segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Só não vá colocar a mãe no meio ! - by LdeM

 



                                                                   imagem: fonte: internet 


Só não vá colocar a mãe no meio!


    I



    Quem guarda as lembranças da família além das mulheres? Elas estão lá no quarto da Avó falando das tias e dos filhos desde o início do século enquanto desfilam as datas de aniversários de filhos e netas. Os homens estão na sala entorpecidos com bebidas e empolgados com o último jogo do campeonato. 


    Pois Luís Lélis de Sales, ou Lelinho para os íntimos, prefere ficar no quarto da Avó enquanto aprende mais sobre as aflições das matriarcas e as migrações dos patriarcas. Pai de duas filhas, ele, desde cedo, aprendeu a entender as falas femininas e as memórias que teciam entre elas.


    Ângela, sua esposa, às vezes achava diferente, até estranho, mas tinha se afeiçoado à família dele e nunca perdiam um evento familiar, nem batismos nem casórios nem velórios. Sempre todos encontravam o casal, com as duas filhas, nos encontros de gerações nas chegadas e partidas.


    Sempre muito calmo, funcionário público tranquilo e ordeiro,  Lelinho não criava caso, muito menos discutia futebol ou política, preferia ouvir do que falar, e não opinava em qualquer polêmica na moda daqueles dias. Por isso todo mundo estranhou a briga no boteco.



    II


    Primeiramente, afinal de contas, o que Lelinho fazia num boteco? Ele que nunca bebia, preferia degustar uma homilia e até ajudava na sacristia! Ou, se bebia, só fazia por companhia nas festas da família. 


    Com a família ele se abria, era solícito e até declamava poesia, mas com estranhos era até tímido.  Só cumprimentava os conhecidos, porque faria parte de roda de briguentos numa porta de bar?


    Não era ainda meio-dia e Lelinho, voltando do posto de saúde, onde buscou uns remédios para Ângela, que sofria com diabetes, parou num boteco, perto da parada de ônibus, e pediu um refri sabor uva. 


    Ninguém sabe explicar como a tal briga começou e nem as circunstâncias.  Se ele tivesse passado meia hora antes ou meia hora depois não teria dado de cara com o indivíduo que desencadeou a crise toda. 


    A verdade é que Lelinho que ouvia dez vezes antes de falar e decorava poesia em vez da escalação da seleção brasileira, se envolveu numa discussão de boteco que vazou pra rua e quase foi para briga de braço e rinha de galos.


    Homem de estatura mediana, saudável e vitaminado, Lelinho não entrava em briga por covardia. Nada disso. É que faltava interesse mesmo em discussão.  Ele preferia anotar e ponderar... dias depois dava a opinião, se necessário fosse. 





                                                                    imagem: fonte: Internet



    III



    Mas a briga aconteceu mesmo. Até vizinhos viram e ouviram. Lelinho entrou num boteco pra comprar um refri sabor uva e na entrada um cidadão esperava um ônibus com os filhos, um casal, quase mocinho e quase mocinha. Uniformes de colégio e com celulares ligados com videogames, com certeza. E ao lado, o pai, alto, magro, de óculos escuros, roupa preta e bota, e também só atento ao celular, enquanto o lotação não dava sinais de aparecer. 


    Lelinho então puxou conversa com as crianças, que, do ponto de ônibus, tinham se assentado numa das mesas do boteco ali na rua. E do movimento o pai, alheio, nem tinha se apercebido. 


    As crianças não fizeram mais do que ignorar o Lelinho que foi falar com o pai, ali ao lado, que não era bom criançada com a cara no celular.  O pai o ignorou simplesmente. O que incomodou o nosso Lelinho imensamente. 


    O pai se limitou a chamar as crianças para perto, sob a sombra da parada de ônibus.  Ele não tinha sequer autorizado que as crianças ficassem na porta do boteco. 


    Lelinho então puxou mais conversa com o homem que não estava para prosa não. Irritado com a demora do coletivo e com a agitação e a desobediência das crianças, o homem se afastou do Lelinho, que se sentiu mesmo menosprezado.


