quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Religiões: invasões aliens, vírus lunático ou outras conspirações?

 

 

 


 

  Sobre a obra ficcional-filosófica de Yendis Asor Said,
poeta, pensador e profeta de Contagem / Esmeraldas / MG,
alter-ego e heterônimo do autor Sidney Rosa Dias [1977-]



    Religiões: invasões aliens, vírus lunático ou outras conspirações?


“Este mundo [kósmos], o mesmo de todos os seres,
nenhum deus, nenhum homem o fez, mas era, é e
será um fogo sempre vivo, acendendo-se em medidas
e apagando-se em medidas.”
“o deus é dia noite, inverno verão, guerra paz,
saciedade fome, mas se alterna como fogo, quando
se mistura a incensos.”
                               Heráclito de Éfeso [540-470 a.C.]
 
“Um pouco de filosofia induz a mente humana ao ateísmo,
mas a filosofia profunda conduz a mente humana à religião.”
                                        Francis Bacon [1561-1626]

My Angels and my Demons at war.” [canção Double Agent

1993, by Rush, rock band, Canada]



    Introdução


    Desde o período do Renascimento [séculos 15 e 16] passando pelo Iluminismo [século 18], os pensadores, os filósofos, os literatos, os reformadores têm se detido na questão: qual a necessidade e o propósito das religiões?

    Alegorias, epístolas, tratados, teses, utopias foram escritas para iluminar as mentes e libertar os sectários de seus dogmas. Erasmo de Roterdam, Thomas Morus, Martin Luther [Lutero], Jean Calvino, Nicolau Maquiavel, Jerônimo Savonarola, Montaigne, Pascal, Rabelais, Thomas Hobbes, Francis Bacon, Giordano Bruno, Mirandolla, Galileu, John Milton, Swift, Rousseau, Voltaire, Marquês de Sade, William Blake, Novalis, Shelley, Edgar A. Poe, Charles Baudelaire, todos se debruçaram sobre a presença e a dominação religiosa.

    Qual a necessidade da religião? Uma forma de dar Um Sentido para Viver? Uma forma de apaziguar o medo da morte, da finitude? Uma forma de reverenciar o Mundo, a Natureza? Uma forma de religar [religare] o ser humano às divindades? Uma forma de agradar / servir aos deuses em troca de bençãos, boa caçada e boas colheitas? Uma forma de superar a carência simbólica da humanidade? Uma forma de canalizar a religiosidade / espiritualidade inerente ao ser humano? Uma ficção / alegoria / ilusão a ser superada assim que a civilização se desenvolve e evolui, segundo o psicanalista Sigmund Freud em Futuro de uma Ilusão?


    A força da religião supostamente estaria no transcender-o-aqui-e-agora. Seja num modo platônico, de Mundo das Ideias, de onde viemos; seja do modo teológico, um Paraíso celeste que nos espera após a morte física; ou do modo místico, com uma união do Eu com um Todo, num estado de plenitude, ao fim dos ciclos de encarnação e sofrimento.

    A religiosidade primeva, das culturas nômades, adorava os astros, os elementos, os animais selvagens, os ancestrais, dando oferendas ao Sol ou a Lua, cultuando a Luz, o Fogo, ou a Água, criando cultos em torno das Aves, do Urso, do Búfalo, o Lobo, etc, louvando os espíritos dos pais, dos avôs, dos fundadores da família ou tribo.

    Depois, com o sedentarismo das culturas agrárias, a religiosidade se dedicou às divindades que estariam ligadas aos, ou por trás dos, astros e elementos, então cultuando o Deus do Sol, a Deusa da Lua, o Deus do Trovão, a Deusa das Águas, o Deus do Mar, ou o Deus-Lobo, o Deus-Chacal, o Deus-Urso, através de estátuas e totens, a cada tribo ou nação.

