Semiótica - II - O Luar
Trilogia semiótica
II
O luar
O luar
banha de luz
os casais na avenida
e no cais.
O luar
é a musa dos violeiros
seresteiros.
O luar
é uma imagem
nos poemas do Bilac.
O luar
é um holofote indiscreto sobre
o beijo dos namorados.
O luar
é apenas o reflexo
da luz solar na superfície lunar.
O luar
contagia
os poetas e os lobisomens.
O luar
apaga
as estrelas do cinturão
de Orião.
O luar
reflete
a silhueta da árvore
na face do taxista.
O luar
ilumina as ruas becos
escuros de corpos morenos.
O luar
é um tema musical
do magistral Debussy.
O luar
revela
um jorro de porra
ou de sangue.
O luar
assombra
um quadro romântico
de Caspar David.
O luar
derramado
sobre amores e olhares.
O luar
mergulha
no mar.
O luar
escorrega
da suspensa bolacha de luz
fatiada
pelos fios de
alta-tensão.
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28mar10
Leonardo de Magalhaens
.
.
trilhas sonoras
.
Beethoven! Moonlight Sonata
.
Debussy! Clair de Lune
.
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terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Trilogia Semiótica - O Mar
Trilogia semiótica
I
O Mar
O mar
é uma foto
na internet.
O mar
de azul
da cor do mar.
O mar
na imagem panorâmica
de uma página da wikipedia.
O mar
de ondas e espumas
de memórias e marés
é uma imagem poética de
Walt Whitman.
O mar
é um ente televisivo
do horário nobre.
O mar
é um cartão-postal
com palmeiras água de coco
e garotas de biquíni.
O mar
é o seio da vida
e o esgoto final dos dejetos.
O mar
é irmão pequeno
do oceano.
O mar
é um grande lago
de sal.
O mar
habita os sonhos
de poeta do mar de morros.
O mar
reverbera
numa antologia de metáforas.
O mar
espelha um sol agonizante
num arrebol de mar.
O mar
brilha azul-breu
ensopado de óleo
de mil petroleiros.
O mar
banha de sal as carcaças
de milhões de naufragados.
O mar
é uma líquida emulsão
de algas e lágrimas.
O mar
é um cartão postal
de viagens futuras.
O mar
é céu azul
antes da tormenta.
O mar
em miniatura
num fundo blue de piscina.
O mar
é um mosaico de
gaivotas de velas brancas
de naus e de ossuários.
O mar
banha a terra de covas
e embalsama os mortos insepultos.
27mar10
Leonardo de Magalhaens
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