Trilogia Semiótica - III - A Flor

Trilogia Semiótica


III


A flor



A flor
repousa
na ponta do talo.


A flor
oscila
ao vento outonal.


A flor
acena
com um sinal.


A flor
de plástico
não morre.


A flor
alivia a dor
num quarto de doente.


A flor
girassol
brilha num quadro
de Van Gogh.


A flor
não é apenas
um flor.


A flor
banha-se
ao sol
coberta de fuligem.


A flor
é uma cabana
de perfumes
a abrigar besouros e abelhas.


A flor
é um órgão genital
vegetal.


A flor
é escrita Die Blume
em alemão.


A flor
girassol
de Van Gogh
na verdade
é Sonnenblumen.


A flor
no cabelo da jovem hippie
é mais do que uma flor.


A flor
é uma declaração
de amor.


A flor
é um símbolo
da flor.


A flor
insemina
uma outra flor
na pata da abelha.


A flor
organiza a primavera
do sindicato das flores.


A flor
é branca é amarela
é roxa é furta-cor.


A flor
desbota-se
ao sol
e à chuva.


A flor
vive a discutir
com o espinho.


A flor
deita-se
sob as carícias da brisa.


A flor
é um sorriso aberto
em campo aberto.


A flor
deixa marca
na página do livro.


A flor
habita
um vaso de vidro
de sexta a domingo.


A flor
é um produto
de exportação.


A flor
não merece
ser comparada à mulher.


A flor
no quadro no museu
é uma obra de arte.


A flor
da floricultura
é uma mercadoria à venda.


A flor
no caderno da menina
é um passatempo.


A flor
pede licença
para furar o asfalto.



29mar10


leonardo de magalhaens


 .
.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Trilogia Semiótica - II - O Luar






Trilogia  semiótica



II


O luar



O luar
banha de luz
os casais na avenida
e no cais.


O luar
é a musa dos violeiros
seresteiros.


O luar
é uma imagem
nos poemas do Bilac.


O luar
é um holofote indiscreto sobre
o beijo dos namorados.


O luar
é apenas o reflexo
da luz solar na superfície lunar.


O luar
contagia
os poetas e os lobisomens.


O luar
apaga
as estrelas do cinturão
de Orião.


O luar
reflete
a silhueta da árvore
na face do taxista.


O luar
ilumina as ruas becos
escuros de corpos morenos.


O luar
é um tema musical
do magistral Debussy.


O luar
revela
um jorro de porra
ou de sangue.


O luar
assombra
um quadro romântico
de Caspar David.


O luar
derramado
sobre amores e olhares.


O luar
mergulha
no mar.


O luar
escorrega
da suspensa bolacha de luz
fatiada
pelos fios de
alta-tensão.


 .

28mar10

Leonardo de Magalhaens

.
.
trilhas sonoras
.
Beethoven! Moonlight Sonata

 .

Debussy! Clair de Lune

.
.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Trilogia Semiótica - O Mar






Trilogia semiótica


I


O Mar



O mar
é uma foto
na internet.


O mar
de azul
da cor do mar.


O mar
na imagem panorâmica
de uma página da wikipedia.


O mar
de ondas e espumas
de memórias e marés
é uma imagem poética de
Walt Whitman.


O mar
é um ente televisivo
do horário nobre.


O mar
é um cartão-postal
com palmeiras água de coco
e garotas de biquíni.


O mar
é o seio da vida
e o esgoto final dos dejetos.


O mar
é irmão pequeno
do oceano.


O mar
é um grande lago
de sal.


O mar
habita os sonhos
de poeta do mar de morros.


O mar
reverbera
numa antologia de metáforas.


O mar
espelha um sol agonizante
num arrebol de mar.


O mar
brilha azul-breu
ensopado de óleo
de mil petroleiros.


O mar
banha de sal as carcaças
de milhões de naufragados.


O mar
é uma líquida emulsão
de algas e lágrimas.


O mar
é um cartão postal
de viagens futuras.


O mar
é céu azul
antes da tormenta.


O mar
em miniatura
num fundo blue de piscina.


O mar
é um mosaico de
gaivotas de velas brancas
de naus e de ossuários.


O mar
banha a terra de covas
e embalsama os mortos insepultos.



27mar10



Leonardo de Magalhaens