    Por fim, em sociedades plenamente agrárias, estabelecidas, até urbanizadas, a religiosidade se voltou para os ‘criadores’ dos elementos, numa miríade de deuses e entidades, e por fim ao Criador único de todos os Elementos, com o advento do Monoteísmo, desde o faraó Akhenaton, arauto do Deus-Único, as Tábuas e a pregação de Moisés, o zoroastrismo. Assim o deus da chuva, o deus do trovão, a deusa das águas, deus da terra, em suma, todas as divindades foram agrupadas ou abandonadas em prol de um Deus único que criou tudo por ele mesmo. Um deus que não era feito dos elementos, mas fora destes, criador destes. Um Deus que é altíssimo, transcendente, não se confundindo com a Criação, a Natureza.


    Os seguidores humanos vivendo sempre de olhos elevados, em busca da sagrada Morada dos Deuses. Em várias religiões primevas havia a ideia de que os Deuses habitavam em algum Lugas Sagrado. No Monte Olimpo, numa Montanha Sagrada, no alto do Monte Sinai ou Horebe, num Rio que desceu da Morada dos Deuses, assim o Rio Ganges na Índia.

    Quem tem acesso a tais Lugares Sagrados? Quem pode decidir quem será salvo e resgatado e quem será condenado e lançado no Esquecimento? São sempre os sacerdotes, os que vivem nas castas religiosas, que controlam os acessos até as Divindades, os verdadeiros ‘donos de deus’, dos quais Nietzsche desconfiava, com razão. Em Crepúsculo dos Ídolos, “Desconfio de todos os sistematizadores e os evito. A vontade de sistema é uma falta de retidão.” [Máximas e Flechas, 26.]

    Os sacerdotes pretendem normatizar, doutrinar, em códices consagrados, uma Verdade. Eles sabem dominar a linguagem, ou as figuras de linguagem, para manipularem os incultos adeptos. E como hoje os professores de gramática, que tratam a linguagem como um construto acessível apenas a alguns iniciados, os estudantes de Letras, os mestrandos, talvez. Seria uma crença na gramática, que Nietzsche também ironizava: “A ‘razão’ na linguagem: oh, que velha e enganadora senhora! Receio que não nos livraremos de Deus, pois ainda cremos na gramática.” [A ‘razão’ na filosofia, 5]


    Em sua pregação contra a Vida, o mundo do aqui e agora, os sacerdotes adentram a era da decadência: ao desvalorizar a vida e crer num Além, numa ‘Redenção’. É quando é divulgada uma Moral: uma antinatureza – uma negação da vontade. E o que eles entregam em troca? A Salvação – a Vida Eterna no Além. Quem são estes Salvadores? Os ‘melhoradores’ da Humanidade? Devemos ouvir os pregadores se quisermos ter acesso às Divindades.

    O poder dos pregadores, dos sacerdotes, vem do Julgar e Punir : os religiosos se sentem no direito e dever de julgar e punir. E somente o conseguem quando o fiel, o ser humano adepto, internaliza a Culpa e passa a suplicar por Redenção. Sobre esta introspecção dolorosa, Nietzsche cita Arthur Schopenhauer [1788-1860], em Parerga e Paralipomena, 1851,


“O verdadeiro critério para o julgamento de cada homem é ser ele propriamente um ser que absolutamente não deveria existir, mas se penitencia de sua existência pelo sofrimento multiforme e pela morte: o que se pode esperar de um tal ser? Não somos todos pecadores condenados à morte? Penitenciamo-nos de nosso nascimento, em primeiro lugar, pelo viver e, em segundo lugar, pelo morrer.”


    Sabemos que Nietzsche era a favor dos pensadores chamados Pré-socráticos, principalmente Heráclito de Éfeso, de 500 anos a.C., com a noção de Devir – o ser-em-mudança, o mundo em fluxo. Ideias que circulavam bem antes das categorias de Sócrates, Platão e Aristóteles, os pensadores clássicos da Grécia antiga, antes da vitória sobre os persas, com as batalhas do macedônio Alexandre Magno [356 a.C. - 323 a.C.].


