segunda-feira, 25 de agosto de 2014

2 poemas Beat - Rexroth & Snyder









2 poemas




Poesia Beat





Kenneth Rexroth 


 

EUA, 1905-1982





Lyell's Hypothesis Again

NOVAMENTE A HIPÓTESE DE LYELL

uma tentativa de explicação das mudanças
da formação da superfície da terra por
causas ainda em operação”
subtítulo de “Príncipios de Geologia”, de Lyell

1

As estradas da montanha aqui terminam,
encerradas num precipício cuja ponte
foi varrida pela enxurrada anos atrás.
A primeira cotovia reluz, vermelha,
na primeira mancha de luz de uma manhã
de abril. A corredeira ruge
e crepita qual um baile
militar. Aqui, junto à cabeceira,
a vida insuperável, rubra
do equinócio, ciosa e sentimental,
decai ao mar e à morte.
A veste da simpatia e da agonia
que une a carne em sua túnica de Nessus,
a teia construída de não-ser
e ser, se derrama e pontilha
o leito do sol com setas de flor
como sangue que se tortura sobre
a água rompida ao ar
vibrante. Este Eu, ditado pela tragédia
pessoal e a vastidão
da impessoalidade rancorosa
da ruína e do mundo se arruinando,
descansa nesta imortalidade.
Tão apaixonado, tão apático
quanto a corrente de lava que um dia aqui queimou;
e aqui parou; e disse: 'Até aqui e
nem um passo a mais', e dali em diante
falou na simples dicção da rocha.



2

Nus no ar quente de abril,
deitamo-nos sob as sequóias,
num ensolarado refúgio de penhasco.
Você se ajoelha sobre mim e vejo
pequenas marcas vermelhas em seus flancos
como mordidas, onde as pinhas
pressionaram sua carne.
Acham-se as mesas marcas
no linhito do penhasco
sobre as nossas cabeças. Sequooia
langardoffi antes da glaciação.
E sempivirins após.
Há pouca diferença,
exceto por tantos anos.
Aqui na doçura, no morrente
olor das flores primaveris, lavados,
ossos e destroços unidos,
unidos calmos e nus,
sob esta árvore por um momento,
nós escapamos à amargura
do amor, da perda do amor e do amor
traído. E o que deveria ter sido,
e o que deve ser, caem equidistantes
ali com o que é, deixando
apenas estes ideogramas
impressos ao imortal
carbono da carne e da rocha.


Trad. Alexandre Barbosa de Souza e Sergio Cohn (revista Azougue)

























Gary Snyder


What You should know to be a Poet

O QUE VOCÊ DEVERIA SABER PARA SER UM POETA

tudo que puder sobre animais assim como pessoas.
nomes de árvores e de flores e de ervas daninhas.
nomes de estrelas e o movimento dos planetas
                                                e da lua.

seus próprios seis sentidos, com uma mente atenta e elegante.

pelo menos um tipo de magia tradicional:
adivinhações, astrologia, o livro das mutações, o tarô;

sonhos.
os demônios ilusórios e os reluzentes deuses ilusórios;

beijar o cu do diabo e comer merda,
foder seu calejado pau farpado;
foder a bruxa,
e os anjos celestiais
                                 e as Virgens preciosas e perfumadas -

& então amar o humano: esposas     maridos     e amigos.

jogos de criança, quadrinhos, chiclete,
a bizarrice da televisão e dos anúncios.

trabalhar, longas e áridas horas de trabalho maçante
                                   engolido e aceito
e tolerado e finalmente amado. exaustão,
                                 fome, descanso.
a liberdade natural da dança, êxtase,
a tácita e solitária iluminação, ênstase

perigos reais. riscos. e o gume da morte.


Trad. Luci Collin











fonte: Azougue especial – Poesia Beat – org. Sergio Cohn / 2012










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