    Quem virava as costas para o Lelinho, pessoa admirada e respeitada na família? Na rua ele se sentia um qualquer.... Como se ele dissesse alguma leviandade ou besteira notória. 


    Mas parece que o homem colocou mulher no meio. Falou alguma coisa sobre tudo ser culpa da mãe das crianças e algo mais pesado. Lelinho ficou indignado com o homem difamando a mãe com as crianças.  E tentou trazer o cidadão ao império da razão.  Em vão.  O homem apelou e colocou a mãe de Lelinho no meio da rua! 


    Aí Lelinho avançou sobre o homem.  Sorte que o homem se jogou de lado e escapou ao golpe. Agarrado ao celular e, já esquecido do ônibus que não aparecia, o cidadão começou a praguejar e difamar as mulheres da família até a terceira e quarta gerações. 


  Lelinho falou que merecia respeito e que chamaria assim as autoridades.  O cidadão agitava o celular como se fosse um sabre e gritava que sim! Faço questão que chame a polícia! E até falava uns troços em estrangeiro, inglês ou espanhol. Seria mais palavrão?


    Quem estava por perto achava que era discussão de política.  Uns defendiam o candidato da situação e outros apoiavam o nome da oposição.  Dois vizinhos passaram de carro e resolveram parar.  Providência divina: resgataram Lelinho daquele tumulto na porta do boteco. 


    O cidadão foi embora, arrastando as crianças, xingando menino e menina, e os ancestrais e os descendentes do pobre Lelinho, que em vão repetia que era funcionário público e merecia respeito.  


    Claro que o episódio logo virou folclore na família e as matriarcas ficaram lisonjeadas com o calmo Lelinho defendendo a honra das mulheres. Todo mundo falava que o homem era até calmo, só não vá colocar a mãe no meio!




Ago 25


LdeM 



Leonardo de Magalhaens

poeta, contista, crítico literário

Bacharel em Letras FALE / UFMG 



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terça-feira, 12 de agosto de 2025

O Aposentado -- conto by LdeM

 


                                            imagem: fonte : Internet


Conto


      O Aposentado 



      I


    Antes e depois de aposentado, sim, é assim que  se divide a vida do professor Júlio Sezar, ex-funcionário público e agora empreendedor. Não de sucesso, mas empreendedor. 


    Vida sossegada de funcionário público, professor de escola pública, burocrata em repartição da Prefeitura, cumpridor de deveres e filantropo em ações de caridade, Júlio Sezar imaginava uma vida ainda mais sossegada nas suas quase 7 décadas depois de deixar a rotina dos horários de expediente.


    Casado com a também professora Dolores, servidora também aposentada, o tranquilo Júlio Sezar não esperava mais do que uma vida nova, de novos hábitos e horários, com sossego e bem-estar familiar. 


    Nos primeiros meses até que a nova vida foi tranquila: acordar mais tarde e mais tempo sob as cobertas. Era umas férias estendida. Mas horários de almoço e banho e janta eram os mesmos. Não sentia falta do transporte público, mas lamentava a ausência dos colegas e das colegas entre causos e crônicas.  


    Tempo passou entre jornais e novelas, programas de auditório, vez ou outra nas missas de domingo, ou visitas aos filhos, um advogado e o outro empresário.  Este, o mais novo, que deu a ideia ao pai: abrir uma empresa. Cuidar de textos, revisão, trabalhos acadêmicos, tradução de obras técnicas ou literárias. O filho mais velho poderia indicar alguns clientes.  Que tal?


    Foi assim que Júlio Sezar começou seu negócio.  Uma sala num prédio de escritórios, na avenida central, poucos quarteirões da faculdade de Economia, uma impressora e dois computadores, máquina de xerox e scanner, pacotes de folhas e formulários... e dois ventiladores. 