    Aconteceu, naqueles três séculos antes de Cristo, a helenização do Oriente Médio, o que veio a ‘pavimentar’ o caminho para a posterior expansão da religião cristã, enquanto Credo dominante, e perseguidor, que, durante o Império Romano, avançou do Mediterrâneo até as Ilhas Britânicas e a Escandinávia, da Rússia até a Península Ibérica, e depois ao Novo Mundo.




    Religiosidade e Religião


    Antes a humanidade era religiosa, vivia em religiosidade, em bem-viver, mas sem exatamente uma ‘religião’, sem uma casta de sacerdotes que ditassem o que é certo, sagrado, e o que é perverso, profano.

    Mas parece que Algo ou Alguém interferiu na vida humana em um dado momento, há mais ou menos dez mil anos atrás. Os arqueólogos também estão atentos a esta datação. Cerca de sete mil anos antes de Cristo. As tumbas, os monumentos funerários, os rituais que os povos passaram a seguir quando lidavam com seus mortos. É seguindo a descoberta de tais monumentos aos mortos que os historiadores da Antiguidade podem ser a rota de migração das civilizações. Desde os grandes rios, desde o Volga, o Indo, o Ganges, o Tigre e o Eufrates, o Nilo.

    Julgávamos os gregos clássicos como os primórdios da nossa civilização. Ilíada e a Odisseia como nossos primeiros escritos literários. Depois começamos a nos deparar com civilizações mais antigas. Os micênicos, os minoicos, os fenícios, os hebreus, os egípcios, os persas, os babilônicos, o sumérios, e assim vai, sempre mais antigos. Bibliotecas inteiras de tabuinhas com cuneiformes ou manuscritos em ânforas em cavernas nas margens do Mar Morto. Descobrimos a Epopeia de Gilgamesh, alguns livros apócrifos, muitas obras herméticas. Recentemente, nos últimos trinta anos, arqueólogos descobriram as ruínas de Göbekli Tepe, um imenso templo, ou vários templos, na região à sudeste de Ankara, Turquia, com datação possível de 12 mil anos atrás.


    Neste momento, nove, ou oito mil anos antes de Cristo, uma necessidade de sistematização da vida religiosa aconteceu. Como povos nômades poderiam dedicar tanto tempo a construção de imensos templos e monumentos? A civilização, com sua divisão de tarefas e trabalhos, possibilitou as construções de templos, santuários, pirâmides e mausoléus.  Arrastar pedras imensas em nome de qual divindade? Quem motivava os povos a criarem tais monumentos religiosos?

    Como surgiu a casta dos sacerdotes? Uma classe clerical que vive dos ritos e cerimoniais que perpetuam os cultos aos deuses ou ao Deus altíssimo. É um grupo de pessoas que não caçam, não plantam, não constroem, não fazem guerra, não administram, mas se dedicam a criar mais narrativas, muitos textos sagrados, e de modo a guiar assim as motivações e ações das demais classes, os que realmente produzem e administram / governam.

    Quem construiu as pirâmides no Egito? Quem ergueu as pirâmides no México? Quem juntou as pedras megalíticas de Stonehenge? Quem ergueu os zigurates? Quem enfileirou carrancas gigantescas [moais] na Ilha de Páscoa [Rapa Nui]? Quem desenhou figuras imensas [geoglifos]  nas areias do Nazca? Que povo decidiu construir uma cidade na montanha, lá em Machu Picchu? Povos nômades? Povos agrícolas? Povos urbanos?


    E quando? Antes ou depois do Dilúvio? A grande enchente, possivelmente ocorrida três mil anos antes de Cristo, que encontramos referida em várias mitologias, desde a sumeriana, a hebraica, a turca, a persa, a indiana. Outra civilização – ou mesmo civilizações! - existiu (existiram?) antes do Dilúvio? Atlântida, talvez não seja uma lenda. Possivelmente, jamais saberemos onde e quando se estabelecia a majestosa civilização atlante. Já era uma lenda na época de Platão, meio século antes de Cristo. Antes da Biblioteca de Alexandria, que reuniria as obras filosóficas, religiosas e herméticas da era antiga.


