segunda-feira, 6 de junho de 2022

E aí, falou ?

 





E aí, falou?



Foi numa festa

que ela me segredou.

Tomou uns drinks

então não enrolou;

pegou-me pela mão,

discreta, não rodeou,

foi direta ao ponto,

cuidadosa assuntou,

lindosa como sempre,

não mais encabulou,

gargalhosa enfim,

(o que me deliciou)

a prosa era boa,

o causo me enlaçou,

aventurosa, disse

tudo o que lembrou,

detalhes ela sabia,

tanto que arrepiou,

e tintim por tintim,

e nem pestanejou,

digamos com certeza,

pintou e emoldurou.


E fiel aos fatos,

e não embelezou,

e sabia de tudo,

não destrambelhou,

disse o que sabia,

enfim a destravou

com a mão no peito

por pouco não sufocou,

e tudo de uma vez,

generosa, derramou,

palavras galopeiam,

já a mim espantou;

o porte de atriz,

mas não nervosou,

sem dramas ou choro,

não se impacientou,

mostrou o que pensava,

não volteou, não bufou,

tinha clareza total –

aqui não alucinou

tinha beleza fatal –

mas não danceteou.


Deliciosa, riu-se,

enfim desvelou

o fio da meada,

o que me encucou,

diante dela, atento,

nunca me chateou,

em tanta narrativa

que assim desandou,

em peripécias mil

logo me anuviou

em sorriso gentil

logo me encantou.

Em tudo pouco atentei,

no causo risadeou,

depois na encenação,

belamente, danceteou,

deitou em falação,

sutilmente, piruetou,

sem fôlego fiquei,

enquanto demorou,

e lenta, ou tristonha,

assim sem-graçou,

então pediu desculpas,

quase se ajoelhou!


Eu é que impedi,

belicosa, me tapeou!

Em tanta mudança

assim me desnorteou;

o causo não avança,

e ela se encucou,

e passou ao delírio,

ali ela embarcou,

deu risos, martírio,

muito se coceirou,

e não mais sabia,

pois embasbacou!

Até que dei o toque,

e ela se norteou,

logo tomou as rédeas,

e se banqueteou,

dadivosa, sem pressa,

todo o conto desatou

então gomo a gomo

o crime desenrolou:

no final, o gordomo

culposo, confessou!



Leonardo de Magalhaens


2022




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