    Tudo começa bem e até a esposa ajuda com algumas horas de digitação, mas logo precisam de alguém para se dedicar em horário integral, revisando e digitando, operando xerox e scanner, de modo que recolheram currículos e indicações até chegarem numa das filhas de um cliente do advogado da família. 


    Otimista como sempre foi, o aposentado, agora empresário, Júlio Sezar não hesitou em conseguir empréstimos para maiores investimentos e melhorias no escritório. O primeiro ano passou rápido entre estudantes e trabalhos para editoras independentes. 


    -- A vida começa aos sessenta...



    II



    No segundo ano, segue a crônica, veio a inauguração da copiadora num shopping  de rua, com mais um funcionário.  Cópias, encadernações, apostilas para cursinhos, tradução para literatos da cena local, novos clientes e uma nova rotina. 


    Rotina logo vira parte da vida do mesmo jeito que  foi a vida toda. Quem sempre tem rotina, sem rotina não vive. E na nova rotina o aposentado ficava pouco tempo em casa, justamente o contrário do que imaginava. E do queria a também aposentada esposa que passou a vida toda sem ver o marido. Só um alô ou uma breve discussão na hora de dormir. 


    No terceiro ano, ampliação da copiadora com duas funcionárias, uma delas só para cuidar do caixa. E novos planos para novos clientes e novos funcionários.  Ano que vem outra copiadora.  Por que não?


    Lucro chegava mais, mas sempre menos que os juros de empréstimos. E sempre pouco tempo e rotina mais rotina e repetindo rotina.  Sossego e bem-estar não aparecia. 


    E a mesma tecnologia que era funcional e amiga passava a ser cúmplice da concorrência.  Livros inteiros copiados e disponíveis em arquivos digitais em qualquer celular.  Os estudantes só copiavam em papel o essencial para as provas. E novos clientes preferiam tradutores de inteligência artificial. 




     III



    Planilhas após planilha, Júlio Sezar descuidava da também aposentada esposa e pouco visitava os filhos, que começavam a sentir a falta do pai, o funcionário público sossegado. 


    -- E eu que achava que agora a gente ia viver a  nossa vida...


    Cópia após cópia, rotina e agonia, antes da festa de 70 anos veio o primeiro infarto. O que evitou a primeira briga feia do casal. Uma semana sob observação     e atenção.  Filhos e netas foram abraçar o aposentado num raro momento de sossego. 


    Em longo período de descanso, o filho mais novo passava na copiadora para ver o movimento, sendo os olhos e a voz do pai. Os lucros caindo e os problemas subindo. Só sossego que não aparecia. 


    Não piorava aos poucos.  Era perder mais clientes e assim algum funcionário precisava passar no RH. Revisão e tradução era pouca, só xerox para estudantes e transeuntes, professores e pais de alunos.


    Quando voltou para a copiadora, Júlio Sezar não imaginava o tamanho do rombo. Contratou um contador, dispensou a funcionária do caixa e outra digitadora. Manteve as máquinas de cópias e scanner. Desistiu de ampliações.  Dívidas e juros se empilhavam. Os filhos negociavam com bancos e agiotas.


    Então decidiu acabar com o negócio antes de falir de vez.  Desmontar tudo ou passar o escritório? Novamente o filho mais novo ajudou o pai aposentado.  Conseguiram um empresário interessado.  Nada de edição e tradução.  Seria só copiadora e com alguns artigos de papelaria e uns bibelôs.  A transição foi feita. O segundo infarto foi evitado. 


    Semana passada a família foi reencontrada na missa de domingo e Júlio Sezar apresentou filhos e netas antes de seguirem para um almoço no Mangabeiras.  Estava feliz por encontrar o sossego de aposentado. Não esquecia sua meteórica carreira de empreendedor.  Até se orgulhava. Mas lamentava a rotina que vem após a rotina. 


    -- Hoje voltei para uma carreira que negligenciei a vida inteira: ser um pai atento... e agora um bom avô.  O senhor saiba: não há maior empresa do que a família. 