    Outra civilização mais antiga que a nossa – ou a intervenção de povos alienígenas – com intenções benéficas ou maléficas.  Os ‘antigos astronautas’ ou ‘alienígenas do passado’ vieram para serem adorados e instituírem a religião? Com um objetivo de ajudar na evolução dos povos homo sapiens ou numa forma de manipulação e servidão? Os aliens manipularam a genética humana e criaram gigantes ou figuras titânicas? Alienígenas que vieram em naves do espaço ou em reencarnações sucessivas de um outro plano astral?

    Ou seja, temos mais perguntas que respostas.


    As Palavras de Yendis


    Neste ensaio, em duas partes, trataremos mais detidamente de quatro obras,  A Invasão ou O Nascimento das Religiões; O Apocalipse; A Verdadeira História de Contagem; e O Vírus da Religião, publicadas entre 2011, 2018 e 2021.







    A Invasão ou o Nascimento das Religiões

    Em suas obras, o poeta-profeta Yendis tem uma data certa e objetiva, 8.035 antes de Cristo. Isso mesmo. Dez mil anos atrás, como naquela canção do Raul Seixas [1945-1989], Eu nasci há dez mil anos atrás, de 1976, em co-autoria com Paulo Coelho, inspirada em outra do rei do rock Elvis Presley [1935-1977]. Acontecimentos míticos e místicos, bíblicos e lendários, ou cenas de fábulas, acontecem tendo o cantor-narrador como protagonista ou testemunha. O que nasceu há dez mil anos atrás? O sedutor e rebelde Lúcifer? O primeiro sacerdote? A primeira casta clerical?


    Na obra de Yendis o que aconteceu há dez mil anos atrás foi a invasão de aliens, de outro planeta de nome cabalístico, que de ovos eclodiram em nosso mundo os seres que visavam atuar para submeter e conquistar os povos nativos. Estes seres enviados eram proclamadores de religiões! Se proclamam sacerdote, apóstolo, pastor, bispo até papa!

    O que pretendem? Eles querem dominar os nativos, que vivem em paz em suas aldeias, suas culturas de subsistência, em suas organizações sem castas clericais, agindo maliciosamente através de religiões instituídas, que criam conceitos de Bem e Mal, Virtude e Pecado, e vende a Cura após disseminar o Vírus. Falam em Liberdade depois de escravizarem os nativos. Prometem Salvação depois de implantarem um sistema de servidão.



    A invasão dos religiosas foi bem sucedida. Os servos do Deus altíssimo chegaram e começam a seduzir os povos. Imagine como os padres evangelizaram os celtas irlandeses, os saxões, os normandos, vikings! Como os padres catequizaram os nativos das Américas, os maias, os astecas, os incas, os tupis e outros! Como hoje os evangélicos seduzem os nossos indígenas!


“Religião funcionava desta forma, os aliens entravam escondidos no planeta escolhido e lá infiltravam os seus na sociedade e estes disseminavam cultos, cada qual segundo o povo existiam cinco povos, […] os cinco povos do planeta Clato Verata Nictu, estes movidos pelo simples interesse de dominar o povo e tomar o planeta Terra, naquele ano de 8035 AC há dez mil anos atrás desceram enviados pelos seus líderes e cada um foi encaminhado para seu território devidamente estudado e pronto para ser submetido à religião.” [2011, p. 29]


    Em seguida, aprendemos como  os enviados dos aliens conseguiram se  infiltrar, seduzir, manipular, conspirar e disseminar as seitas religiosas, formar as castas de religiosos, para melhor submeter e dominar os nativos humanos terrestres. É uma profunda crítica aos sacerdotes que nada produzem além de alegorias e dogmas que ‘domesticam’ os povos para seus interesses de domínio. Assim os sacerdotes aliados aos reis, assim os Papas que abençoam os reis e imperadores.


