sexta-feira, 9 de agosto de 2024

4 + 3 Sonetos by LdeM. Eros & Ágape. 2006. 2024.

 



                                                R. Magritte. Os Amantes. 1928.

                                                Fonte: Internet 


               4 + 3 Sonetos


                  by LdeM


                                 Eros & Ágape


                    2006 & 2024


Soneto dos Amores memoráveis 


Amores formam camadas na mente,

Cada Amor cobrindo o antecedente, 

Mas tal uma camada de poeira,

Que as lembranças sopram de primeira.


Amores se acumulam na memória,

Fixos tal uma decorada história,

E permanecem latentes no peito 

À espera de seus novos eleitos.


Faces lembram faces superpostas,

Perfumes são paixões já expostas, 

Gestos são restos de gestos lembrados, 

Beijos lembram outros beijos negados; 


Promessas de promessas já quebradas,

Dores de Amores que deram em nada.



Mai 06 


LdeM 



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Soneto às Mulheres 


"Diante de uma mulher são só 

garotos"

Leoni 


Mulheres trazem no olhar a presença 

Sutil de um desafio amoroso,

A sedução em gesto silencioso:

Olhares: promessa de recompensa.


Mulheres não conhecem submissão,

Com as suas vontades imperiosas, 

Exigem, com suas poses langorosas, 

A nunca alcançada satisfação.


Mulheres, nossas musas enigmáticas 

Que até já desistimos de entender, 

Por mais que se mostrem damas simpáticas, 


Delas o olhar sempre nos estrangula,

Pois diante do olhar de uma mulher, 

Até o homem genial é uma mula.



Mai 06 

Ago 24 


LdeM 


.: 



Soneto para os Afetos passados 


"A grande dor das cousas que passaram"

Camões 



Ah, a dor dos afetos que perdemos,

A grande ausência tão onipresente,

Da ternura que jamais esquecemos,

Das juras, em carícias tão frementes!


Dormindo e acordando ao teu lado, 

Em teu sono ressonando contigo,

Invejando o teu sonho, encantado 

E curioso, 'Sonhaste comigo?'


Desejos e prazeres jazem mortos, 

Carregamos na mente os funerais, 

Os erros nos caminhos tortos,


Em dores, as torturas sem iguais:

A indagar se amaremos novamente,

Gemendo sob o passado inclemente.



Mai06 


LdeM 





Soneto do Poeta em Terapia 



Eis! Outro soneto a sobreviver 

(Pois ao escrever eu ainda sobrevivo)

Tenho tantas mágoas para esquecer

Quando cheio de pesares eu vivo.


Escrevo por falta d'outro remédio 

(Pois que escrevo como em terapia)

Aqui insone sob os fardos do Tédio 

Vertendo a amargura em poesia.


Escrevo tal um paciente crônico 

(Prostrado num leito, desenganado)

Na solidão, o espírito agônico;


Rabiscando restos de sentimentos 

(Exumados do coração frustrado)

Na lembrança dos saudosos momentos.



Abr 06 

Ago 24 



LdeM 



...





                                                 R. Magritte. O Filho do Homem. 1964.

                                                 Fonte: Internet


Soneto da Graça Eterna 


Soprou em nós o fôlego de Vida 

A Divindade dos Céus e da Terra 

Ao corpo e alma dentro regenera:

Graça da Vida Eterna prometida.


Mãe piedosa geradora da Vida,

Pai justo estende a todos Salvação:

Pois não tem prazer na condenação,

Logo aceitem a Graça oferecida.


Por Amor Deus Excelso se revela 

Em sintonia o Conhecimento:

Ministra Justiça a cada momento!


Plena Misericórdia desvela:

Não vem Dele o mito cruel do inferno!

É Vida: Um Só é o Deus Eterno.



Ago 24 


LdeM 



...



Soneto do Ego inflado 


Ego se acha o centro do universo inteiro, 

Vê o mundo girar ao seu redor!

Ego não em busca de companheiro 

Mas de outro cúmplice menor, 


Outro súdito diante do seu trono, 

Outra serva prostrada em seu altar, 

Outra criatura da qual ser dono,

Outro escravo no qual vai mandar!


Ego se julga eterno possuidor, 

Com a opinião sempre formada, 

Julga como se fosse o Criador!

Ego beija sua fortuna guardada, 


Apegado à sua própria vaidade, 

Incapaz de um gesto de caridade! 



Ago 24 


LdeM 








Soneto do Amor ao próximo 



De que adianta escrever belos poemas,

Se ignoro o próximo com seus problemas?

De que adianta erguer os belos templos,

Se não dedico ao próximo algum tempo?


De que adianta guardar um tesouro 

Sem deixar ao outro nem brilho de ouro?

De que adianta se encher de poder,

Se ignoro que o outro vive a sofrer?


De que adianta se cobrir de vestidos, 

Se deixo o próximo seguir sem sentido?

Fé, crenças, rituais, sem doação?


De que adianta proclamar verdades,

Se tanto dogma não gera caridade?

Antes o amor ao próximo a missão!



Ago 24 


LdeM 



Leonardo de Magalhaens

poeta, contista, crítico literário

Bacharel em Letras FALE / UFMG