Agosto 25



LdeM 

Escritor, crítico literário 

Bacharel em Letras FALE / UFMG 


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terça-feira, 5 de agosto de 2025

Sonetos Cristãos by LdeM

 



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Soneto da Graça Eterna 


Soprou em nós o fôlego de Vida 

A Divindade dos Céus e da Terra 

Ao corpo e alma dentro regenera:

Graça da Vida Eterna prometida.


Mãe piedosa geradora da Vida,

Pai justo estende a todos Salvação:

Pois não tem prazer na condenação,

Logo aceitem a Graça oferecida.


Por Amor Deus Excelso se revela 

Em sintonia o Conhecimento:

Ministra Justiça a cada momento!


Plena Misericórdia desvela:

Não vem Dele o mito cruel do inferno!

É Vida: Um Só é o Deus Eterno.



Ago 24 



LdeM 




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Soneto da Paixão 


Salmos 22 (21) e 38 (37)



Senhor, tenha piedade de mim!

Se eu clamar, em dor, quem me ouvirá?

Quem, além do Senhor, vem me salvar?

Não tenho forças, não, em dor sem fim!


Meu gemido não se oculta de Ti!

Desejos são vãos! Vãos! Pesam em mim, 

Tantos que sufocam, rosnam sem fim, 

Acusam dia e noite, assim, sobrevivi.


Senhor, somente em Ti, tenho esperança, 

Meu íntimo se derrete de ardor, 

Humilhado, prostrado, em temor!


Não tarda a chegada da bonança, 

Eis o advento pleno do Teu favor, 

Salvo na Graça digna de louvor!



Abr 25 


LdeM 



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                                 local: Mariana / MG   fonte: internet 




Soneto de Corpus Christi 



Nas ruas as mil cores celebram, 

Imagens sacras, a última Ceia, 

Em serragens, café, cascas, areia, 

Cenas bíblicas, todas relembram.


Pombas em plumas, mais cores vibram, 

Ofertam aos olhares as belezas 

Dos santos Mistérios a riqueza 

Que aos fiéis nas ruas deslumbram. 


Nas praças ondulam as procissões, 

De vozes, rezas, votos, devoções

Prolongam nas ruas as liturgias.


Mil flores... Palmas... Em santa alegria, 

Louvores... Mais salmos... Novas canções 

Celebram a Fé na Eucaristia!



19/20 jun 25 



LdeM 







Soneto aos Evangelhos 



Mateus fala de Jesus aos judeus,

O filho de Davi, O Messias,

Filho de Abraão, O Filho de Deus,

Que no monte proclama as Boas Novas.


Em Marcos o chamado aos Apóstolos,

Os pecadores e os  pescadores;

Junto ao povo, ensinos e perdão;

Do Templo, expulsou os vendedores. 


Lucas os tantos milagres e curas 

Descreve com devoção e louvor, 

Desde a Anunciação à Ascensão. 


João, arauto do Verbo Divino, 

Revela o Criador e Salvador:

O Amor declarado na Redenção. 



Jul 25



LdeM 














A Bíblia contém a Palavra Divina 


Prosa e Poesia, Obra inspirada 

Do Alto aos homens de boa Vontade,

Escrita de Fé e Verdade:

É a Revelação guardada. 


Provérbios, as Profecias,

Os Salmos, os quatro Evangelhos,

Em Testamentos: Novo e Velho,

Divididos pelo Messias. 


A Bíblia contém a Palavra 

Divina, plena, radical,

Soprada direta de Deus:


Testemunho, Credo e Palavra 

Iluminam o essencial:

Cristo é a Palavra de Deus. 



Ago 25



LdeM 





Leonardo de Magalhaens

poeta, contista, crítico literário

Bacharel em Letras FALE / UFMG




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sexta-feira, 4 de julho de 2025

Praga de Brasiliense [2024] novo livro do poeta Marcos Fabrício Lopes da Silva

 




Praga de Brasiliense 


Conto-poemas de 

Marcos Fabrício Lopes da Silva 

Brasília DF 

2024


    Finalmente em mãos a nova obra do poeta e professor Marcos Fabrício, posso então declarar que é sensacional, um verdadeiro fenômeno a demolir limites entre poesia e prosa, numa carga pesada contra os cidadãos de bens e os parasitas da pátria.  