    Abundantes as referências às figuras bíblicas, aos anjos e demônios, às entidades de mitologias semíticas e greco-romanas, aos eventos religiosos e míticos, de lendas e relatos folclóricos, aos monges, aos eremitas, aos sábios orientais, aos gurus, aqui todos são costurados e entretecidos, plagiados e parodiados.  E toda uma linguagem irônica, sarcástica, sem poupar religiosos e leitores. A narrativa vai volta, nas aventuras dos líderes religiosos nos quatro cantos da Terra, num tom de epopeia, de saga oriental, de Texto Sagrado.

    Os enviados pelos ETs conseguem fundar religiões, estruturarem seus domínios religiosos, seus impérios de dogmas e seguidores, mas não acontece como os líderes aliens queriam. Pois ao contrário de manterem os povos pacíficos e submissos, os líderes religiosos querem mais domínios e dogmas, e mais seguidores, e cada religião se diz o centro do mundo, o ‘umbigo do mundo’, o ônfalos, com seu Salvador maioral, com seu contato direto com Deus todo-poderoso.   E assim está declarada a ‘guerra santa’ entre as crenças religiosas.

    No fim o Filho do líder alien precisa vir em pessoa ao nosso amado planeta azul para apaziguar os ânimos e repreender os ambiciosos líderes religiosos que eclodiram dos ovos lá no passado primevo, há dez mil anos atrás. É uma espécie de Messias, ou Jesus filho de extraterrestres, o que é visível escândalo para os dogmáticos da vez, para os radicais e fundamentalistas de plantão. Antes que acusem o profeta de Yendis de herege e anticristo, é preciso analisar as figuras de Jesus e de Cristo separadas.


    A) Jesus aquele homem judeu, profundo espiritualista que ousou afrontar os líderes religiosos judaicos, fariseus e saduceus, mostrando toda a hipocrisia no clero do Templo. B) Cristo uma construção dogmática do apóstolo Paulo em suas pregações, com uma união da figura do Messias judaico com o Logos grego. Que depois foi tecido no dogma da Trindade no século IV d.C. no império romano de Flávio Constantino [272d.C.-337d.C], que legitimou o Cristianismo como religião oficial, e, em seguida, dominante e perseguidora.


    Jesus [Yeshua] veio criar alguma religião? Buda [Budha] veio para criar alguma religião? Sabemos que Maomé [Mohammad] atuou com sua religião de modo a unificar os povos árabes, tanto com uma fé, com uma prática devocional, quanto comunidade, no sentido político. O Islã agrega fé e política, daí seu caráter fundamentalista, de teocracia. Mas quanto a Buda e a Jesus, é possivelmente a forma mais fácil de deturpar o ensinamento de suas conquistas espirituais seria a instituição religiosa, a dogmatização em nome do profeta e do iluminado. Tanto que nem Buda nem Cristo escreveram livros ou doutrinas. E o que Maomé recebeu como revelação foi, segundo ele mesmo, ditado pela divindade. [Assim também com Moisés, ou Moses, que divulgou uma revelação, não uma criação pessoal.]


    Diante das figuras de Buda e de Jesus, a religião, enquanto instituição e dogma, é um engessamento e deturpação do ensinamento religioso do profeta e do iluminado. Em suma, os níveis de religiosidade em Jesus e Buda são diversos daqueles de Moisés e judaísmo, e Maomé e islamismo, e dos dogmas do que se chama hinduísmo. Teocracias precisam da religião para manter os líderes políticos no poder – em nome das divindades.

 

 


 





    O Apocalipse

    Um livro pleno de visões, de alucinações, dignas de um William Blake, um Höderlin, um Novalis, um Lautréamont, um Arthur Rimbaud, mestres do que seria o Surrealismo no século 20.

    Em O Apocalipse o poeta-profeta Yendis a paródia do Apocalipse [Revelação] do apóstolo João, paródias das cartas às Sete Igrejas da Ásia Menor [hoje, Turquia]  – Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sárdis, Filadélfia e Laodiceia –, e as visões das Sete Trombetas e do Dragão e da Besta, as Sete Vozes e os Sete Flagelos, etc e tem ainda as Espadas e os Mortos.

    E quem quer parodiar é preciso conhecer. Assim Blake e as paródias com Emanuel Swedenborg, ou com John Milton. Aqui Yendis mostra que leu e releu o terrível e surrealista Apocalipse-Revelação de São João.


    E segundo o poeta Carlos Drummond, em “Visões”, o apóstolo João “teve todas as visões antes da gente”. E de tal modo que “os surrealistas não puderam com ele.” E Surrealismo aqui como o modo de escrita e criação artística adotado e divulgado pelo poeta francês André Breton [1896-1966] depois da Primeira Grande Guerra [1914-1918].


O Apóstolo São João foi realmente / um poeta extraordinário como igual / não houve depois – / nem Dante / nem Blake / nem Lautréamont


    No próprio poema de Drummond uma imagem surreal: “o crepúsculo sinfônico / pulsando sobre os montes”, mesmo que o poeta mineiro queira ser apenas uma voz prosaica, “Desculpe, São João, se meu Apocalipse / é revelação de coisas simples / na linha do possível.”

    No Apocalipse de Yendis há uma ironização da falta de coerência na Bíblia, com suas imagens desconexas e contraditórias, assim como a inutilidade e insânia de conciliar o Novo e o Velho Testamento. Terceira Espada seria uma sátira com um reality show ?  Os mortos saídos de algum filme B de zumbis ou de um Walking Dead.

    A Besta seria mesmo a religião institucionalizada, a religião burocrática de uma casta sacerdotal – não apenas em Roma – mas erguida nos altares.  “A grande Besta ornava estes seus líderes com ouro e pedras preciosos – e eram guiados por cegos que acreditavam nestes líderes” [2018, p. 48]



    O tom profético do texto é proclamado na própria obra, com sua parte final, As Promessas,

Aqueles que lerem este livro apenas por ler, sem se inspirarem, verão nele apenas uma obra poética, mas aquele que procura descobrir a verdade além de si mesmo, terá neste livro uma infinita fonte de sabedoria, de descobrimentos e de intuições vivenciadas de ordem superior.” [2018, p. 78]

 

    O Apocalipse, o da Bíblia, tem todo um clima de conspiração, uma atmosfera sombria, que causa mais medo e terror do que devoção. É uma imagem dramática de fim do Mundo, um Fim dos Tempos. É a proclamação de um Juízo Final, que vem atemorizar os devotos. Os justos serão elevados ao Paraíso Celeste e os pecadores serão lançado no fogo do Inferno.

    E a Igreja cristã sempre usou o tom ameaçador para conduzir seus rebanhos de crentes, para distribuir a Culpa e condenar o corpo e o prazer neste ‘vale de lágrimas’. É fato, “o cristão condena, denigre e enlameia o mundo”, segundo Nietzsche, que não poupa ninguém na ilusão das religiões. E mais, para o filósofo com o martelo Nietzsche o Cristianismo é uma metafísica do carrasco. [Os quatro grandes erros, 7; Crepúsculo dos Ídolos]



    Nietzsche despreza o cristianismo, mas tem atenção para as crenças orientais, conhece o budismo via Schopenhauer, conhece a tradição persa com o zoroastrismo, que a ele foi inspiração para o seu profeta iconoclasta Zaratustra. O filólogo e filósofo alemão desconfia de todo discurso de Além, de Compaixão, de Sacrifício, de Moral, que afasta o ser humano do ‘viver plenamente’, do viver aqui e agora, sem recorrer às crenças.





[continua na Parte 2]





nov/21


Leonardo de Magalhaens

poeta, escritor, tradutor,
bacharel em Letras / FALE / UFMG




Mais sobre a Obra do autor Sidney / Yendis
em

https://clubedeautores.com.br/livros/autores/yendis-asor-said

http://contagem.mg.gov.br/?materia=951901




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