    Desde o conto de abertura, e ao longo dos poemas narrativos, as personagens se alternam entre burocratas, desonestos, corruptos, cidadãos feitos de otários, fanfarra dos gananciosos, trupes de funcionários, entre cínicos e deslumbrados, com mil referências às artes brasileiras, de letra e de samba. 


    Nos textos estão tramas de tessituras vastas, vozes e ecos de Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Jorge Luís Borges, mitologia grega, dentre outros, com uma ironia cortante  a denunciar o plano piloto de Oscar Niemeyer e cia. que se tornou hoje um bunker para as elites encasteladas. 


    Num cinismo digno de um Brás Cubas, o burocrata sem escrúpulos de Niemeyerlândia expõe visceralmente as impressões e preconceitos das elites dos poderes políticos, a serviço dos plutocratas e ruralistas e neopentecostais das igrejas shopping center:


Sou especialista em dar tombo nos outros. 


Baseado na minha carreira, garanto: minha vida é um porre nada homérico.  


Como bom camaleônico, prefira Sukita. Cicuta é para os socráticos.  Molhe a palavra com o uísque presenteado pelo chefe. 


Futuro burocrata. Um dia, você terá um caixão cinco estrelas igual ao meu. 



    É assim que as classes que nos governam se revelam e se desnudam diante dos nossos olhares de cidadãos e cidadãs que não sabemos votar e damos as chaves da República para os demagogos e canalhas de plantão.  






    Rindo meio às tragédias talvez a gente consiga aprender alguma coisa, neste plano piloto que errou o plano de voo e caiu no mundo zumbi do funcionalismo kafkiano, que ignora o preço do arroz e do feijão.  


O preço do arroz 

não tem amor por ninguém 

Salgado não chega à mesa 

doce para o senhor vintém 

a cesta básica de vento

 nos alimenta de luz 

(Caro branco)



    Não se admira então os exaltados contra os três Poderes que, manipulados via zapzap pelas forças reacionárias, não hesitam em depredação e vandalismo contra os bens arquitetônicos de Niemeyer. 


    Não seja um comédia:

    Toque o terror.



Jul 25



LdeM 


Leonardo de Magalhaens

Escritor, crítico literário

Bacharel em Letras FALE / UFMG





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sexta-feira, 27 de junho de 2025

Trovadorescas. poema by LdeM.

 




          Trovadorescas 



                      I


Em distantes terras e dramas, 

Com novos versos e rimas cria 

Os nobres, cavaleiros, monges, 

O Poeta com sagaz maestria.


Damas, senhores, dinastias, 

Em versos e rimas todo um mundo 

Com paisagens, reinos, intrigas, 

Tramas de um enredo profundo.


Donzelas, dragões, guerras santas, 

Nas cruzadas, nobre perde o feudo,

E conquista honras d'além-mar, 

Com vitórias domina o medo. 


Batalhas, combates, duelos, 

Cada lira aumentava um ponto, 

De verso a verso, rima a rima, 

Tecendo as figuras de um conto.


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                      II


Peregrinos cumprem seus votos 

Em penitências e dores 

Sofreram a áspera trilha 

Entre fome, pestes e horrores.


Louvor, salmos, cânticos, hinos 

A cada devoto o seu canto, 

Os corais nas catedrais 

Entoavam um santo espanto.


Os bardos, arautos, poetas, 

Trovadores, homens de versos, 

Cantores, atores, artistas, 

Em cantigas de seu universo.


Vozes fabricam peça a peça, 

No severo rigor do esquema 

Tecendo uma farsa, um conto:

O corpo canoro d'um poema.



Jun 25 


LdeM 



Leonardo de Magalhaens

Escritor, poeta, contista,

crítico literário

Bacharel em Letras FALE / UFMG

BH MG







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